
Foto: Agência Senado
Autor: senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE)
Há uma crise no Brasil de descrédito quase que generalizado quanto à atuação de nossos agentes públicos. Parece que a população já tomou consciência de que campanhas políticas, de onde nascem as promessas, e a realidade depois da posse, são coisas muito diferentes. Condutas e ações, infelizmente, na prática se invertem. As intenções se ocultam na campanha, e os postulantes a cargos eletivos falam com o emprego de uma linguagem enigmática, pouco assimilável pelo eleitor.
Após aquele momento, os eleitores sentem-se como se tivessem sido vítimas de uma fraude eleitoral , ou de uma tramóia política, apenas para ganhar as eleições.
Tenho batido nessa tecla porque quero ajudar na construção de um novo sistema onde a representação política seja a expressão da verdade que fora transmitida ao eleitor durante o período eleitoral.
Em outros tempos era mais fácil enganar aos eleitores. Hoje em dia ficou mais difícil, ou praticamente impossível, lograr êxito com a mentira, seja pela informação política instantânea nas redes sociais, seja pelo acompanhamento permanente das ações da gestão, seja pela transparência que passou a ser lei, facilitando ao grande público a crítica e a cobrança. Sem falar que a imprensa está mais vigilante, participando de uma era mais abrangente de um jornalismo investigativo, que deixa os gestores em situação de permanente alerta e precaução.
Desse modo a democracia se torna mais aberta, fortalecendo o elo entre governantes e governados.
Devo assinalar que o fracasso da gestão administrativa que quase se vulgarizou em todos os rincões do Brasil, deve-se em grande parte a defeitos que se eternizam na estrutura do aparelho de Estado. Seria preciso uma reforma introduzindo novos eixos que assegurem o cumprimento das funções essenciais de Estado como a aplicação de políticas públicas de segurança, saúde e educação, e a construção de redes de proteção social em caráter permanente com o objetivo de reduzir as desigualdades entre pessoas e as disparidades entre regiões e Estados federados.
As garantias dos meios de sobrevivência da população não se traduzem apenas na preocupação com índices de emprego. A ocupação de vagas no mercado de trabalho deve ser uma luta constante de governos e da sociedade civil, mas não se resume a isso.
Há diversos fatores que contribuem para a desconfiança em relação a governos e instituições. Aponto alguns desses: a violência reinante em nosso país e as superlotação nas prisões, que traduzem a fragilidade das políticas de segurança e do sistema prisional; a falta de compreensão das autoridades no combate às drogas, ao não assumir, em relação ao usuário, uma atitude consciente de tratá-lo como um doente, facilitando-lhe o acesso ao sistema de saúde; a corrupção que se tornou endêmica, aumentando o descrédito da classe política; a concentração da maior parte da arrecadação nas mãos da União, em detrimento dos Estados e Municípios, que atingiram o patamar perigoso de quase absoluta insolvência, exigindo uma reforma tributária para redução da carga, e para dividir com equidade os impostos pagos pelo contribuinte.
Em 2018, o eleitor será influenciado por certo, pela propaganda política. Todavia, o eleitor, levado por tantas tentativas frustradas, poderá levar em conta não apenas a garantia de sucesso administrativo a ser prometido na campanha. O eleitor vai pesar a experiência do candidato, a sua honestidade e a sua capacidade de inovação e criatividade. O eleitor está pensativo e desconfiado. Aqueles que conseguirem transmitir uma mensagem de concretude que possa convencer almas e corações, para resolver as coisas aparentemente complexas como a segurança pública, saúde, educação e emprego, e souberem se colocar no lugar do povo que sofre as consequências da corrupção e da má gestão, serão os escolhidos para o novo tempo que está por vir.
O povo sempre está atrás do novo, de um novo projeto, de um novo programa, mas não repudia os mais velhos que surjam com novas ideias para tirá-lo do sufoco e da decepção em que vive.
A longevidade bem sucedida, que avança e acompanha a modernidade, é uma fonte segura de renovação de métodos e ações. A renovação é um estado de espírito que é sempre bem vinda ao aperfeiçoamento da democracia, e ela se encontra numa sociedade sem preconceitos, na cabeça de pessoas de todas as idades, e dos que lutam para melhorar a vida do povo.
* Artigo originalmente publicado no site de notícias FaxAju em 13/11/2017