Autor: Caio França (PSB-SP)
Deputado estadual
Tivemos que alterar substancialmente o nosso jeito de nos comunicar, comportar, consumir e relacionar. De forma determinante, é certo que muitos dos novos hábitos adquiridos neste período venham para ficar
Na semana passada fiz a leitura de um artigo da Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV, ex-diretora de Educação do Banco Mundial, além de ex-ministra e ex-secretária de Estado. Em seu texto, minha atenção foi atraída pelas transformações que a sociedade começa a experimentar a partir das mudanças que a Covid-19 nos impõe: a valorização de profissões que sempre foram essenciais à humanidade, como a do médico e a do professor, por exemplo, porém muitas vezes sem o devido reconhecimento e investimento na formação desses profissionais.
Claudia cita que a Covid-19 parece funcionar como uma “aceleradora de futuros”, atuando tanto para o bem quanto para o mal. Relata que só o tempo poderá nos mostrar o resultado dessas mudanças. Realmente tivemos que alterar substancialmente o nosso jeito de nos comunicar, comportar, consumir e relacionar. De forma determinante, é certo que muitos dos novos hábitos adquiridos neste período venham para ficar.
Acompanhar esse bonde, sem perdê-lo, passa também pela nossa capacidade de reinvenção, afinal, sempre temos algo novo a aprender, a melhorar em nossas habilidades, desenvolver potencialidades e expandir conhecimentos. Quebrar paradigmas e dominar a tecnologia serão, talvez, a garantia da manutenção do seu posto de trabalho.
O fato é que vivenciar uma pandemia nunca será uma experiência boa e muito menos desejada. A história está aí para ser contada e revisitada com outras doenças nos séculos passados. Ela deixa marcas profundas no seio familiar com a perda de parentes e pessoas queridas, traz sofrimento e desolação.
Numa outra perspectiva, gera perdas materiais e financeiras, leva à falência e ao desemprego. A necessidade da quarentena trouxe ainda mais pobreza para um País que já sofria com a dificuldade da retomada do crescimento econômico. Foram 90 dias em casa, excluindo os serviços básicos, para diminuir o risco de contágio da doença, mas também para que os governos pudessem estruturar a saúde pública.
Uma saúde que há décadas sofre com o subfinanciamento. Esse foi o tema de audiência pública realizada pelo nosso mandato parlamentar há um ano, na Câmara de Santos, abordando os desafios do nosso sistema de saúde pública. Ocasião em que fizemos um diagnóstico da falta de leitos, dos problemas da CROSS (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde) e evidenciamos o desequilíbrio de investimentos do Governo Federal e a necessidade cada vez maior da utilização da fonte de recursos dos tesouros estaduais e municipais para suprir uma responsabilidade que cabe, na verdade, à federação.
Essa disparidade tem que acabar. Esse pode ser sim um legado deixado por essa doença. Não podemos estar daqui a 10 anos contando a mesma história. Existem leis que regem a obrigatoriedade de investimentos a cada ente federativo e instâncias cobradoras desses deveres.
Recentemente também apresentei o projeto de lei n. 361/20, que dispõe sobre a obrigatoriedade de divulgação de listagens de pacientes que aguardam remanejamento e vagas ambulatoriais e hospitalares pela CROSS na rede pública do estado de São Paulo. A finalidade é dar transparência à lista de espera de exames e cirurgias por meio de um sítio eletrônico em que todos possam acessar e acompanhar o status do seu agendamento.
Dar visibilidade e transparência às informações é dever do Estado e a LAI (Lei de Acesso à Informação) foi uma grande conquista da sociedade neste sentido. Assim, seguindo a linha de raciocínio de que esse vírus possa acelerar o futuro e a revolução tecnológica, temos que trabalhar para que seja por um País menos burocrático, menos desigual e mais justo em oportunidades.
Não tenho dúvidas de que a vontade do povo brasileiro de vencer a doença e dizimar as máculas deixadas por ela é muito maior que as atuais perdas e derrotas. Vamos conseguir virar esse jogo com prudência e responsabilidade, dentro do nosso ‘novo normal’, respeitando o distanciamento social, as medidas de higiene e proteção por meio de uma retomada gradual e segura das atividades econômicas.
A Baixada Santista, por meio do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista, que reúne os prefeitos dos nove municípios, tem demonstrado planejamento e maturidade regional na tomada de decisões conjuntas a respeito do novo Coronavírus.
As dificuldades existem, algumas informações se desencontram, ideias divergem, afinal são nove cidades, nove gestores políticos com populações dotadas de características e peculiaridades diferentes, mas que têm em comum o mesmo desejo e a mesma vontade de dizer: nós vencemos!
Para que este dia chegue brevemente, continue fazendo a sua parte. Se puder, fique em casa, e no caso de sair, faça somente o necessário e retorne ao lar.
* Artigo originalmente publicado no jornal A Tribuna em 10.6.2020