
Foto: Palácio do Planalto
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, há um ano, o presidente Jair Bolsonaro realizou pelo menos 41 eventos com aglomeração de pessoas no Palácio do Planalto, como posses de ministros, lançamento de selo postal até almoços comemorativos.
O levantamento feito pelo Estadão mostra que as solenidades reuniram centenas de convidados, a maioria sem máscaras, contrariando o isolamento e o uso do item indispensável para evitar a propagação do vírus, ações eficazes defendidas pelos organismos de saúde.
Dia após dia o país registra novos casos e mortes, já ultrapassando 300 mil óbitos nesta semana e 12 milhões de contaminados. Muitos Estados registram colapso na saúde com falta de UTIs, médicos, oxigênio e medicamentos para intubação. Enquanto isso, o mandatário segue boicotando as medidas de combate à Covid-19, sem uso de máscara de proteção e, nos discursos, defende o “tratamento precoce” com medicamentos sem eficácia comprovada. Além disso, Bolsonaro já afirmou em várias ocasiões que quem busca se proteger é “maricas”.
Um desses eventos ocorreu no dia 23 de fevereiro deste ano. Na ocasião, cerca de 300 prefeitos, vereadores e assessores se aglomeraram em um dos salões do segundo andar da sede do Executivo. No mesmo dia, o país registrou 1.370 novas mortes e um saldo total de 248.646, segundo informações do consórcio de veículos da imprensa.
No dia seguinte, cerca de 400 pessoas participaram da posse do ministro da Cidadania, deputado João Roma (PL-BA), e do titular da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni. Também sancionou a lei que deu autonomia ao Banco Central. Bolsonaro estava sem máscara. Naquele dia foram mais 1.433 mortes, de um total de 250.079.
Bolsonaro também promoveu reuniões políticas que não são descritas como “eventos” na agenda oficial. Um almoço com parte da bancada de Minas Gerais no Congresso e o governador do Estado, Romeu Zema, apoiador do governo federal, foi realizado no dia 3 de março. Uma foto tirada por um deputado presente mostra quase todos sem máscara, num momento em que não estavam comendo.
No último domingo (21), no momento mais grave da pandemia, o presidente comemorou seu aniversário de 66 anos com centenas de apoiadores aglomerados em frente ao Palácio do Alvorada. Ele aproveitou para fazer um discurso atacando governadores que tomam medidas restritivas para tentar conter o avanço da crise sanitária.
As cerimônias contrariam até orientações do próprio Ministério da Saúde. Em março de 2020, início da pandemia, a pasta divulgou recomendações para que fossem cancelados ou adiados os eventos em locais fechados com mais de cem pessoas. No mês seguinte, passou a defender o uso de máscaras nos espaços públicos.
No fim de fevereiro deste ano, em uma transmissão ao vivo nas redes sociais, Bolsonaro criticou o que chamou de “efeitos colaterais” do uso da máscara contra a Covid-19. “Começam a aparecer estudos aí, não vou entrar em detalhes sobre o uso de máscaras. No primeiro momento, uma universidade alemã fala que elas são prejudiciais a crianças”, disse ele.
Em seguida, passou a ler em uma folha de papel sintomas que teriam sido apontados no estudo mencionado. Entre eles, irritabilidade, dificuldade de concentração, diminuição da percepção de felicidade, recusa de ir para escola, vertigem e desânimo.
Muitos funcionários da Presidência já contraíram a doença. Segundo a Secretaria-Geral, até fevereiro, foram 454 contaminados. Ao menos um morreu, que atuava no gabinete de Bolsonaro.
Segundo epidemiologistas, reuniões presenciais em ambientes fechados são a principal forma de propagação do vírus. Uma única pessoa infectada pode contaminar entre 20 e 30 outras, dependendo das condições do local, aponta o epidemiologista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Lotufo.
PSB contra aglomerações
Em junho do ano passado, poucos meses após o início da pandemia, quando diversas manifestações em defesa da democracia eram realizadas pelo país, a direção nacional do PSB solicitou aos seus filiados e apoiadores que não participassem.
Em nota assinada pelo presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, intitulada “Ainda não é hora de tomar as ruas”, o partido reconhecia o desejo da população de protestar contra a escalada autoritária e a irresponsável condução do governo federal ante à pandemia, mas constatou que “não estamos, no entanto, em um momento normal para tais manifestações, sendo necessário ponderar suas consequências”.
“Inicialmente, não se pode afastar as limitações sanitárias impostas pelo momento agudo de disseminação do novo coronavírus no Brasil. Realizar grandes aglomerações deve piorar a progressão da doença, algo preocupante diante da flagrante fragilidade da atenção à saúde”, destaca o texto que segue em consonância com a situação atual.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional com informações do Estadão