O porta-voz e coordenador-geral da Rede Sustentabilidade no Estado de São Paulo, Celio Turino, teve a missão de fazer a segunda Fala Inspiradora do 1º Encontro Programático PSB-Rede Sustentabilidade, que as duas siglas realizam nesta segunda-feira (28) em São Paulo.
Historiador e titular da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (MinC) entre 2004 e 2010, Turino foi o idealizador do programa Cultura Viva, que abriga o projeto dos Pontos de Cultura, marca da gestão de Gilberto Gil na pasta. Ele defendeu no encontro o mesmo sonho de colocar em prática o desejo de descentralizar a gestão cultural no país, com a prioridade sempre focada na expressão dos valores da cultura nacional.
Celio Torino também fez questão de compartilhar sua fala inspiradora com o cineasta Sílvio Tendler, recém-filiado ao PSB do Rio de Janeiro e, de acordo com ele, das pessoas que mais têm contribuído para a cultura brasileira, por meio de sua filmografia.
O historiador buscou na carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, Dom Manuel I, quando do descobrimento do Brasil, a sua inspiração. Segundo ele, é a nossa certidão de nascimento, que traduz o primeiro encontro entre os povos europeus e os índios do Brasil – um encontro simbólico e cujo espírito, já de comunhão de culturas, ele considera resumido neste parágrafo da Carta:
“E além do rio andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante os outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então para a outra banda do rio Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavém, o qual é homem gracioso e de prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem fez ali muitas voltas ligeiras, andando no chão, e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito. E conquanto com aquilo os segurou e afagou muito, tomavam logo uma esquiveza como de animais montezes, e foram-se para cima”.
Segundo Celio Turino, este é um dos melhores exemplos de que foi a cultura, a mescla de diferentes culturas, o amálgama que nos transformou nesse povo que somos hoje. “Essa ‘liga’ se deu pela cultura e não foi por acaso que Eduardo Campos nos destacou hoje, aqui, a importância da transversalidade das ações que um governo precisa ter, pensando o todo sempre por meio de suas diversas áreas”, ressaltou. “Isso é a cultura, porque ela diz respeito sobretudo ao cultivo, ao cuidado, à jardinagem que temos que fazer conosco e com as outras pessoas com quem convivemos”.
Para o historiador, a cultura é tudo, ela transpassa nossa vida. “A cultura não sai de dentro de cada um de nós. Essa é a busca que começamos neste encontro de hoje entre PSB e Rede e a partir dela é que poderemos resgatar uma série de ações, como o movimento de cultura popular de Pernambuco, incentivado pelo avô de Eduardo Campos, Miguel Arraes”, relembrou. “Os círculos de cultura e a Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, nasceram disso. Um dos grandes desafios que temos como povo brasileiro agora é estabelecer entre nós – Rede e PSB e sociedade – que é intolerável convivermos com o analfabetismo”.
Para Turino, isso é inadmissível num país com a dimensão e a riqueza cultural do Brasil, que busca tecnologia e sustentabilidade mas, ao mesmo tempo, aumentou seu número de analfabetos em 300 mil no ano passado (2012). “Este foi o grande fracasso da nossa política social na última década. É impensável sermos um país com os resultados – econômicos, tecnológicos e sociais – que mostramos atualmente para o mundo, porém, mantendo mais de 15 milhões de analfabetos”, afirmou.
Ele também defendeu que os jovens que, atualmente, são obrigados servir o Exército durante um ano, possam ser aproveitados nesse período também como agentes jovens de cultura, ambientais, “agentes de uma juventude que pode se formar como cidadãos atuantes nesse processo”. Segundo ele, em 20 anos seriam 20 milhões de pessoas que teriam, de fato, se dedicado a cuidar do seu povo, por meio de atuações em escolas, hospitais, museus, comunidades carentes, etc. “O grande foco para o desenvolvimento da cultura é o sonho. Para se mudar uma realidade, primeiro se sonha – e é isso que eu espero que tenhamos daqui pra frente em nossa agenda”, concluiu.