
Foto: Humberto Pradera
As transformações das cidades, das formas de trabalho e da sociedade por meio da criatividade, da inclusão e da inovação foram os temas abordados, nesta sexta-feira (22), no painel Reforma Urbana Criativa realizado no Seminário Internacional Economia Criativa como Estratégia de Desenvolvimento, promovido pelo PSB e pela Fundação João Mangabeira (FJM).
A administradora pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ana Carla Fonseca, foi uma das painelistas e abordou a automação do trabalho no século 21. Segundo ela, cerca de 54% da população mundial mora em meio urbano. Qualquer lugar nas cidades pode ser um potencial ambiente de trabalho para 42,5% dos trabalhadores globais, que não precisam de um escritório físico para exercer sua atividade.
“Pode-se trabalhar na cafeteria, na praça, porque hoje nós conseguimos fazer isso pelo celular, pelo tablet, com uma rede de internet. A automação vai cada vez menos poupar os trabalhos criativos e de inteligência social”, disse.
Apesar da revolução industrial ter trago um grande desenvolvimento tecnológico, a especialista afirma que as pessoas estão vivendo numa “sociedade do cansaço”. Elas trabalham, estudam, cuidam dos filhos, dirigem, fazem diversas atividades, mas ao final do dia sentem como se não tivessem feito metade das ações que queriam.
Essas pessoas se sentem culpadas e essa auto-exigência de desempenho tem desencadeado as duas doenças do século: a ansiedade e a depressão, aponta a especialista. Para ela, a superação dessas doenças deve ser feita por meio da conexão social, ou seja, a relação entre pessoas numa cidade.
Ana Carla ainda informou que, atualmente, 70% dos profissionais que são contratados por sua capacidade técnica são demitidos por não saberem trabalhar em equipe e lidar com outras pessoas. “Quando chegamos nesse novo padrão de tecnologia, não podemos deixar de pensar no ser humano”.

Foto: Humberto Pradera
As pessoas entendem as cidades criativas – ou inteligentes, ou empreendedoras, ou sustentáveis – como sendo espaços nos quais algumas poucas pessoas farão a diferença. Entretanto, a economista e doutora em Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP) destaca que “criativo é o cidadão, não a cidade”. “A gente não vai mudar nada se continuarmos pensando na meia dúzia de pessoas que saírem turbinadas da faculdade de Design. A gente precisa pensar no conjunto da sociedade e trabalhar esse cidadão”, disse.
O fundador e membro dos órgãos sociais do Porto PostDoc, de Portugal, Carlos Martins, destacou em sua apresentação o trabalho territorial que realiza voltado para o norte daquele país e divulgou experiências exitosas.
“O desafio da minha empresa é encontrar relações nesse território nos âmbitos social, cultural e econômico, entendendo que essas dimensões são complementares e é impossível pensar nelas separadamente”.
O Porto PostDoc é um festival de cinema de projeção internacional realizado desde 2014 na cidade portuguesa de Porto, que celebra o cinema contemporâneo, a música e as manifestações populares sobre esta arte. Em 2019, será realizado de 23 de novembro a 1º de dezembro.

Foto: Humberto Pradera
Martins também fez uma análise histórica do surgimento da indústria criativa e explicou que, em 2013, a Comissão Europeia de Direitos Humanos fez uma revisão deste conceito. Dessa forma, as mais diversas atividades como artes plásticas, literatura, música, design, arquitetura, serviços associados à produção cultural, comunicação, entre outros, passaram a fazer parte de uma grande economia criativa multissetorial.
Coautor do Plano de Gestão do Centro Histórico do Porto, patrimônio mundial da Unesco, Martins informou ainda que a Europa investirá 1,46 mil milhões de euros (o equivalente a R$ 6,3 bilhões) em economia criativa de 2014 a 2020 por meio do Programa Europa Criativa.
Entre os exemplos citados de eventos, ações e atividades socioculturais desenvolvidas em seu território, Martins ressaltou o trabalho realizado como diretor-executivo da Capital Europeia da Cultura, em 2012. O objetivo deste evento é a promoção de uma cidade da Europa, por um período de um ano durante o qual são mostrados a vida de sua população e seu desenvolvimento cultural, permitindo um melhor conhecimento mútuo entre os cidadãos da União Europeia.
“Esse é o maior evento cultural da Europa, com 365 dias de atividades e duas mil iniciativas. Naquele ano, o projeto popular foi feito na cidade de Guimarães, ao norte de Portugal”.
Já o urbanista e autor do livro “Cidades sustentáveis, cidades inteligentes”, Carlos Leite, abordou Medellín, na Colômbia, como exemplo de urbanismo social criativo.

Foto: Humberto Pradera
Nos anos 90, ela era a metrópole mais violenta do mundo. Em menos de 30 anos, a cidade recebe constantemente prêmios por ser a mais inovadora da América Latina e do mundo por usar o tripé educação, cultura e urbanismo como estratégia de desenvolvimento. Para combater a violência, o município aumentou o investimento em cultura de 0,6% para 5% do orçamento anual e, em educação, de 12% para 40%.
“Tudo isso só foi possível por uma série de ações feitas no alto dos morros onde viviam as comunidades dominadas pelos narcotraficantes e sem a presença do Estado, dentro de uma estratégia de uma cidade com políticas públicas intersetoriais e territorializadas”, explicou.
Mas, para Leite, o sucesso do programa permanece até os dias de hoje porque a essência das políticas urbanas de inclusão social de Medellín são continuadas por outros governos, mesmo sendo de outras correntes político-partidárias.
Segundo o especialista, é preciso que os governantes superem o passado de seus antecessores e deem continuidade às boas iniciativas de transformação. “Na América Latina, cada prefeito que chega ao poder fala que não quer ‘cuidar do filho do outro’ e isso é uma tragédia. Todas as ações, programas, políticas públicas interessantes são jogadas fora. A gente tem que dar continuidade e promover cidades mais inclusivas e criativas”, criticou.
Para ele, não há possibilidade de se falar em uma cidade bem desenvolvida se não for pela promoção de uma sociedade criativa e inclusiva socialmente.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional