A sociedade pós industrial, ou a era do conhecimento, que tem a Economia Criativa como setor mais dinâmico, não eliminou as atividades das etapas anteriores: a agricultura, a indústria, as finanças, o comércio. Elas continuaram existindo, mas foram todas envolvidas pelas inovações da ciência, tecnologia e pela comunicação digital. Praticamente, não existe mais nenhum setor econômico inteiramente desassociado da TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação e suas derivações como IOT- Internet das Coisas ou AI – Inteligência Artificial.
Ocorre que o “negócio” que surgiu como fator de modernização da sociedade industrial tornou-se maior do que os negócios aos quais “servia”. Como algumas agencias de publicidade, por exemplo, tornaram-se maiores do que alguns dos seus clientes industriais.
E a Economia Criativa, que engloba as atividades de cultura, design, software, pesquisa em ciência e tecnologia, nano-tecnologia, bio-tecnologia, trasformou-se no setor mais dinâmico da economia. Vai do artesanato aos softwares. E tem o talento e a criatividade, que são, de certa forma, infinitos, como principais insumos, mais importantes, portanto, que terra, minérios, máquinas, matérias-primas agrícolas. Assim, passamos da lógica da escassez, comum a todas as teorias econômicas, à lógica da abundância, ainda insuficientemente estudada.
Isso tudo ocorreu para o bem e para o mal: facilitando a vida das pessoas, mas destruindo postos de trabalho, democratizando o acesso à cultura e à educação, também exigindo maior qualificação para os novos trabalhadores, mudando para melhor as condições de trabalho, mas aumentando a distância entre salários e lucros.
As relações do poder e da política também estão se transformando em incrível velocidade na “sociedade em rede”. Segundo o sociólogo espanhol Manuel Castells, essa sociedade surgiu da “transição da comunicação de massa para intercomunicação pessoal” e reorganizou o poder em todos os níveis. Seja o antigo e, em parte, ainda predominante “poder macro do Estado e das grandes corporações da mídia, seja o poder micro de todos os tipos de organização”.
Mas a Economia Criativa desenvolveu-se, basicamente, dentro da lógica do capitalismo. Venceu a economia socialista mais forte do século XX, a URSS, no terreno da criação de marcas de consumo universal e na produção de objetos tecnológicos, para consumo popular.
Agora, no mundo socialista, a China está correndo atrás do prejuízo e investindo pesado em educação, tecnologia, design e também de uma economia verde e sustentável. É a segunda maior economia do mundo movendo-se na direção de um socialismo criativo. A China tem sido capaz de garantir as linhas básicas de uma sociedade socialista – planejamento, controle social de grandes empresas estatais (mais de 300), educação, alimentação e saúde num grau elevado de igualdade – criativamente associada à livre iniciativa e ao capitalismo moderno, decorrente da anexação à China socialista dos territórios de Hong Kong, Macau e da criação dos ZEES – Zonas Econômicas Especiais.
Mas esse é o socialismo criativo chinês. Diferente e inimitável. Dirigido por um partido único, o PCC – Partido Comunista Chinês, com mais de 87 milhões de membros.
No Brasil, assim como na América Latina, para nos integrarmos à nova era do conhecimento e da Economia Criativa, será preciso começar a trabalhar teórica e politicamente no grande desafio de construir um modelo de socialismo democrático do século XXI, que mantenha o seu DNA igualitário e humanístico, mas se adapte às novas formas de produção, admitindo que, para superar o capitalismo criativo, só com um socialismo igualmente criativo.
O nosso socialismo criativo deverá se constituir na dimensão humana do desenvolvimento das forças produtivas e da revolução tecnológica. A favor do trabalho, da vida e da liberdade.
Este é o nosso objetivo de longo prazo: a construção de uma sociedade socialista, democrática, sustentável e baseada no respeito à diversidade política, cultural, racial e de gênero.
Para que isso seja conquistado democraticamente em processos eleitorais e de mobilização da sociedade, precisamos cumprir etapas de curto e médio prazo no âmbito da sociedade capitalista brasileira, visando desenvolver a economia criativa, modernizar a política, inclusive, a nossa militância socialista.
Autor: Domingos Leonelli, integrante da Executiva Nacional do PSB, idealizador do site Socialismo Criativo e presidente do Instituto Pensar.