O Secretário de Comunicação do Partido Socialista Brasileiro do Estado do Rio de Janeiro (PSB-RJ), jornalista Léo Malina, esteve em Cuba a convite do governo cubano, realizando uma série de reportagens sobre a ilha, suas transformações e perspectivas para o futuro.
Cuba aposta no turismo com o Brasil
Delegações de 53 países participam da Feira Internacional de Turismo de Cuba (FITCUBA 2013), iniciada na terça-feira, 7 de maio, no balneário cubano de Varadero. O Brasil é o país homenageado nesta edição e o objetivo do governo cubano é incentivar o turismo de brasileiros ao país, facilitando o acesso e barateando os custos. A delegação brasileira é comandada pelo ministro do Turismo, Gastão Vieira.
Em seu discurso, o ministro de Turismo de Cuba, Manuel Marrero Cruz, anunciou a abertura de um escritório da Empresa Cubana de Turismo no Brasil. “Já estamos providenciando a volta dos vôos da empresa Cubana de Aviação para o Brasil, iniciando com a rota São Paulo-Havana. E temos a preocupação de baratear o preço das passagens”, afirmou Manuel Marrero Cruz.
Também presente ao evento, o representante da Organização Mundial do Turismo (OMT), Carlos Voegler, discorreu sobre as mudanças no cenário internacional do turismo. Segundo ele, a China hoje supera os Estados Unidos em número de turistas que viajam para o exterior.
O setor turístico em Cuba atinge mais de 20% na composição do PIB. No Brasil, em 2012, o setor só alcançou 3,7% do PIB, apesar de todas as atrações que o país oferece. O governo brasileiro, entretanto, está tomando medidas para melhorar esse quadro, com o Plano Nacional de Turismo, lançado recentemente pela presidente Dilma Roussef. “Seremos num futuro próximo, até 2022, a terceira economia em turismo”, disse o ministro brasileiro Gastão Vieira.
Mais de 70 empresários do setor turístico, agentes de viagens, hoteleiros, representantes dos países convidados e cerca de 40 jornalistas brasileiros participam do evento. Com a abertura política e a solidariedade existente entre Brasil e Cuba, a feira internacional ganha um caráter especial, com contornos culturais e até ideológicos.
Patrimônio histórico
Havana transpira turismo e cultura. Construída no século XVII, com arquitetura barroca predominante, a cidade foi declarada, pela ONU, Patrimônio Histórico Mundial. Havana antiga está sendo restaurada e ganhará novos sistemas de saneamento e abastecimento de água.
A Revolução Cubana preservou aspectos culturais da região. Restaurantes inaugurados no início do século passado continuam em funcionamento, conservando os mesmos costumes de atendimento ao público. Na capital de Cuba, a violência é quase zero e não há engarrafamentos, pois as condições econômicas impedem que cada cidadão possua um veículo.
Em compensação, a frota de transporte coletivo é eficiente e confortável. Há transportes alternativos, como triciclos, capazes de levar até três pessoas em trajetos de pequenas distâncias. A maioria dos táxis data das décadas de 1950 e 1960, mas muitos têm motores modernos movidos a óleo diesel.
As praças e avenidas são amplas, com espaços para crianças e pedestres. No centro de Havana, é comum encontrar estudantes realizando atividades físicas em ambientes públicos.
O primeiro país do mundo em controle do analfabetismo
Se é verdade que o fim da Guerra Fria causou a fragilização do socialismo real no âmbito mundial, também o é que o exemplo educacional cubano segue forte na condução de um modelo educacional público, universalizado, gratuito e de qualidade.
A Unesco, em seu relatório mundial sobre educação em 2011, fez uma radiografia do sistema cubano e explicitou por que o país é um exemplo concreto para o mundo de uma educação exitosa.
O artigo 205 da constituição cubana garante a educação pública, gratuita e de qualidade para todos os seus cidadãos, independentemente da posição socioeconômica.
Mas é o artigo 39 que chama mais atenção, quando afirma três princípios básicos revolucionários de uma educação de qualidade: garantia de avanço na ciência e na tecnologia; referencial marxista e martiano de ser social que se pretende formar; demarcação da tradição pedagógica progressista cubana e universal.
Juntos, os dois artigos explicitam o teor do público-gratuito-de qualidade: o posicionamento político que garante o direito à reflexão crítica e à formação continuada, com centralidade dos gastos do governo em educação.
Com uma população de 11.247.925, Cuba conta com 2.193.312 de alunos matriculados em suas 9.673 escolas públicas, que têm 298.508 professores e 170 mil bolsistas. Do total de estudantes, 908 mil estão em escolas semi-internas. Segundo os dados oficiais referentes a 2010 e 2011, 85.757 cubanos formaram-se no período, sendo 23,4% em cursos técnicos, 31,4% em ciências médicas, 14,9% em pedagogia, 9,9% em economia e 20,4% em outras áreas.
A participação em cursos de pós-graduação merece destaque. Em 2010, havia mais de 500 mil cubanos matriculados em cursos continuados após a graduação. Além disso, Cuba recebe em suas escolas vários filhos da classe trabalhadora latino-americana, tanto para cursos da área de Ciências e Humanidades, quanto de Ciências Médicas.
O governo cubano garante esses direitos graças a uma política de gastos fortemente voltada para as necessidades da população: 30% do PIB cubano, que é de U$ 60 bilhões, são investidos em educação, saúde e garantias sociais.
Com uma política concreta de educação pública de qualidade, Cuba aparece, nos dados comparativos da ordem mundial burguesa, como o primeiro país em controle do analfabetismo. Cuba tornou-se exportadora do modelo de alfabetização “sí yo puedo”, em que, com recursos didáticos magistrais, ensina como ler nas letras o que já se lê no cotidiano.
Será o exemplo cubano um mero acaso? Um caso especifico? Ou será a confirmação da incompatibilidade entre desenvolvimento do capitalismo e pensamento crítico, com educação pública universalizada e princípios políticos claros sobre o ser social que se deseja (trans) formar?