O documentário Hijos de las nubes – la última colonia será exibido nesta quinta-feira (21), no Museu da República, no Rio de Janeiro, a partir das 19h. Produzido e protagonizado pelo astro espanhol Javier Bardem, e dirigido por Álvaro Longoria, o longa-metragem relata o drama de mais de 35 anos de exílio do povo saarauí. A exibição faz parte da programação da Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20. O Partido Socialista Brasileiro (PSB), por meio da Fundação João Mangabeira, instalou stand do povo Saarauí no evento. Lá o visitante pode obter mais informações sobre a atual situação dos saarauís com o embaixador em missão no Brasil, Hamdi Bueha. A tenda está localizada no Aterro do Flamengo, ao lado da CUT.
Motivado pela invasão truculenta, por tropas marroquinas, do acampamento de Gem Izik, na cidade de El Aauín (capital da República Árabe Saarauí Democrática), na noite de 8 de outubro de 2010, Javier Bardem decidiu empreender uma viagem rumo ao Muro da Vergonha, a fronteira que separa o Reino do Marrocos da República Saarauí. A experiência acabou resultando numa indagação do ator sobre suas próprias raízes. Durante sua estada no campo de Tindouf, ocorreu a chamada “primavera árabe”, que reacendeu a esperança do povo saarauí pela conquista de sua soberania.
Já reconhecida por todos os países da União Africana e por 88 países no mundo, a República Saarauí ainda luta por sua libertação – é, portanto, o último exemplo da luta dos povos africanos por independência. O território está ocupado desde 1882: primeiro pela Espanha e, desde 1975, pelo Marrocos.
Embora localizado no deserto do Saara, o país possui terras férteis e águas territoriais ricas em pescado, além de reservas de fosfato, minério de ferro, terras raras, gás e petróleo.
O Reino do Marrocos se recusa a cumprir o que foi acordado com a ONU em 1991, e vem impedindo a realização do referendo de autodeterminação do povo do Saara Ocidental. Como consequência de sua intransigência, Marrocos é hoje o único país excluído da União Africana, que reconhece a soberania saarauí.
Enquanto o impasse permanece, acumulam-se denúncias de violações de direitos humanos praticadas no território por autoridades marroquinas. Exemplo disso é a luta de Aminetu Haidar. Bacharel em literatura, mãe de dois filhos e hoje presidente do Coletivo Saarauí de Direitos Humanos (Codesa), Aminetu Haidar, nascida em 1966, é um símbolo da resistência sarrauí e da luta de seu povo pela independência. Sua primeira detenção ocorreu em 1987, quando Haidar participou de uma manifestação pacífica que exigia o referendo pela independência saarauí. Detida sem acusação ou julgamento durante quatro anos, Haidar foi submetida a torturas e humilhações, juntamente com outras 17 militantes saarauís.
Sempre perseguida, ela foi condenada pela justiça marroquina a um cárcere de sete meses, em Al Aaiún. O processo, marcado por irregularidades, suscitou a reação do Parlamento Europeu, que exigiu formalmente sua libertação. Em 13 de novembro de 2009, Aminetu foi novamente presa, ao chegar a Al Aaiún em voo procedente de Nova York. Expulsa do território, permaneceu por várias semanas no aeroporto de Lançarote, Espanha, onde iniciou uma greve de fome e recebeu o apoio de diversas personalidades, como os artistas espanhóis Pedro Almodóvar, Javier Bardem e Penélope Cruz, e os escritores José Saramago, Gunter Grass, Mario Vargas Llosa, Dario Fo e Carlos Fuentes. Além disso, Haidar recebeu moção de solidariedade do parlamento português e a intervenção da diplomacia espanhola, em busca de uma solução para o caso. Estrelas internacionais do esporte, como o franco-argelino Zinedine Zidane e o brasileiro Romário, também têm apoiado a causa de Aminetu e de seu povo.
Em sua luta pelos direitos do seu povo, a “Gandhi saarauí”, como foi carinhosamente apelidada, recebeu diversos prêmios internacionais, tendo sido indicada para o Prêmio Nobel da Paz. Hijos de las nubes, é mais um instrumento dessa luta, só que por meio da arte e da poesia, e não das armas de fogo. Com imagens fascinantes e impactantes, a obra conduz o espectador das raízes do conflito até a dramática situação atual de paralisia e abandono da última colônia da África.