
Tal descaso é visto na declaração do presidente Jair Bolsonaro, nesta quinta-feira (6) durante sua live semanal noturna, quando o país está na iminência de atingir os 100 mil óbitos. “Vamos tocar a vida”, comentou, ao lado do ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello. Ele ainda aconselhou que se busque uma maneira de “se safar” da doença.Na live, Bolsonaro voltou a defender o uso da hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada cientificamente para o tratamento da Covid-19. De forma irresponsável, como já fez outras vezes, o presidente exibia uma caixa do remédio sobre a mesa.
O Brasil é o segundo país com o maior número de mortos pela Covid-19 – atrás apenas dos Estados Unidos, que já contabilizam mais de 160 mil casos fatais. A Índia, terceiro país da lista, tem pouco mais de 40 mil óbitos. Segundo a Reuters, o planeta ultrapassou a marca dos 700 mil mortes por coronavírus na última quinta-feira.
Também na quinta, durante cerimônia no Palácio do Planalto, ele afirmou estar com a consciência tranquila e que fez “o possível e o impossível” para salvar vidas.
Entretanto, vale ressaltar que até o momento, após quase seis meses desde o início da pandemia no Brasil, o governo não possui um plano nacional de combate. Pelo contrário, Bolsonaro continua estimulando e reafirmando sua posição contra o isolamento social, medida eficaz recomendada pelas organizações internacionais de saúde para combater a doença.
A única ação vista foi de governadores e prefeitos que, diante da ausência de uma coordenação nacional, têm adotado medidas locais para tentar conter a disseminação do vírus em seus Estados. Decretos assinados têm determinado o fechamento de comércios e escolas, o uso obrigatório de máscaras, fases de lockdown e de reabertura de atvidades.
Ainda assim, na live, Bolsonaro insistiu em criticar os gestores estaduais, os chamou de “ditadores” e disse que eles tomaram esse tipo de medida “na mão grande”.
Outras declarações
No início da pandemia, Bolsonaro usou o termo “gripezinha” para se referir à Covid-19, minimizando os efeitos e subestimando o perigo da doença.
Em 24 de março, num pronunciamento em rede nacional de televisão, afirmou que “pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria acometido, quando muito, de uma gripezinha ou resfriadinho”.
A 29 de março, após passear por Brasília, causando aglomeração, Bolsonaro disse que o vírus deveria ser enfrentado “como homem, não como um moleque”.
No dia 20 de abril, o presidente respondeu que não era coveiro quando foi questionado por um jornalista a respeito das 2,5 mil mortes que o país registrava na data.
Em 28 de abril, durante uma entrevista na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro questionou uma repórter sobre o que ela queria que ele fizesse em relação às mortes por Covid-19. Naquele momento, o Brasil tinha acabado de ultrapassar em mortes a China, primeiro epicentro da pandemia.
“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, disse, em referência ao próprio sobrenome.
Em 7 de maio, quando o país estava às vésperas de chegar a 10 mil mortes pelo novo coronavírus, Bolsonaro disse que faria um churrasco no sábado seguinte, no Palácio da Alvorada. Depois, algumas pessoas que afirmaram terem sido convidadas para o churrasco disseram que o evento havia sido cancelado. No sábado, 9, Bolsonaro afirmou que o churrasco era fake news, apesar de ter sido anunciado por ele mesmo. Naquele sábado, o Brasil chegou a 10 mil mortes e Bolsonaro saiu para passear num lago de moto aquática.
No início de junho, o presidente disse que que a morte “é o destino de todo mundo”, que “o vírus é uma coisa que vai pegar em todo mundo” e que não tinha conhecimento de mortes causadas por falta de UTI ou respiradores.
Em 7 de julho, Bolsonaro confirmou que havia sido infectado pelo novo coronavírus e se isolou no Palácio da Alvorada, tomando hidroxicloroquina, sob prescrição médica. Na semana seguinte, ele fez um novo teste e voltou a ter resultado positivo. O presidente ainda teve mais um resultado positivo, divulgado no dia 21. Dois dias depois, passeou de moto na área interna do Palácio e parou para cumprimentar, sem máscara, os funcionários que faziam a limpeza do local.
Em 25 de julho, anunciou que havia feito mais um teste e o resultado deu negativo. Após divulgar que estava curado, saiu de moto por Brasília e disse a repórteres que não teve nenhum sintoma desde o começo e que não saberia que tinha contraído o vírus se não tivesse feito o teste. No entanto, ao anunciar o primeiro resultado positivo para a Covid-19, o presidente disse que tinha apresentado febre de 38 graus, mal-estar, cansaço e dor no corpo.