Por meu povo em luta,vivo.
Com meu povo em marcha, vou.
Tenho fé de guerrilheiro e amor de revolução
Dom Pedro Casaldáliga
O Partido Socialista Brasileiro – PSB manifesta profundo pesar pelo falecimento do bispo emérito Dom Pedro Casaldáliga, aos 92 anos. Espanhol, instalou-se Mato Grosso em 1970, sendo o primeiro bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia.
Dom Pedro foi uma das maiores referências práticas e teóricas da Teologia da Libertação, tendo neste campo o mesmo relevo de nomes como Frei Betto e Dom Paulo Evaristo Arns.
Missionário, evidenciou e combateu a preponderância do latifúndio sobre a vida, além da exclusão dos cidadãos pobres das decisão relativas às terras que ocupavam, e ao modo de vida que desejavam ter. O “bispo do povo” foi um militante pela Reforma Agrária, das causas indígena, quilombola e ecológica, além de clamar por uma igreja menos galvanizada pelo Vaticano.
Enfrentou, igualmente, a repressão promovida pela ditadura militar nos territórios em que desenvolveu seu sacerdócio, tendo atuado na defesa de seu rebanho nos conflitos agrários existentes no Mato Grosso e na Região Norte – em grande parte decorrentes de um modelo de ocupação territorial totalmente atrasado, que tem se baseado no trinômio desmatamento, boi e soja.
Suas ações e opiniões fortes – produziu de forma intensa, transitando pela poesia, pela escrita jornalística, além de textos propriamente teológicos, como a carta pastoral aberta intitulada Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social – fizeram com que figurasse na lista dos mais censurados do jornal O Estado de S. Paulo, entre 1972 e 1975.
No pontificado de Papa João Paulo II foi “convidado” a prestar esclarecimentos sobre suas opiniões. Roma o advertiu, em outras oportunidades, de que seu discurso era “explicitamente subversivo” e que ultrapassava “todos os limites da prudência e da oportunidade”.
A saúde extremamente debilitada não o afastou de seu apostolado e manteve a promessa de jamais abandonar São Félix do Araguaia, em que vivia na mesma casa simples de sua chegada à região na década de 1970 – apesar de estar há três anos em cadeira de rodas e comunicando-se com muita dificuldade.
Os que o visitavam e compartilhavam sua perseverança na luta pela justiça, afirmavam que sua força e determinação permaneciam íntegras em seu olhar. Morreu como viveu, absolutamente fiel à luta pelos direitos humanos, sereno em sua fé, e pregador da paz e justiça.
Por isso mesmo afirmou: “Ser o que se é. Falar o que se crê. Crer no que se prega. Viver o que se proclama. Até as últimas consequências”.
Dom Pedro Casaldáliga, o bispo do povo, fará muita falta ao Brasil, que ainda sofre de muitos dos males que combateu em vida
Carlos Siqueira
Presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro – PSB