Segundo dados divulgados nesta sexta-feira (7) pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, as áreas com alerta de desmatamento na Amazônia aumentaram 34,5% de agosto de 2019 a 31 de julho deste ano.
O valor registrado no ano anterior (agosto de 2018 até julho de 2019) já havia sido superado no início de junho.
De agosto de 2019 até o dia 31 de julho deste ano, houve alerta de desmatamento de 9.205 km² de área da floresta, uma área seis vezes maior que o tamanho da cidade de São Paulo. Entre agosto de 2018 e julho de 2019, esse número tinha ficado em 6.844 km².
Apesar dos dados divulgados pelo Inpe mostrarem que houve diminuição do desmatamento no mês de julho (27%), em relação ao mesmo mês do ano passado, período com o maior desmate já registrado em todas as séries históricas do Instituto, os números seguem sendo alarmantes: 1.500 km² devastados em 30 dias.
Em nota, o Greenpeace Brasil apontou que o alerta de desmatamento equivale a 1.195.454 campos de futebol e chama atenção para o modo como desmatamento é concentrado em áreas específicas, dando indícios de um esquema organizado.
“Passando a boiada”
“O mundo não aceita mais danos ambientais. O Brasil, literalmente, está passando a boiada. O governo desmontou todas as estruturas de fiscalização. Precisamos de planejamento territorial e de políticas públicas mais eficazes. Não há solução mágica”, afirma o coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista do Congresso Nacional, Rodrigo Agostinho (PSB-SP).
Com os dados divulgados na manhã desta sexta-feira foi possível fazer a primeira análise de um período que teve gestão exclusiva de Bolsonaro, já que os dados do ano anterior analisaram também parte do governo de Michel Temer. Mesmo com a presença do exército na região não houve recuo da destruição que foi iniciada ainda nos primeiros meses da gestão de Bolsonaro.
O claro descontrole do governo brasileiro em relação ao desmatamento da Amazônia gerou forte pressão internacional e fugas de investimentos.
A falta de ações concretas de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, e a insistência de Bolsonaro em afirmar que vários países já desmataram suas florestas para se desenvolver, estão gerando repercussão mundial e já levaram à paralisação do Fundo Amazônia, por exemplo, projeto que recebe doações bilionárias da Noruega e Alemanha para alimentar ações de proteção à Floresta.
Como tentativa de reparar os danos causados à sua imagem, o governo acionou a Garantia da Lei e da Ordem, ação que levou os militares para a Amazônia em maio, pela segunda vez, já que foram enviados à floresta em agosto de 2019 quando os níveis de desmatamento atingiram níveis alarmantes.
O recente trabalho dos militares, operação Verde Brasil 2, parece não ter obtido resultado satisfatório já que o desmatamento e as queimadas bateram recordes.
Análise de dados
Os dados divulgados hoje são produzidos por satélite e fornecidos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). A análise, que não é oficial, mas é usada como parâmetro, tem como objetivo alertar a fiscalização, feita pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) para auxiliar no combate a crimes ambientais que estão acontecendo em campo.
A taxa oficial anual de desmatamento na Amazônia é calculada considerando o período de seca, que vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte. Dessa maneira é possível pegar o acumulado de destruição da floresta levando em conta os ciclos de chuva e seca, desmatamento e queimadas. Ela é apresentada em relatório do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), também do Inpe. Os dados são divulgados na metade do segundo semestre de cada ano.
Ambientalistas afirmam que historicamente os dados do Deter não são só confirmados, quando o relatório do Prodes é gerado, como costumam ser tristemente ampliados.