O líder da Oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB), condenou o ataque do presidente Jair Bolsonaro à Alta Comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos, Michelle Bachelet. Em discurso na tribuna da Casa, nesta quarta-feira (4), o socialista disse que o país não pode aceitar que a defesa do Estado de Direito seja transformada em “disputa ideológica”.
Molon classificou a postura do presidente como “repugnante” e mostrou preocupação pelo fato de o episódio ter ocorrido há menos de cinco dias da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Para o socialista, Bolsonaro não respeita os limites mínimos de civilidade e tolerância, o que afeta de forma negativa a imagem do país no plano internacional e envergonha seus concidadãos.
“Hoje o presidente da República é visto, cada vez mais, como alguém intolerante e intolerável. É assim que ele chegará à abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas: como alguém com um comportamento repugnante. Não é disso que o Brasil precisa”, afirmou.
“O Brasil precisa de um presidente da República que tenha postura de presidente e que consiga superar divergências menores, unir os brasileiros e ter um papel construtivo no mundo, e não um papel destrutivo, um papel de desrespeito, um papel de intolerância, que é o que vem sendo manifestado por ele”, criticou.
Molon comparou a postura de Bolsonaro com a do presidente chileno Sebastian Piñera que, mesmo sendo adversário político de Bachelet, não a tratou como “inimiga”, ao condenar as declarações de Bolsonaro sobre a ex-presidente chilena.
“Vejam que o presidente Sebastián Piñera consegue distinguir o que é disputa política e ideológica do que é respeito e tolerância, do que é civilidade. Ele é adversário de Bachelet, ele é adversário do partido de Bachelet, mas não tratou Bachelet como inimiga”, afirmou.
“O presidente da República do Brasil não consegue entender que quem pensa diferente não é um inimigo a ser exterminado, é um adversário político, o qual se deve confrontar com ideias, e não com ataques pessoais”, completou.
Em nome da Oposição, Molon pediu desculpas ao Chile pela manifestação “agressiva, vergonhosa e lamentável” do presidente da República do Brasil. “Não queremos que isso afaste os nossos países, os laços entre brasileiros e chilenos”.
Perguntada em uma coletiva em Genebra sobre democracia e direitos humanos no Brasil, Bachelet disse nesta quarta-feira (4) que houve “uma redução do espaço democrático” no país. A ex-presidente do Chile se referiu a “ataques contra defensores dos direitos humanos e restrições impostas ao trabalho da sociedade civil”. Bachelet, que foi presa e torturada durante a ditadura em seu país, também falou sobre o aumento de violência policial, especialmente no Rio de Janeiro.
A resposta de Bolsonaro foi rápida e incluiu uma menção ao passado da alta comissária da ONU e sua família. Em sua conta no Twitter, o presidente afirmou que “se não fosse o pessoal do [Augusto] Pinochet derrotar a esquerda em 1973, entre eles o seu pai (de Bachelet), hoje o Chile seria uma Cuba”. Para Bolsonaro, a alta comissária da ONU está “defendendo direitos humanos de vagabundos”.
“O presidente da República não aceita qualquer crítica que se faça a qualquer país aliado seu ou ao Brasil, mesmo se de fato for algo que nós precisamos melhorar. Este é o papel de uma comissária de direitos humanos da ONU: apontar violações de direitos humanos, onde quer que elas ocorram. A ex-presidente do Chile não merece esse tratamento. Esse tratamento é incivilizado”, criticou Molon.
Leia a íntegra do discurso:
O SR. ALESSANDRO MOLON (PSB – RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Obrigado, Sr. Presidente. Cumprimento V.Exa. e cumprimento os demais colegas, as Sras. e os Srs. Parlamentares.
Presidente, hoje foi um dia extremamente triste e vergonhoso para o Brasil pela manifestação, que ultrapassou qualquer limite de civilidade e de respeito humano, do Presidente da República sobre a Alta Comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos e ex-Presidente do Chile Michelle Bachelet. Isso é motivo de extrema vergonha. É tão vergonhoso e tão baixo o que o Presidente da República fez, que ele obrigou o seu aliado, o Presidente atual do Chile, Sebastián Piñera, a vir a público manifestar o seu repúdio às declarações do Presidente Bolsonaro, deixando claro que ele não compactua com a fala desrespeitosa, agressiva, violenta, baixa do Presidente da República do Brasil.
É muito ruim para qualquer um de nós ter que subir à tribuna e dizer isso, porque é a imagem do País que vai sendo afetada.
Veja V.Exa. Hoje é dia 4 de setembro. Daqui a 20 dias o Presidente da República do Brasil abrirá a Assembleia Geral das Nações Unidas e hoje — faltando 20 dias para isso — ele promove um ataque dessa baixeza à ex-presidente Michelle Bachelet.
Não é verdade que a ex-presidente usa o seu cargo para fazer disputa ideológica, porque fosse isso verdade não teria feito um corajoso relatório, recentemente, sobre a situação dos direitos humanos na Venezuela. A ex-presidente Michelle Bachelet é digna de todo respeito e consideração. E o seu pai não era um Brigadeiro comunista: era um constitucionalista apenas, era alguém que defendia o respeito à Constituição chilena. Mas, para o Presidente da República do Brasil, defender a Constituição é ser de esquerda, é ser comunista. Não! O pai de Michelle Bachelet não era um comunista. Era um democrata.
Ninguém, em qualquer momento, pode aceitar que a defesa do Estado de Direito seja transformada em uma disputa ideológica. Mas o Presidente da República não aceita qualquer crítica que se faça a qualquer país aliado seu ou ao Brasil, mesmo se de fato for algo que nós precisamos melhorar. Este é o papel de uma comissária de direitos humanos da ONU: apontar violações de direitos humanos, onde quer que elas ocorram. A ex-presidente do Chile não merece esse tratamento. Esse tratamento é incivilizado.
Nós queremos, como há pouco vários Parlamentares da Oposição aqui fizeram, pedir desculpas ao Chile por essa manifestação agressiva, vergonhosa e lamentável do Presidente da República do Brasil. Não queremos que isso afaste os nossos países, os laços entre brasileiros e chilenos.
Vejam que o Presidente Sebastián Piñera consegue distinguir o que é disputa política e ideológica do que é respeito e tolerância, do que é civilidade. Ele é adversário de Bachelet, ele é adversário do partido de Bachelet, mas não tratou Bachelet como inimiga. O Presidente da República do Brasil não consegue entender que quem pensa diferente não é um inimigo a ser exterminado, é um adversário político, o qual se deve confrontar com ideias, e não com ataques pessoais. Não é verdade o que disse há pouco aquele que me antecedeu na tribuna, que o Presidente da República não atacou a ex-presidente ou o pai dela. Atacou sim, de forma baixa e inaceitável!
Deputadas e Deputados brasileiros, tenho certeza de que neste momento não falo apenas em nome da Oposição, tenho certeza de que os Deputados que apoiam o Governo em outras pontos também se envergonharam, também lamentaram esse episódio, também não se sentem representados por um Presidente que não respeita os limites mínimos de civilidade e tolerância. Não por acaso, o Governo não para de cair em sua aprovação. Vejam a pesquisa feita pela CNT. (Exibe documento.)
O SR. ALESSANDRO MOLON (PSB – RJ) – Vejam a aprovação do Governo, vejam como Bolsonaro caiu, vejam como aumentou a rejeição ao Governo Bolsonaro, vejam como a rejeição superou a aprovação do Governo. O Governo está despencando, porque os brasileiros não querem um Presidente que se comporte assim. É preciso respeitar a dignidade do cargo, a postura que deve ter um Presidente da República. Como ele não tem isso, a avaliação pessoal dele também despencou, e a rejeição ao seu comportamento também cresceu.
O Brasil não se reconhece nesse Presidente, porque esperava que, ao se tornar Presidente da República, ele adquiriria um mínimo de dignidade no seu comportamento, se comportaria de forma mínima como exige o seu cargo. Infelizmente não é isso que temos visto, para a tristeza de todos nós, porque isso afeta a todos nós. Isso afeta o Brasil no plano internacional. Hoje o Presidente da República é visto, cada vez mais, como alguém intolerante e intolerável. É assim que ele chegará à abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas: como alguém com um comportamento repugnante. Não é disso que o Brasil precisa. O Brasil precisa de um Presidente da República que tenha postura de Presidente e que consiga superar divergências menores, unir os brasileiros e ter um papel construtivo no mundo, e não um papel destrutivo, um papel de desrespeito, um papel de intolerância, que é o que vem sendo manifestado por ele. Isso é péssimo para o Brasil, mas não devemos perder a esperança. Dias melhores virão! Esses dias difíceis que vivemos passarão, e o País voltará a ter um Presidente da República que honre o cargo e orgulhe todos os brasileiros e brasileiras.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional