A declaração do presidente Jair Bolsonaro defendendo, nesta sexta-feira (27), que a população compre fuzis, em meio ao cenário de crise institucional, pandemia de Covid-19, alta do desemprego e da inflação, provocou reação indignada de deputados socialistas.
Com a inflação superior a dois dígitos em algumas capitais, puxada principalmente pelo preço de alimentos básicos como arroz e feijão, Bolsonaro aconselhou os apoiadores a comprarem a arma, mesmo que seja caro.
“Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Aí tem um idiota: ‘Ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se você não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”, disse Bolsonaro, em frente ao Palácio da Alvorada.
O líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ) definiu a fala como “covardia”. “Quanta covardia! No país onde o povo faz fila para conseguir o osso para a sopa, a pauta de Bolsonaro é “mais fuzil”‘, afirmou no Twitter.
O líder da Minoria, deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), reproduziu a declaração de Bolsonaro na rede social e perguntou: “Quem você acha que disse isso, um miliciano ou o presidente da República?”. Em outra publicação, o parlamentar criticou: “O brasileiro passando fome na fila do osso e Bolsonaro falando em comprar fuzil. É um canalha”.
A resposta de Bolsonaro foi dada quando um apoiador perguntou se havia novidade para os CACs, que incluem caçadores, atiradores e colecionadores. “O CAC está podendo comprar fuzil. O CAC que é fazendeiro compra fuzil 762″, afirmou o presidente.
No governo Bolsonaro uma série de decretos foram editados para facilitar o acesso da população a armas e munições. Em setembro de 2019, por exemplo, o presidente sancionou uma lei que ampliou a posse de arma dentro de propriedade rural.
Em fevereiro, o PSB ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a suspensão de quatro decretos editados por Bolsonaro que facilitam o uso e a compra de armas de fogo no país.
A Corte começou a julgar a ação em abril. Os ministros Rosa Weber e Edson Fachin votaram pela suspensão de trechos dos decretos questionados pelo partido. O ministro Alexandre de Moraes, no entanto, fez pedido de vista e o julgamento foi suspenso, sem data para a retomada.
Antes do início do julgamento, o partido havia enviado um pedido de urgência, diante da proximidade da entrada em vigor dos decretos. Na petição, acatada pela ministra Rosa Weber, o partido apontou que a ampliação desmedida e injustificada dos decretos para acesso a armamentos e munições, inclusive de uso restrito, acarretava sério risco na ordem e na segurança pública. “A manutenção dos decretos objeto da presente ação favorece o crescimento dos já elevados índices de mortalidade por arma de fogo no Brasil”, considerou.
Para o partido, os decretos representam grave ameaça institucional, pois liberam a aquisição de armas por segmentos específicos da sociedade, como é o caso dos caçadores, atiradores e colecionadores de armas (“CACs”), “sobretudo diante das reiteradas manifestações proferidas pelo Presidente da República conclamando sua base de apoio à defesa armada de seus ideais políticos”.
Durante o encontro com apoiadores, Bolsonaro disse, mais uma vez, que não quer inflação alta, mas que não depende de seu governo. O controle da alta de preços, no entanto, é a principal missão do Banco Central, que tem instrumentos para desacelerar a inflação.
Com informações do Estadão e do Metrópoles