Sob influência dos índices do Brasil, a taxa de desocupação na América Latina e no Caribe aumentou em 2015 pela primeira vez em cinco anos para 6,7%, levando ao menos 1,7 milhões de pessoas à procura por emprego, informa um relatório divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) na quinta-feira (10). O Panorama Laboral 2015 da América Latina e Caribe adverte para uma mudança de tendência nesses indicadores, com piora na situação de jovens e mulheres, além de indícios de uma maior geração de empregos de menor qualidade.
“Os efeitos acumulados da desaceleração econômica que se iniciou há três ou quatro anos e que se aprofundou em 2015 podem ser descritos como uma crise em câmera lenta”, disse o diretor regional da OIT, José Manual Salazar, ao apresentar o relatório em Lima, capital do Peru. “Esta situação é preocupante e enseja numerosos desafios de política aos nossos países”.
Dado que os prognósticos de crescimento lento para a região se mantêm nos próximos anos, a OIT estima que a média da taxa de desemprego da América Latina e Caribe poderia subir novamente em 2016 para 6,9%.
Salazar destacou que em 2015, como aconteceu com a desaceleração econômica, a menor geração de empregos esta se manifestando também em distintas velocidades nos países da região. Em alguns países inclusive, reduz-se a taxa de desocupação. Mas a nível regional, há países que influenciam de maneira importante sobre o aumento da média desta taxa, em especial o Brasil.
"O aumento total médio ponderado se explica porque um desses países é o Brasil, onde o desemprego aumentou 1,5 ponto percentual. A redução do desemprego em outros países tem sido inferior a 0,5 pontos, exceto Belize (-1 ponto), Bahamas (-1,8) e México (-0,6)", afirma o relatório.
Assim, a principal alta do desemprego se produziu na América do Sul, onde passou de 6,8% para 7,6% e no Caribe aumentou de 8,2% para 8,5%. Mas a taxa registrou uma baixa na América Central e México, de 5,2% para 4,8%.
A taxa média de desemprego para toda a região subiu de 6,2% em 2014 para 6,7% este ano. A diferença de cinco décimos percentuais implica que o número de desocupados aumentou em 1,7 milhões de pessoas e por tanto “o número total de latino-americanos e caribenhos afetados pela falta de postos de trabalho ronda os 19 milhões”, explicou Salazar.
As notícias relacionadas com a qualidade do emprego “não são boas”, segundo o diretor regional da OIT. Há indicadores de desaceleração no crescimento dos salários, assim como uma redução na geração do emprego não assalariado enquanto aumenta o trabalho por conta própria, que em muitos casos esta associado a condições laborais precárias.
“Estes são sinais de que pode estar aumentando a informalidade, que segundo os últimos dados disponíveis já alcançava 130 milhões de trabalhadores”, disse.
Mais da metade dos novos desocupados são mulheres. A taxa de desemprego das mulheres aumentou de 7,7% em 2014 para 8,2% em 2015 segundo informa o Panorama Laboral da OIT.
O relatório regional explica que a taxa de participação laboral das mulheres retomou a tendência de alta, mas a taxa de ocupação se comportou de forma mais moderada. “O maior número de desocupadas se deve ao maior ingresso de mulheres no mercado laboral”, diz o documento.
Também subiu o desemprego juvenil depois de anos nos quais se havia registrado uma diminuição, quer dizer que para esse grupo também “a tendência mudou”. Como ocorre com a taxa geral, o comportamento da taxa juvenil é diverso entre os países e em cerca da metade se observa uma melhora, mas o aumento médio regional deste indicador observou uma alta de 14,5% a 15,3%.
“Ao menos que se executem políticas para impulsionar a quantidade e qualidade do emprego juvenil, a conjuntura econômica que se vislumbra nos próximos anos poderia agravar ainda mais esta situação”, alerta o relatório.
O Panorama Laboral da OIT diz que em curto prazo este cenário de maior desemprego e informalidade deveria ser enfrentado com políticas de mercado de trabalho e sociais especificamente dirigidas a proteger o emprego e o salário e a renda das pessoas.
O diretor regional da OIT advertiu, contudo, que também serão necessárias medidas para “enfrentar problemas estruturais de longa data”. Afirmou que “a desaceleração é evidência, uma vez mais, de que muitos países da região seguem dependendo excessivamente das dinâmicas da economia mundial e que seguem fazendo faltam mais motores e fontes endógenas de crescimento”.
“Em médio e longo prazo resulta impostergável desenhar e executar políticas de desenvolvimento produtivo para diversificar as estruturas de produção, promover o aumento da produtividade e o crescimento das empresas, criando assim mais e melhores empregos que gerem um crescimento inclusivo”, afirmou José Manual Salazar.
Destacou que para avançar nesta direção será essencial impulsionar o diálogo social entre governos, empregadores e trabalhadores nos distintos países. “São necessárias respostas dialogadas que sejam produtos de uma visão compartilhada”, disse o Panorama Laboral 2015 da OIT.
O Panorama Laboral de 2015, baseado em fontes oficiais de cada país, apresenta pela primeira vez taxas de desocupação a nível nacional, que agora estão disponíveis para a maioria dos países até o terceiro trimestre do ano em curso. Até o ano passado, os indicadores disponíveis eram urbanos, principalmente de grandes cidades.
Com informações da assessoria de comunicação da OIT