No Dia da Amazônia, celebrado nesta quinta-feira (5), há motivos para comemorar, mas também para refletir sobre os desafios que ameaçam a Amazônia, afirma o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, em entrevista ao jornal O Globo.
Desde o início do ano passado, o Brasil intensificou as ações de governança ambiental na região, ao retomar o Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento e desbloquear recursos do Fundo Amazônia. Esses esforços resultaram em uma significativa redução do desmatamento, com tendência de queda contínua, apoiada por políticas públicas, forte fiscalização e com o apoio de estados e municípios.
Além das ações de comando e controle, outras iniciativas estão em andamento, como concessões florestais, promoção da bioeconomia, incentivo ao turismo sustentável e desenvolvimento do mercado de carbono.
Contudo, afirma Agostinho, a Amazônia enfrenta agora a maior seca em quatro décadas, o que tem afetado a navegabilidade dos rios, isolado comunidades e agravado a incidência de queimadas. A situação pode se tornar ainda mais crítica, transformando-se na pior seca da história da região.
A seca dos rios é um complicador extra para a fiscalização. Com rios em situação emergencial, a dificuldade de deslocamento afeta o combate a crimes ambientais. “Boa parte da Amazônia é acessada por via fluvial. Normalmente as secas prejudicavam a navegabilidade nos afluentes da margem direita do Amazonas. A seca está tão severa que rios que nunca enfrentaram secas estão em situação emergencial”, afirma.
Em resposta, o governo montou uma sala de situação para coordenar o enfrentamento da crise e apoiar as comunidades isoladas. ” A defesa civil tem feito rapidamente o reconhecimento da situação de emergência de cada um. O Ministério da Defesa tem levado comida, água, medicamentos e combustível. É uma grande crise e que está mobilizando todo o governo”, diz Agostinho.
Outro desafio é o crime organizado urbano, que está se infiltrando na Amazônia, utilizando crimes ambientais para lavar dinheiro de atividades ilícitas, revela o presidente do Ibama. “Muitas vezes somos recebidos com tiros o que torna a atividade de fiscalização difícil e perigosa”.
A crise amazônica, por sua vez, tem reflexos em todo o Brasil: as chuvas geradas pela floresta, conhecidas como “rios voadores”, são essenciais para a agricultura e abastecimento de água em outras regiões. Sem elas, a escassez de água afeta biomas como o Pantanal, que enfrenta sua pior crise hídrica em décadas. “O caso mais triste acontece hoje no Pantanal. Nos últimos seis anos não tivemos cheias que aconteciam religiosamente todos os anos. A superfície de água já reduziu aos menores níveis da história”. “Infelizmente todos os biomas brasileiros serão impactados”, ressalta Agostinho.
A mudança climática e a ação criminosa do homem agravam a situação. Segundo o presidente do Ibama, há duas vezes mais dióxido de carbono na atmosfera do que há 20 anos, e os incêndios que ocorrem no Brasil são provocados, não espontâneos.
O fogo, intensificado pelas condições criadas pelo aquecimento global, é frequentemente resultado da ação humana, afirma. “Não estamos falando de fogo espontâneo. Ou seja, temos a mudança climática que cria as condições para os incêndios e o terrível hábito das pessoas colocarem fogo em tudo que está seco”, lamenta.
Segundo Agostinho, a prioridade do Ibama continua a ser a redução do desmatamento e o controle de atividades ilegais, como grilagem de terras, extração de madeira, garimpo, pesca e caça predatória, além de incêndios florestais. Ele afirma que o órgão está passando por um processo de fortalecimento institucional com um “bom planejamento estratégico”. “Acreditamos muito em nossa capacidade de enfrentamento e transformação”, finaliza.
Com informações do jornal O Globo