O dia 07 de setembro é destinado particularmente à celebração da pátria brasileira, visto ter sido nesta data que o país alcançou sua independência, estabelecendo-se em consequência como Estado-nação autônomo e soberano.
O caráter da data remete, portanto, como condição necessária, à reflexão sobre quem somos enquanto povo, sobre o quanto caminhamos nas veredas da história mundial e sobre o futuro ao qual podemos e devemos almejar como País.
Trata-se, portanto, em condições normais, de um tempo instituído para um balanço geral sobre as condições de vida da nação, e aquilo que cabe fazer para alcançar um futuro próspero, justo e inclusivo.
Este 07 de setembro, no entanto, assistiu pelas mãos do presidente da República a sua própria antinomia, vivenciou a negação e escracho de sua natureza como data cívica.
Afinal de contas, a celebração passou por cima, faz pouquíssimo caso de tudo quanto aflige de fato à população brasileira, especialmente a mais vulnerável: inflação em descontrole, juros aumentando, carestia devido ao aumento do preço de alimentos, combustíveis, água, eletricidade e gás de cozinha. Desemprego na casa dos 15 milhões de trabalhadores, havendo ainda mais de 6,8 milhões de desalentados e 33 milhões de subempregados.
Em lugar, portanto e infelizmente, de um estadista preocupado com as crises que afligem impiedosamente o Brasil neste 7/9, nos vimos frente a um agitador, cuja única obsessão consiste em prover fartamente o pão para o circo que anima, especialmente concebido para radicalizar ainda mais seguidores fascinados pelas promessas horripilantes e deletérias do mais franco e escancarado fascismo.
Não tenhamos dúvida alguma quanto a isso, sobre as ameaças e desafios tremendos deste momento: os regimes que evocam a morte, que criam projetos políticos que implicam a eliminação de inimigos ou submissão das instituições democráticas têm inspiração fascista e buscam, obstinadamente, a fundação de “impérios milenares” que duram uns poucos anos, mas que transformam todo o horizonte em terra arrasada.
A ameaça autoritária deste 7/9, encenada com ares de teatro monumental em Brasília e São Paulo, teve ainda como extensão uma suposta convocação do Conselho da República, que têm entre suas atribuições pronunciar-se sobre intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio ou sobre as questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas.
Trata-se, por certo, de mais um passo em uma trajetória que tende ao autoritarismo e que almeja o estado de exceção. Cabe a nós, contudo, como democratas, perseverar na convicção inabalável, na generosidade fraterna, de que permanece entre nós a única alternativa que pode promover prosperidade e paz social, e que permitirá superar este momento de enorme sofrimento para a população brasileira.
Nestes termos, não nos esqueçamos jamais daquilo que as fotografias desta data não mostrarão: a imensa maioria do povo brasileiro, que se envergonha do presidente que tem e que se colocará em marcha para fazer valer seu mais legítimo interesse, que responde pelo nome igualmente frágil, singelo e potente de DEMOCRACIA.
CARLOS SIQUEIRA
Presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro – PSB