
Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Uma das áreas em o governo Bolsonaro demonstra mais claramente seu propósito destrutivo é a educação. No segundo dia da versão impressa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado neste domingo (24), mais da metade dos candidatos não compareceu à prova. O recorde histórico de abstenções foi de 55,3% dos estudantes.
O exame seria feito originalmente em novembro, mas a data foi alterada devido à pandemia, que voltou a se agravar após a virada do ano. O Enem 2020 tem 5,78 milhões de candidatos confirmados, ou seja, mais de 3 milhões não compareceram ao segundo dia de provas. O primeiro dia da parte presencial foi em 17 de janeiro, a versão digital será realizada em 31 de janeiro e 7 de fevereiro.
Diante do aumento de casos de Covid-19 pelo país, a União Nacional dos Estudantes (UNE) encabeçou a campanha #adiaEnem nas redes sociais que pedia a não realização da versão impressa do exame em janeiro.
A mobilização pelo adiamento do exame tem como base o aprofundamento da exclusão social no ensino superior. O Enem, assim como os demais vestibulares no país, são fortes filtros sociais e raciais, e com a pandemia, o ensino a distância aumentou consideravelmente as desigualdades entre escolas públicas e privadas.
“A pandemia mudou nossas vidas e o momento é de excepcionalidade. Porém, quando o governo não tem planejamento, prioridade e sensibilidade, as consequências ruins tendem a se potencializar. O Enem, infelizmente, é mais um exemplo desse fracasso anunciado”, protestou em suas redes sociais o deputado federal Aliel Machado (PSB-PR).
Desorganização reforça desigualdade
Estudantes de diversas partes do país relataram que foram impedidos de fazer a prova em 17 de janeiro sob o argumento de que a sala designada pelo próprio Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) estaria lotada. O limite de lotação foi imposto para garantir o distanciamento social e diminuir as chances de contágio por Covid-19.
Diante do cenário, a Comissão Externa de Acompanhamento do Ministério da Educação na Câmara (Comex-MEC) enviou um ofício ao Inep cobrando que o Enem seja reaplicado para os estudantes impedidos de fazer a prova.
“Alguns candidatos foram orientados a ligar para o Inep e solicitar a remarcação do exame, porém não receberam nenhum documento que assegurasse a reaplicação e explicasse o procedimento, o que gerou bastante insegurança nos estudantes”, cita o documento que tem a assinatura de seis deputados socialistas.
A Defensoria Pública da União também agiu e pediu à Justiça o adiamento das provas marcadas para 17 e 24 de janeiro. Além da UNE, assinam a ação contra Inep e o Ministério da Educação (MEC) a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e as entidades Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Educafro.