Após vencer PT no Recife, presidente do PSB desdenha: ‘muito feliz sem parceria’
Em entrevista ao GLOBO, Carlos Siqueira avalia que eleição derrotou “isolacionismo” petista e “extrema-direita”
RECIFE — Presidente do PSB, Carlos Siqueira diz, em entrevista ao GLOBO, que o resultado das urnas foi claro. Os “derrotados” foram a “extrema-direita” e o “isolacionismo” do PT. No segundo turno, os socialistas travaram uma batalha contra os petistas no Recife. Na disputa de primos, João Campos (PSB) derrotou Marília Arrraes (PT). As consequências vão além do racha de família, dificultando uma reaproximação em 2022. Segundo Siqueira, o PSB está hoje “muito feliz” sem o PT.
A seguir, leia os trechos da entrevista:
PSB e PDT estiveram juntos em oito capitais. É um sinal para 2022?
Nós não tratamos ainda de 2022. Cada momento vai exigir um novo diálogo para que possamos chegar a uma conclusão. Temos tempo mais do que suficiente para isso. Mas a nossa avaliação e também do PDT é que essa parceria foi bastante produtiva. Claro, essa parceria poderá ser ampliada. Mas vamos conversar e discutir o futuro do país, procurando pontos de convergência, mas também soluções para o país. Não podemos só falar de eleições. Temos que falar de projetos, ideias e visões. O país está cheio de problemas, tanto econômicos quanto sociais.
Qual é o saldo da eleição no Recife e como fica a relação do PSB com o PT?
A disputa do Recife foi muito acirrada, naturalmente. Uma disputa que não considero de família, mas sim de dois partidos que têm visões diferentes. Teve a nossa visão e a do PT, que praticou, mais uma vez, o exclusivismo e o autoritarismo. O PT sempre quis, e o Lula anunciou isso quando saiu da prisão, que queria uma candidatura para 2022. Portanto, quem fala isso não quer construir alianças. Foi quando nós tratamos de procurar o PDT, a Rede e o Cidadania em alguns casos. Fizemos coligações com o PDT em oito capitais. E foi bastante exitosa essa aliança porque, das oito capitais, vencemos em quatro delas. Temos muito mais proximidade com o PDT do que com o PT. Do ponto de vista programático e de visão do país.
A relação com o PT pode mudar até 2022?
O PT deixou claro que não queria essa parceria e não tivemos em lugar nenhum. E estamos muito felizes com isso. Não sei se pode mudar. Depende muito mais do PT do que de nós. Mas eu não sou muito otimista de que vá mudar de visão, porque o partido sempre agiu assim a vida inteira, sempre esteve na contramão da História. Desde 1985 já votou contra o colégio eleitoral, decidiram ser contra a Constituição de 1988. Fez oposição ao Plano Real. Todos nós estávamos em outra posição. Em 2018, impôs uma candidatura sabendo que ia ser derrotado. Deu em Jair Bolsonaro. Então, nós não somos obrigados a seguir o PT. Ele tem o direito de errar, errou muito a vida inteira, mas nós não somos obrigados a seguir.
Quais foram os recados das urnas?
Os recados foram muito claros. O país derrotou a extrema-direita e a visão isolacionista e exclusivista do PT. As duas coisas. Isso é muito positivo porque é uma lição. Se quiser aprender, aprenda. Se não quiser, continue a dar murro em ponta de faca. O bolsonarismo se deu mal. Seus candidatos, em geral, foram derrotados, principalmente no Rio e em São Paulo. O centro, principalmente DEM e PSDB, que se mostram muito unidos, deverão ter uma candidatura única à Presidência da República. O eleitor percebeu o erro que cometeu em 2018 elegendo Bolsonaro. Tinha seus motivos, mas viu que a improvisação não funciona. E o brasileiro não é extremista. Em média, tende ao centro.
E a esquerda?
Não era um ambiente bom para a esquerda, inclusive pelos erros do PT cometidos no governo da senhora Dilma Rousseff, que levou o país a uma recessão monumental. Por outro lado, na esquerda, se viu algo diferente do PT. Houve essa aliança PSB e PDT, e o destaque para o PSOL, que superou o PT em São Paulo. Então, a esquerda também deu um sinal: “Estou aqui, estou viva”. Não está falida. Agora, o resultado para o PT é desastroso. Com a importância que tem, não ganhar sequer uma capital, com o menor número de prefeituras, por exemplo, do que PSB e PDT, é muito ruim.
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Como vê a participação de João Campos no Recife? Qual é o futuro dele no partido?
Ele recebeu uma missão do partido para que fosse candidato e cumpriu muito bem. Com a idade dele, muitos duvidavam que ele pudesse ter equilíbrio e enfrentar essa campanha. Uma campanha duríssima, muito mais do que as enfrentadas pelo seu pai ou bisavô. No entanto, enfrentou com serenidade e competência. Foi acirrada, como todos sabem, mas no final foi demonstrada a força do partido. Tem uma carreira política muito promissora. Já fizemos e vamos continuar a apostar nele como uma nova liderança. É muito bom para o Recife, Pernambuco e o país.
No segundo turno do Rio, Eduardo Paes ganhou o voto da esquerda para derrotar o bolsonarismo. É possível ter frente tão ampla em 2022?
Não achei nada interessante o que aconteceu no Rio de Janeiro. Poderia ter sido evitado. Se o PT tivesse a visão de unidade da esquerda, seria diferente. Se somássemos a votação de PSOL, PDT e PT, quem estaria no segundo turno, com chances contra Eduardo Paes, seria a esquerda. Não aconteceu por essa visão exclusivista do PT. E deveria ter acontecido em outras cidades. No Rio não foi nada interessante ter que votar na direita. Ainda que nós façamos uma diferenciação muito grande entre a extrema-direita bolsonarista e a centro-direita que ganhou as eleições e estão no campo democrático.
Bruno Góes
30/11/2020 – 19:19
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