Autor: Domingos Leonelli, secretário Nacional de Formação Política do PSB
A palavra slogan segundo a maioria dos teóricos vem do gaélico e se significava o grito de guerra dos clãs escoceses. Mas alguns estudiosos identificam sua origem numa época ainda mais remota, do idioma hindo-hitita e do sânscrito, na expressão sloka.
A compreensão mais difundida e aceita, nos dias de hoje, é que o slogan é um recurso publicitário utilizado para fins comerciais, políticos, religiosos ou institucionais. Uma frase curta de fácil memorização que ressalte o conceito e a principal qualidade do produto, da força política, da religião ou de governos e instituições.
“É gripe? Benegrip!
“Sem medo de ser feliz. Lula Lá”
“O Senhor é meu pastor, nada me faltará”
“Pra frente Brasil ! “
“ O petróleo é nosso”
Os slogans publicitários não esclarecem e não informam. Eles sintetizam e emocionam. Capturam a atenção para a informação que já foi dada ou para a busca de novos esclarecimentos. Despertam desejos. Sempre foi assim na antiga comunicação verbal e escrita, na era analógica e segue sendo na era digital. Aliás, agora mais do que nunca.
No caso de slogans políticos eles podem ter outras funções como a de induzir a ação e a universalizar, globalizar e unificar conceitos e informações. Um slogan do século 19 e que continua vivo até hoje é um bom exemplo: “Proletários de todo o mundo uni-vos”.
Essa função indutora da ação e universalizante pode conter, como nesse slogan, oriundo do Manifesto Comunista de Marx e Engels, uma promessa. Uma ideia do porvir estimulante e mobilizadora, um mundo sem patrões e sem exploração, o sonho socialista.
Luther King universalizou a luta antirracista e induziu milhões a ação com o a sua frase “Eu tenho um sonho”.
E Donald Trump ganhou uma eleição presidencial com o slogan “Fazer a América grande novamente”.
Impressiona, no entanto, a ausência de slogans tanto no governo do Presidente Lula como na campanha eleitoral de Guilherme Boulos para a prefeitura de São Paulo.
E desconfio que há um motivo comum tanto para o governo como para a campanha: a ausência de um projeto nacional para o Brasil e de um projeto de cidade para São Paulo. Um sonho de País e de Cidade.
Em ambos os casos a fragmentação de programas e propostas positivas, atendendo aos anseios de segmentos da sociedade ( negros, mulheres, pobres, usuários de transporte publico e do SUS, estudantes, micro e pequenos empresários, produtores rurais e outros). Programas e propostas positivas, repito, mas que não acenam para sonhos de País ou de Cidade.
Também, em ambos os casos, a presença de uma espécie de ditadura do marketing e das pesquisas a indicar quais a necessidades mais imediatas de cada segmento, levando a comunicação a também se segmentar.
Nada que unifique, universalize e globalize essas propostas e esses programas num projeto de País ou de Cidade. Nada que prometa um sonho, um porvir. Que se constitua num guia para ação. Que mobilize as massas a partir de um desejo comum. Que obrigue as elites econômicas a submeterem seus interesses e seus lucros, a um objetivo maior.
Mas então o que falta a Lula e Boulos são projetos e não slogans, poderia argumentar o leitor que teve a paciência de nos acompanhar até aqui.
Sim, o principal é a falta de um projeto nacional e desenvolvimento e um projeto de cidade mais abrangente.
O que ouso pensar é que talvez a adoção de slogans criativos e mobilizadores ajudasse tanto o governo como a campanha de Boulos a se reorientarem e reorganizarem suas ações.
Um slogan talvez ajudasse os ministérios do governo Lula a agirem mais articuladamente. Mais continente e menos arquipélago.
E aqui peço licença para uma outra ousadia que é a de recorrer ao novo programa do meu partido, o PSB, para imaginar o governo do presidente Lula adotando como slogan BRASIL POTENCIA CRIATIVA E SUSTENTAVEL que é seguido de um texto que sintetiza todo o esforço realizado no processo da Autorreforma para definir um projeto nacional de desenvolvimento, baseado em nossos principais ativos como a criatividade do povo e das empresas brasileiras, a floresta Amazônica e o renascimento criativo das indústrias.
Ou ainda Boulos tomando o tema das cidades criativas e definindo SÃO PAULO, CAPITAL CRIATIVA DA AMERICA DO SUL.
E articulando muitas das suas propostas como o Poupa Tempo da Saúde, os pontos de apoio para motoristas de aplicativo e motoboys, como iniciativas de uma Cidade Criativa.
E assim estaríamos dando aos velhos gritos de guerra dos escoceses uma nova função. Slogans como organizadores da ação política.
Domingos Leonelli
Secretário Nacional de Formação Política – PSB