
Foto: Divulgação/Fundaj
Até o dia 3 de novembro, a memória dos 60 anos do Movimento de Cultura Popular (MCP), nascido de um amplo e plural debate liderado por Miguel Arraes, um dos principais nomes da esquerda brasileira, estará sendo resgatada na exposição Mutirão, no Recife, capital pernambucana. A iniciativa é da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e marca os 75 anos da instituição.
Com curadoria de Moacir dos Anjos, coordenador-geral do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), a mostra ocupa a Galeria Vicente do Rego Monteiro, campus Ulysses Pernambucano da Fundaj, no Derby.
A galeria reúne mais de 200 itens pertencentes a diversas coleções públicas e privadas, incluindo fotografias, folders, cartazes, documentos, filme, objetos, jornais, livros e obras de artistas de algum modo associados ao Movimento de Cultura Popular, tais como Abelardo da Hora, Francisco Brennand, Guita Charifker, Maria Carmen e Wilton de Souza. Haverá ainda uma programação pública associada à mostra, com debates e exibição de filmes.
O Movimento de Cultura Popular foi criado durante a primeira gestão de Miguel Arraes na prefeitura do Recife, em 1960, para alfabetizar crianças e adultos em uma perspectiva transformadora, além de divulgar e reproduzir as manifestações da cultura popular regional. O objetivo era não somente ensinar as primeiras letras, mas facilitar o acesso à cultura, e formar cidadãos com consciência política e social, aptos a participarem dos destinos do país.
Com o apoio de intelectuais, educadores, artistas, estudantes e da sociedade civil, a iniciativa pioneira que serviu de inspiração para o país, o Movimento de Cultura Popular foi o berço do método Paulo Freire de ensino, a “pedagogia do oprimido”. Com a eleição de Arraes ao Governo de Pernambuco, em 1962, a ideia era expandir o movimento para o interior do Estado, ação que foi interrompida com o golpe civil-militar de 1964.
“A exposição Mutirão apresenta uma história possível do MCP apoiada em fotografias, documentos e trabalhos de artistas que dele faziam parte. Oferece testemunho da construção de um futuro partilhado que, por breve momento, parecia ter chegado. E que, justamente por sugerir que outros arranjos sociais de vida eram possíveis, foi forçado a recuar”, assinala Moacir dos Anjos.
MCP
Na sua formação, o MCP atuava nos subúrbios do Recife. Além de um programa de alfabetização de adultos, o Movimento se estendeu a outros campos, com ações como criação de galeria de arte e treinamento artistas e artesãos, formação de grupo experimental de teatro, construção de praças, centros de cultura, semanas estudantis, festas dedicadas ao folclore, seminários e congressos sobre temas ligados à cultura.
No final de 1962, o Movimento de Cultura Popular já reunia quase 20 mil alunos divididos em mais de seiscentas turmas, distribuídos entre duzentas escolas isoladas e grupos escolares; uma rede de escolas radiofônicas; um centro de artes plásticas e artesanato, com cursos de cerâmica, tapeçaria, tecelagem, cestaria, gravura e escultura, corte e costura; mais de 450 professores e 174 monitores de ensino fundamental, supletivo e educação artística.
O movimento também contava com uma escola para motoristas-mecânicos; cinco praças de cultura, com bibliotecas, cinema, teatro, música, tele-clube, orientação pedagógica, recreação e educação física, cursos de corte e costura, alfabetização e educação de base; círculos de cultura; galeria de arte, entre outros.
“O Movimento de Cultura Popular está inscrito na história do Brasil e é fundamental que as novas gerações conheçam de perto este marco”, ressalta a presidenta da Fundaj, a professora doutora Márcia Angela Aguiar.
Serviço
Exposição Mutirão
Movimento de Cultura Popular [1960-1964]
Galeria Vicente do Rego Monteiro
Campus Ulysses Pernambucano
Rua Henrique Dias, 609,
Derby Recife-PE
Visitação: 16 de maio a 3 novembro de 2024
Terça a domingo e feriados, das 13h às 17h
Com informações da Fundaj e da Folha de Pernambuco