
Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados
O líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), criticou a ida do presidente Bolsonaro, de ministros e de empresários ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (7) para pressionar a Corte pela reabertura total da economia em meio a escalada diária do número de mortes no país por covid-19.
Molon classificou a atitude do presidente de “inadmissível” e disse que os interesses econômicos “de curto prazo” não podem se sobrepor à vida da população. “Presidente marchando ao STF acompanhado de empresários para fazer lobby? Sim, precisaremos retomar a atividade econômica, mas no tempo certo e da forma certa. Interesses econômicos de curto prazo não podem se sobrepor à proteção da vida das pessoas”, afirmou.
“É inadmissível colocar a faca no pescoço da Suprema Corte, ainda mais para pressionar por decisões sobre o afrouxamento do isolamento, que pode resultar em mais dezenas de milhares de mortes. As vidas dos brasileiros importam”, criticou Molon.
A ida do presidente ao STF não estava prevista na agenda oficial. Acompanhado de ministros e empresários, Bolsonaro pediu a Dias Toffoli para ser recebido no momento em que se encontrava com os empresários no Palácio do Planalto. No encontro, transmitido ao vivo por iniciativa isolada de Bolsonaro, o presidente da República defendeu que as medidas restritivas nos Estados sejam amenizadas. O presidente afirmou ainda que vai assinar um decreto para ampliar a quantidade de atividades essenciais em meio à pandemia.
A pressão do governo sobre o STF foi lida por ministros da Corte ouvidos pelo jornal O Estado de São Paulo como uma forma de Bolsonaro terceirizar responsabilidades e dividir com o tribunal o ônus da crise, enquanto enfrenta desgates perante a opinião pública. As movimentações do presidente foram vistas no tribunal como “um jogo de cena” midiático para por na Corte “uma culpa que não é dela”, informou o jornal.
O STF reconheceu recentemente a autonomia de Estados e municípios para regularem a quarentena.
Em uma crítica sutil à falta de uma política centralizada e planejada do governo federal, Dias Toffoli devolveu a responsabilidade sobre a gestão da pandemia ao governo. O ministro respondeu a Bolsonaro que o Executivo deveria criar um gabinete de crise e se reunir com Estados e Municípios para agir de forma coordenada.
Toffoli também lembrou que a Constituição garante competências específicas para os entes da federação e alertou para a necessidade de planejamento para retomada da atividade econômica. A audiência foi transmitida ao vivo sem a autorização prévia do ministro.
Ao sair da reunião, em entrevista dada na rua, o ministro da Economia Paulo Guedes argumentou que as medidas emergenciais estão garantindo estabilidade ao trabalhador e evitando demissões em massa. Mas elas poderão durar, no máximo, três meses, declarou.
Ocorre que milhares de brasileiros não estão conseguindo sacar o auxílio do governo. Em todo o país, beneficiários se aglomeram em enormes filas nas unidades da Caixa Econômica, arriscando a vida, porque não conseguem acessar o recurso pelo aplicativo criado pelo banco.
Teich espera chegar “no limite” para criar fila única para UTIs
Enquanto isso, passados 20 dias no cargo, o ministro da Saúde, Nelson Teich, continua demonstrando falta de familiaridade com os temas ligados à Covid-19 e dependência dos subordinados até para responder a questões simples, de acordo com matéria do jornal O Globo.
Com o SUS à beira do colapso, a oposição defende a proposta de fila única de espera para UTIs públicas e privadas. Em debate há semanas, a medida é defendida por entidades de saúde que afirma ser urgente essa centralização pelo governo federal.
Teich, no entanto, disse em reportagem publicada pelo El País, que conversará com o setor privado somente quando a situação chegar “no limite”.