A relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), afirmou que a operação da Polícia Federal, deflagrada na manhã desta quarta-feira (27) para apurar suspeitas de disseminação de notícias falsas, comprova a linha de investigação da comissão.
Segundo a socialista, as ações promovidas pela Operação da PF, autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, e que resultaram em 29 mandados de busca e apreensão, reafirmam o que já era conhecido pelos membros da CPMI por meio de depoimentos e documentos recebidos pela Comissão. Lídice disse que a Comissão solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) provas e informações obtidas na operação.
A CPMI encontrou indícios de uma rede financiada por alguns empresários e com recursos públicos – integrada por vários políticos e agentes públicos – para disseminação de informações falsas no país com o objetivo de manchar biografias, espalhar o caos e o medo e influenciar pleitos eleitorais, afirma Lídice.
“A Operação realizada pela Polícia Federal, com base em despachos de busca e apreensão de inquérito do STF, converge e comprova a linha de investigação da CPMI das Fake News no Congresso Nacional. Vamos aguardar com atenção e serenidade os desdobramentos da Operação”, disse a relatora da Comissão.
Deputados e senadores de diversos partidos querem aprofundar as investigações sobre os ataques às instituições e discutem o compartilhamentO do material apreendido pela Polícia Federal com a CPMI.
“Teremos agora importantes novos elementos que nos ajudarão a desmontar essa rede de ódio, inverdades e impunidade que vem ameaçando a própria existência da democracia e dominando a política nacional desde as eleições presidenciais de 2018”, afirma Lídice.
“Já solicitamos ao STF provas e informações que estão sendo colhidas no dia de hoje. A CPMI irá juntar aos documentos que já possui e, certamente, serão fundamentais para instruir nossas investigações”, informa.
“Associação criminosa”
Em sua decisão que autorizou o cumprimento de mandados de busca e apreensão no âmbito do inquérito das fake news, o ministro Alexandre de Moraes definiu como “associação criminosa” o grupo conhecido como “gabinete do ódio”, como é chamado um núcleo de assessores que tem forte influência sobre o presidente Jair Bolsonaro e suas redes sociais.
No centro das articulações, de acordo com o magistrado, estão blogueiros que apoiam o governo Bolsonaro, empresários e parlamentares.
O Planalto se preocupa com o avanço das investigações porque teme que o inquérito fortaleça ações para a cassação do mandato de Bolsonaro. O pedido de quebra de sigilo de empresários apoiadores de Bolsonaro abrange o segundo semestre de 2018, período em que ocorreram as eleições que levaram o presidente ao Planalto. Eventuais apurações que remetam ao pleito que elegeu Bolsonaro e Mourão podem ser usadas em ações que pedem a cassação do mandato da chapa.
Na noite de quarta-feira, Jair Bolsonaro afirmou haver sinal de que “algo de muito grave está acontecendo com nossa democracia”. O presidente disse ainda que nenhuma violação à liberdade de expressão “deve ser aceita passivamente”.
“Ver cidadãos de bem terem seus lares invadidos, por exercerem seu direito à liberdade de expressão, é um sinal que algo de muito grave está acontecendo com nossa democracia”, escreveu em rede social.
Na manhã desta quinta-feira, defendeu os alvos da operação:
“Trabalhamos ontem quase que o dia todo voltado para uma causa, com dor no coração, ouvindo reclamos daqueles que tiveram sua propriedade privada violada. Não são bandidos, não são marginais, não são traficantes. Muito pelo contrário”, disse Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada.
O presidente afirmou que foi um “dia triste”, mas disse que será o “último”.
“Mais um dia triste na nossa história. Mas o povo tenha certeza, foi o último dia triste”, disse Bolsonaro. E completou: “Repito, não teremos outro dia igual ontem. Chega. Chegamos no limite. Estou com as armas da democracia na mão. Eu honro o juramento que fiz quando assumi a presidência da República”.
Os filhos do presidente são críticos do inquérito no STF. O deputado Eduardo Bolsonaro, inclusive, tentou parar os trabalhos da CPI, mas o STF negou o pedido.
Nesta quarta-feira (27), Eduardo Bolsonaro disse que é inevitável que o país tenha uma “ruptura” institucional. “O problema não é mais se, mas quando [haverá uma ruptura]”. As declarações foram recebidas como uma ameaça de golpe por parlamentares de diversos partidos.
O líder do PSB na Câmara, deputado Alessandro Molon, disse que o país não ficará inerte a qualquer ataque ao poder Judiciário. “O que está em jogo é a nossa democracia e nós vamos defendê-la”, afirmou.