Durante audiência na CPI que investiga o tráfico de pessoas no Brasil, o deputado federal Severino Ninho (PSB-PE) questionou a concessão de refúgio dada aos estrangeiros de Bangladesh, Afeganistão e Paquistão encontrados em situação semelhante à escravidão no Distrito Federal. O colegiado ouviu, nesta terça-feira (28), o delegado Dennis Cali, chefe do Serviço de Repressão ao Trabalho Forçado da Polícia Federal e responsável pela chamada operação Liberdade, deflagrada na capital federal no último dia 15.
Na operação, a polícia encontrou 80 homens vivendo em seis residências em situação de higiene e alimentação precárias na cidade satélite de Samambaia, após realizar buscas nas residências dos investigados e nos alojamentos onde estavam os estrangeiros. Os traficados receberam carteira de trabalho e CPF para poder trabalhar legalmente, após pedirem refúgio no Brasil.
Para Ninho, a Polícia Federal deve investigar não só a forma como os trabalhadores estão sendo escravizados, mas também se o refúgio dado a eles foi feito de forma legal. De acordo com o socialista, a lei exige requisitos e é preciso saber se foram cumpridos. “Precisamos saber se existiu falha também do órgão responsável pela imigração no País”.
O Comitê Nacional para Refugiados (Conare), vinculado ao Ministério da Justiça, é o órgão responsável por indeferir os pedidos de refúgio. O Conare reúne segmentos representativos da área governamental, da sociedade civil e das Nações Unidas. De acordo com o delegado Dennis, a investigação, que deve ser concluída e enviada ao Ministério Público em 30 dias, deve apurar a situação migratória dos estrangeiros.
Durante a audiência o delegado afirmou que as investigações começaram com uma fiscalização de rotina feita pela polícia de imigração. “Na operação conseguimos identificar quatro traficantes de pessoas e dois intermediários”.
A polícia ofereceu abrigo para os estrangeiros, mas eles não aceitaram. Dennis acredita que os traficados devem ter medo de aceitar a ajuda da polícia. “Eles não tem interesse em voltar para sua terra porque lá também vivem em situação degradante”, explica o delegado.
Como a investigação ainda corre em segredo de justiça, o delegado não pode dar mais detalhes. A reunião continuou, em portas fechadas, com Dennis e os membros do colegiado. Para os parlamentares da CPI, o delegado pode dar mais informações sobre a operação.
Entenda o Caso:
A quadrilha era composta por bengaleses que aliciavam conterrâneos e homens dos países vizinhos com falsas promessas de salários que variavam entre 1 mil e 1,5 mil dólares. Eles cobravam entre US$ 10 mil e US$ 12 mil para trazer de forma ilegal os imigrantes. As vítimas ingressavam no Brasil pela Guiana Inglesa, Peru e Bolívia.
Ao chegar, os traficados tinham seus passaportes retidos por coiotes (pessoas que faziam o transporte deles) e eram obrigados a fazer pagamentos mensais aos membros da quadrilha relativos a “dívidas” de aluguel e passagem. Apesar de a maioria estar desempregada, os que tinham empregos trabalhavam na construção civil, em frigoríficos e em lava-jatos.
Com informações da Agência Câmara