O negacionismo do governo de Jair Bolsonaro levou o Brasil a utrapassar as 400 mil mortes, na maior crise humanitária do país. A trágica marca foi atingida nesta quinta-feira (29), 14 meses após a identificação da doença no país e apenas 37 dias depois de registrar 300 mil óbitos.
O Brasil é o segundo país em óbitos acumulados, atrás apenas dos EUA (cerca de 575 mil), e o segundo em novas ocorrências da Covid-19 na última semana. O ranking é liderado agora pela Índia. A taxa de letalidade mais que dobrou, de 2% no final de 2020, para 4,4% na semana passada.
Mesmo com o avanço descontrolado da pandemia, a vacinação engatinha no país: apenas um em cada dez brasileiros recebeu a vacina contra a Covid-19 até agora. Esse e outros fatos estão na agenda de trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito instalada no Senado nesta semana.
O novo coronavírus já provoca uma em cada cinco mortes notificadas no país (21,7%) desde março do ano passado, de acordo com dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), entidade que representa todos os cartórios do país.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, reagiu em suas redes sociais e se solidarizou com as famílias das vítimas.
“Essa é a cara do negacionismo de um governo que recusou, no início da pandemia, 70 milhões de vacinas Pfizer! O papel do governo é agilizar todos os recursos, ajudar os que estão sem renda, providenciar todos os insumos necessários para os hospitais”, escreveu Siqueira.
Siqueira criticou o “deboche, a desinformação, a falta de empatia aos parentes das vítimas, o descrédito às vacinas” e afirmou que “não há como remediar essa tragédia, senão pela soma de todos os esforços por mais vacina e o cumprimento rigoroso de medidas sanitárias”. Tudo o que o presidente da República nega.
A incompetência do governo e o desprezo com as mortes projeta o Brasil no mundo como um pária sanitário. A revista Nature, uma das publicações científicas mais prestigiadas do mundo, dedicou uma reportagem de sua edição desta semana à frustração sentida por pesquisadores brasileiros, que enfrentam a “fase mais negra” da pandemia do coronavírus no país, diante do colapso do sistema de saúde pública e das atitudes negacionistas de Bolsonaro.
O Brasil, alerta a revista, tem apenas 3% da população global, mas registrou 13% de todos os óbitos por coronavírus. Para a publicação, “o elevado índice de mortalidade teria relação com Bolsonaro, que minimizou a pandemia, chamando-a de gripezinha, e afirmou que vacinas eram perigosas – sobre o imunizante da Pfizer, disse à população que, ‘se você virar um jacaré, é problema seu”.
Atuando como um anti-líder de uma nação, Bolsonaro contradiz a opinião científica desde o início da pandemia, estimulando a população a descumprir as medidas básicas de proteção contra a doença, e até mesmo cortando fundos para as universidades públicas e os ministérios da Ciência e Educação, desde o início de seu mandato, em 2019.
Na contramão dos especialistas de saúde, Bolsonaro se recusa a usar máscara facial, mesmo após ter sido infectado, promove aglomerações em eventos oficiais, e ironiza o drama daqueles que sofrem com a pandemia.
Dizendo-se preocupado com a economia, o presidente ataca os governadores que adotaram medidas de restrição de atividades em seus Estados – ele os chamou de “tiranos”.
Sem plano nacional de combate, o surto do coronavírus foi alimentado com a disseminação de suas variantes, principalmente a chamada P.1., que surgiu na Amazônia em novembro do ano passado.
Segundo o epidemiologista Pedro Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), três a cada quatro mortes por covid no Brasil poderiam ter sido evitadas não fosse o trabalho “vexatório” de Bolsonaro.
Socialistas reagem às mortes
O líder da Oposição na Câmara, deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), afirmou que a marca de 400 mil mortes em decorrência da covid-19 no País foi “impulsionada pelas omissões do governo federal”.
“Com risco de mais uma onda de infecções, o Brasil chega à triste marca de 400 mil mortos por covid-19, uma tragédia impulsionada pelas omissões do governo federal. Força aos que sofrem com as consequências de tanto descaso! Sairemos dessa juntos”, escreveu o parlamentar em seu perfil no Twitter.
O deputado federal Luciano Ducci (PSB-PR) também lamentou as mortes. “Já são mais de 400 mil vidas perdidas para a Covid. Não são CPFs cancelados, são histórias, são pessoas que importavam para suas famílias e amigos. É preciso respeitar a ciência, é preciso valorizar a pesquisa, é preciso cada vez vacinar mais e mais rápido”.
Camilo Capiberibe (PSB-AP) também criticou o presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia. “O Brasil atingiu a trágica marca de 400 mil mortos pela COVID-19. São milhares de histórias interrompidas. Muitas evitáveis se tivéssemos uma estratégia nacional de enfrentamento à pandemia liderada pelo presidente. Infelizmente Jair Bolsonaro
se dedicou a sabotar essa tarefa”, disse em seu Twitter.
“Faltam vacinas. Faltam políticas para os brasileiros não passarem fome e as empresas não fecharem. Falta governo”, complementou.
“Quatrocentas mil vidas perdidas. Vou repetir, 400.000 MIL VIDAS ceifadas pelo vírus e pela ignorância. Não são números, não é estatística, são pessoas. Meus sentimentos”, lamentou o socialista Aliel Machado (PSB-PR).