Tadeu Alencar *
Custa crer no que a presidente Dilma Rousseff afirmou, nesta segunda-feira, de que só tomou consciência da gravidade da crise depois das eleições. Lembro-me perfeitamente bem de quando o então presidente do Partido Socialista Brasileiro e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em janeiro de 2013, fora visitar a presidente em Aratu, alertando sobre a necessidade de corrigir os rumos da economia e sobre a ausência de diálogo do governo.
A presidente pareceu ouvir com atenção, e propôs uma conversa em Brasília, dias depois. A conversa aconteceu no gabinete presidencial, assistida apenas por Gilles Azevedo, então seu chefe de gabinete. Na ocasião, o governador Eduardo Campos reafirmou a necessidade de correção de rumos, já que era iminente uma drástica queda da atividade econômica, com inflação, desemprego, juros crescentes, advertindo que as medidas anticíclicas de desoneração, eficazes na crise de 2008, já não se mostrariam adequadas.
Por outro lado, como aliado histórico, reiterou as preocupações com a ausência de diálogo, que passara a ser uma característica da articulação política do governo federal. Fez ainda, e finalmente, um alerta de que o pacto político em vigor em Brasília, pelo seu matiz conservador e refratário a mudanças profundas, sem uma estratégia para enfrentar os desafios colossais acumulados pelo Brasil, já não responderia à nova agenda da cidadania plena, sucedendo e aprimorando os programas de inclusão social, que foram e são essenciais à redução das desigualdades.
A presidente Dilma ouviu, arregalou os olhos, disse que Eduardo ainda sentaria naquela cadeira e pediu apoio, comprometendo-se a promover as correções sugeridas. Voltamos à noite ao Recife, lembro-me bem, Eduardo animado, acreditando numa mudança de conduta que os meses seguintes se encarregariam de negar.
Entre uma cena e outra as manifestações de junho de 2013 revelaram – de modo impactante – a necessidade de mudanças profundas. A frustração dessa expectativa culminou com o desembarque do PSB do governo e com a campanha presidencial, em que tanto Eduardo quanto Marina apontaram os graves problemas vivenciados pelo País, enquanto a presidente-candidata seguia com o seu mundo perfeito.
Em sete meses de 2015, 500 mil empregos desapareceram, junto com a credibilidade presidencial. Crise econômica grave, crise política, ética e federativa, que se entrelaçam e se retroalimentam, sem que o governo consiga organizar um roteiro consistente de sua superação.
Por outro lado não podemos, em nome da inépcia do governo, pretender retira-lo à força, como se isso fosse bastante à resolução de nossos tantos problemas. Temos que zelar e respeitar a democracia, de modo reverencial. Ela custou caro ao Brasil. Deixemos as instituições funcionarem, elas têm dado mostra de uma vitalidade cheia de esperança. A presidente Dilma, que acusou Eduardo, Marina e Aécio de “cegueira tecnocrática”, parece ter furado os olhos. Ela não tinha e não tem o direito de desconhecer a gravidade da crise, porque a função elevada que exerce não lhe permite tamanha liberalidade.
Essa é a situação do País: um governo reeleito que não goza da confiança do povo. É grave. Mas a pauta de quem a ele se opõe, em momento tão delicado da vida brasileira, não pode ser a sua derrocada. É preciso mais. É preciso apontar caminhos seguros, ideias, projetos, para além dos muros dos partidos políticos – hoje cada um prega soluções que melhor atendam aos seus interesses – que possam oferecer saídas ao labirinto em que fomos lançados. Estamos todos pensando no que é melhor para si, quando deveríamos pensar: o que é melhor para o Brasil?
• Deputado Federal (PSB-PE)