O PSB, no plano nacional, é aliado do PT desde 1989, quando participou decisivamente, ao lado do PCdoB, da constituição da Frente Brasil-Popular, responsável por uma das mais notáveis campanhas presidências de nossa história republicana. Fomos dos primeiros a apoiar a candidatura Lula, já o fazíamos em 1988 no início das articulações, porque compreendíamos a importância político-histórico daquele projeto, porque entendíamos que a aliança com o PT era a mais coerente, mas o apoiamos porque se tratava de uma candidatura de esquerda e de Frente.
O PSB sempre defendeu e praticou a política de frentes. No regime militar, a frente reuniu as forças de todos os matizes que atuavam na resistência à ditadura e na defesa da redemocratização. Alcançada esta, defendemos a frente de esquerda. Desde nossa reorganização, em 1985, a política de frente faz parte de nosso Programa e de nosso Estatuto. Defendemos essa linha com firmeza, mesmo ao sacrifício de algumas eleições, mesmo quando nosso principal aliado, o PT, praticava a unilateralidade das candidaturas próprias como tese e projeto isolado de crescimento, ao arrepio na maioria das vezes, da realidade objetiva que clamava pela união das forças de esquerda.
Ao PT e principalmente ao presidente Lula, tem sido fiel o PSB, e aliando permanecera enquanto seus projetos puderem ser partilhados na igualdade do respeito mútuo e no respeito às eventuais divergências de tática. Lutou com denodo pela eleição e reeleição de Lula, sustentou (com a responsabilidade de gerir Ministério) seus dois governos, lutou pela eleição da presidente Dilma, sustenta seu governo e dele participa com zelo e orgulho. Jamais faltou aos governos Lula e Dilma em seus momentos de crise, dificilmente outro partido da base aliada terá sido tão fiel na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Aliança entre iguais compreende, como argamassa, independência que não rima com alinhamentos automáticos. Somos partidos que se respeitam.
Aliado leal, o PSB cultiva (como devem cultivar todos os partidos que não são meramente siglas) seu próprio projeto, seus próprios objetivos e sua forma peculiar e socialista de buscar o poder na companhia das forças de esquerda fortalecidas pelo apoio das crescentes camadas progressistas e democráticas de nossa população.
Essas observações se tornaram necessárias em face da frivolidade com a qual a média dos comentaristas, influenciando reações provincianas, se reporta ao dito ‘distanciamento’ entre o PSB e o PT, atestado pelo simples fato de o PSB ter candidaturas próprias em Recife e Fortaleza e o PT ter decidido lançar candidato próprio na disputa em Belo Horizonte, esquecidos, PSB e PT do sucesso em que se constituiu política e eleitoralmente a aliança que levou Márcio Lacerda à Prefeitura em 2008.
A frivolidade esquece-se de que eleição municipal é mesmo fenômeno municipal, paroquial, e, assim, sujeito à lógica da vida local, ou seja, muitas vezes em distonia com o quadro nacional.
A explicação é vária. Pode ser a pobreza de nossas estruturas partidárias, pode ser a mediocridade do debate ideológico, pode ser a despolitização da política, pode ser, até, o pragmatismo que, como cupim insaciável, devora as entranhas de nossos partidos. Pode mesmo ser a espetacularização da política, a preeminência da campanha televisiva e, por força dela, a busca de alianças partidárias sem viés ideológico, mas simplesmente para compor tempo viável no programa eleitoral.
Pode ser tudo isso e pode ser nada disso, mas seja qual for a explicação ela não alterará a consequência objetiva, que é a lógica local, do pleito específico, orientando as coligações.
Há, porém, consabidamente, uma exceção e esta é o pleito na cidade de São Paulo, o qual, como tudo o que ocorre no principal Estado da Federação, extrapola seus limites territoriais. Por isso mesmo, em face das eleições paulistanas, a direção nacional do PSB tomou a si a condução política do processo eleitoral. Este cuidado era homenagem à qualidade da candidatura Haddad, mas era, acima de tudo, o reconhecimento da importância do pleito e de sua significação nacional. Além de travar-se na mais importante cidade do país, o apoio ao candidato do PT representava e representa a melhor opção para as forças progressistas do País, no enfrentamento da direita e do neoliberalismo arcaico representado pela envelhecida e envilecida candidatura de José Serra. Nossa vitória, ali, é estratégica porque ali se trava a verdadeira luta contra o atraso e as elites perversas. Ali, fossem quais fossem os prejuízos, não poderíamos concorrer para que o interesse paroquial sobrelevasse os compromissos com a política.
Por isso, em nosso primeiro encontro com o presidente Lula, sem atender a qualquer ordem de pedido, e sem condicionantes, o PSB, pela palavra do presidente Eduardo Campos, assegurou seu apoio a Fernando Haddad. Demoramos a anunciar o óbvio, conhecido de toda a imprensa, porque queríamos entregar ao nosso candidato, como o fizemos, um partido unido e preparado para o embate eleitoral. Ao cabo, oferecemos ao PT para a composição da chapa o melhor quadro de que dispúnhamos.
O resto é sabido.
Sem eco, o PSB vem tentando explicar a óbvia especificidade paulista e paulistana, e, dela decorrente, que a decisão de apoiar Haddad resulta de processo absolutamente desapartado de todas as demais sucessões, cujo encaminhamento foi conduzido pelas artes e circunstâncias eleitorais e políticas locais e tratadas, pois, cada uma, de forma autônoma.
No Recife, a candidatura própria nos foi imposta pela lamentável crise do PT, que, ao fim e ao cabo, chega ao pleito ainda dramaticamente dividido, e, por essa razão, podendo ameaçar a esquerda pernambucana com a derrota eleitoral, ou seja, dito pela mão inversa, nos acenando com o retorno ao poder daquelas mesmas forças que, juntos, PSB e PT lograram derrotar. Esquecidos nossos companheiros de que tais forças, alimentadas pelas reacionárias elites locais, permanecem vivas e fortes em condições de ameaçar a hegemonia da Frente Popular.
Preservá-la é nosso dever.
Ao cabo de meses de conflitos domésticos, verifica-se a persistência dos conflitos pessoais, sobreviventes mesmo ao cabo da indicação da candidatura senador Humberto Costa.
Este quadro obrigou o PSB a lançar aquela candidatura que pudesse manter unida a Frente Popular, ponto de partida sine qua non para a vitória eleitoral, fundamental por todos os motivos, inclusive para fortalecer a sustentação do governo da presidente Dilma, governo que nos honra e nos enche de contentamento e orgulho. Até aqui, os dados da realidade sugerem que nossa alternativa em Recife atende às exigências do processo político, porque é preciso tirar consequências do fato de estarem aliados à candidatura de Geraldo Júlio, do PSB, todos os partidos da Frente Popular do Recife, menos, o PT, e à Frente soma-se o PMDB. E não há razão para estranhar o apoio oferecido pelo PMDB do senador Jarbas Vasconcelos, nosso adversário de tantas campanhas, pois, em São Paulo, por exemplo, PT e PSB, corretamente unidos em torno de Haddad, estão coligados eleitoralmente com adversário histórico desde a ditadura, o deputado Paulo Maluf.
Nossa estratégia em Recife é clara e parece factível: assegurar a presença da esquerda no segundo turno. Lá estaremos, com Geraldo ou Humberto, e, então, juntos novamente estaremos, como estivemos em 2006, após a civilizada disputa do primeiro turno.
O desfecho de Fortaleza decorre da mesma lógica, pois igualmente atende à necessidade de preservamos em nosso campo a Prefeitura, necessidade ameaçada pela crise da administração municipal e a dificuldade de encontrar como candidato um nome que unisse as forças de nosso campo.
A lógica que reúne contrários é a mesma que afasta semelhantes e, assim, em Manaus, nosso candidato, Serafim Corrêa, o único da esquerda no pleito daquela capital, não obteve o apoio nem do PT nem do PCdoB, que também não apóiam a reeleição do prefeito Luciano Ducci, do PSB, em Curitiba. Nessa cidade, o PT entendeu ser mais coerente apoiar a candidatura do deputado Gustavo Fruet, ousado quadro da direita acoitado no PDT, e o PCdoB entendeu como mais eficiente apoiar a candidatura de um deputado conhecido apenas como ‘o filho do Ratinho’.
No Rio de Janeiro PT e PSB estão aliados com o PMDB embora já alimentem o projeto da candidatura do senador Lindenberg de Faria para as eleições de 2014.
Em Porto Alegre, a base do governo Tarso Genro está dividida. PDT, PT e PSB-PCdoB, coligados, têm candidaturas próprias.
É a lógica provinciana a mesma que prevalece nas eleições de João Pessoa, onde nossa candidata à prefeitura, que tem o apoio do PCdoB, não conseguiu a adesão do PT.
Nada disso, porém, põe em risco a aliança nacional desses partidos, responsáveis pelo projeto político que ensejou os governos de centro-esquerda de Lula e Dilma, experiência que está longe de esgotar-se. Nosso compromisso com a continuidade do projeto de centro esquerda, ora liderado pela presidente Dilma, não entra em contradição com nosso desejo, legítimo e necessário de crescimento. Pelo contrario, quanto mais fortes os partidos de esquerda, melhores serão nossas possibilidades de vitória e de sustentação de governos como os de Lula e Dilma.
* Roberto Amaral é Vice-Presidente Nacional do PSB.