O crescimento da obesidade infantil no País foi tema de seminário realizado, nesta terça-feira (22), pelo deputado Alexandre Roso (PSB-RS), na Câmara. O assunto é motivo de grande preocupação entre especialistas. Pesquisas recentes mostram que 30% das crianças com idade entre 5 e 9 anos estão acima do peso e 15% são obesas. O resultado é o surgimento de doenças crônicas como hipertensão, diabetes, problemas renais e até alguns tipos de câncer.
Na abertura do evento, o líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), lembrou que prevenir é a melhor solução. “Deixar chegar o problema é deixar chegar a doença”, salientou. Beto também defendeu a aprovação do Projeto de Lei nº 3.874/12, de autoria de Roso, que cria a Semana de Mobilização Nacional contra a Obesidade Infantil. “É preciso levar a discussão para as escolas, para a comunidade e para toda a família, e escolher uma semana do ano para fazer isso de maneira mais intensa, é fundamental.”
Já o deputado Alexandre Roso enfatizou a necessidade de investimento em políticas públicas que auxiliem na prevenção da doença, principalmente aquelas de incentivo à prática de atividades físicas. “O que vemos atualmente são ações para quando o problema já existe, e não para a prevenção.”
Desde 1999, o Ministério da Saúde (MS) desenvolve ações e investe em políticas públicas por meio da Política Nacional de Alimentação e Nutrição, como explicou a coordenadora de Alimentação e Nutrição da Pasta, Patrícia Constante Jaime. A representante do MS lembrou que a população brasileira experimentou grandes transformações sociais que acarretaram profundo impacto na diminuição da desnutrição no País. “Por outro lado, observamos um aumento do excesso de peso que nos apontou um novo cenário de problemas relacionados à alimentação e nutrição. Esse é nosso desafio. Acabar com a desnutrição sem deixar de lidar com a questão da obesidade, especialmente entre as crianças”, ressaltou.
De acordo com a nutricionista Sophie Deram, a mudança no meio ambiente foi decisiva para o aumento da obesidade infantil em todo o País. “Há 30 anos, lutávamos contra a desnutrição. Hoje, a grande vilã é a obesidade.” Sophie acredita que o rápido processo de urbanização e de industrialização foi fundamental para modificar a forma da população se alimentar. “A indústria trouxe muitos alimentos atrativos para as crianças e para os jovens, só que nem sempre saudáveis.”
Hábitos – A mudança de hábitos foi apontada pelos especialistas como a principal maneira de combater a doença, especialmente entre as crianças. “Hoje existe um desestímulo à prática de atividade física. As crianças são estimuladas a ficar no computador, no videogame ou no celular”, observou a representante da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), Maria Edna de Melo.
Segundo ela, a modificação desse comportamento é fundamental. “Mas é preciso entender que essa mudança envolve toda a família. Envolve também a escola e todo ambiente no qual a criança transita”, acrescenta.
O presidente do Departamento de Obesidade Infantil da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, Paulo César Alves da Silva, foi enfático ao afirmar que os pais devem investir em atividade física desde cedo, para que vire um hábito na vida das crianças. “Sem prevenção da obesidade, nós vamos assistir uma tragédia na saúde nacional.”
Influência – As propagandas para crianças também são motivos de discussão quando o assunto é o combate à obesidade infantil. Isso porque, segundo a representante do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, Ekaterine Karageorgiardis, dependendo da faixa etária, a criança não entende a diferença entre a comunicação mercadológica e um desenho que ela assiste. “Ela não entende que aquilo é feito para convencê-la a querer o produto. Nesse cenário, elas acabam sendo promotoras de venda”, explica.
Para Ekaterine, o aumento do consumo das chamadas guloseimas está diretamente relacionado ao estímulo dos meios de comunicação. Pesquisas apontam que, no Brasil, as crianças influenciam em até 80% as decisões de consumo das famílias.
O Código de Defesa do Consumidor traz dispositivo que tratam da propaganda abusiva e enganosa. Assim como o Estatuto da Criança e Adolescente, que também dispõe de uma série de mecanismos de proteção, inclusive na área da publicidade, conforme lembrou Ekaterine. “Existem mecanismos legais, mas eles não são bem aplicados. Por isso vemos a necessidade de políticas específicas. Precisamos também de mecanismos mais eficazes de fiscalização.”