“O setor energético vive hoje seu pior momento em 40 anos.” Com essa frase o pré-candidato à Presidência Eduardo Campos resumiu o diagnóstico feito nesta sexta-feira pela Oficina de Política Energética, discussão promovida pela Fundação João Mangabeira (FJM) e a aliança PSB/Rede/PPS/PPL que servirá como subsídio para a confecção do Programa de Governo. A população brasileira não tem a dimensão real da atual crise energética por conta da falta de transparência do governo federal, afirmou Campos, lembrando que a presidente Dilma está à frente do setor há 12 anos, desde o início do governo Lula.
“Indicadores mostram que temos 46% de chances, quase um cara ou coroa, de, até dezembro, termos problemas sérios no fornecimento de energia”, disse o ex-governador pernambucano, citando dado fornecido pelos participantes do encontro. “O governo já endividou a população para postergar aumentos de energia sem consultar a população. O governo não pode mentir para o povo por interesses eleitorais”, disse. “Tem jeito de superar essa crise, se o governo tiver responsabilidade. Até agora não temos visto responsabilidade do governo”.
A Oficina de Política Energética reuniu mais de 40 pesquisadores e representantes das principais associações do setor. Os debatedores concordaram com a necessidade de ampliar a capacidade de geração e com a importância de que isso seja feito por diferentes fontes de energia. Nas palavras de Marina Silva, pré-candidata à Vice-Presidência, uma das grandes “maldições pode ser a maldição da fartura”. “A gente tentado colher sempre da mesma árvore e beber sempre da mesma fonte. E, quando essa fonte se esgota, a gente fica sem outras possibilidades”, lembrando as consequências que o país enfrenta em razão do menosprezo do governo em relação a fontes renováveis, como a energia eólica e a solar.
Marcos Jank, diretor da BRF e ex-presidente da Única (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), lembrou que a matriz energética renovável no Brasil era 47% em 2009. Caiu para 43% no ano passado e vai cair agora para 42%.
Elizabeth Farina, atual presidente da Única, falou sobre a importância de o país aproveitar o grande leque de fontes energéticas de que dispõe. Disse que o setor do etanol pode fazer contribuições importantes na produção de energia. Afirmou que há hoje 384 usinas, todas produtoras de energia a partir do bagaço da cana-de-açúcar, mas apenas 40% exportam energia para o sistema energético do país. Em razão dos preços administrados da gasolina, o setor está perdendo sua potencialidade, “com o risco de perder o setor inteiro”. Nas últimas quatro safras, 44 usinas fecharam, lembrou Farina.
O professor Ricardo Abramovay, da USP (Universidade de São Paulo), afirmou que vivemos hoje uma revolução em energia renovável. Citando estudo da consultoria Mckinsey, disse que “o crescimento tanto da oferta como o declínio dos custos de produção da energia solar e da eólica são de natureza exponencial”. O mundo está aproveitando essas energias, enquanto o Brasil, mesmo tendo um enorme potencial por suas condições naturais, “não está sabendo aproveitar essa chance”, afirmou Abramovay.
Sérgio Leitão, do Greenpeace, lembrou que o Plano Decenal de Energia não tem uma única linha sobre energia solar. Disse ser necessário acabar com o “modelo caduco” de planejamento do setor, que “continua fazendo demanda de energia baseado em curva de crescimento econômico, quando na Europa desde os anos 80 não se faz mais assim”. A pergunta, segundo Leitão , é: “O que eu preciso fazer para, com menos energia, produzir mais unidade de PIB”.
Mario Menel, presidente do Fórum de Associações do Setor Elétrico (Fase), afirmou que questão do planejamento é hoje um dos principais desafios do setor. “Hoje temos um deslocamento total entre o que é planejado e o que é executado. Por uma razão simples. No atual sistema de leilão, a matriz brasileira é feita pós-leilão. Faço leilão e depois vou compor minha matriz. É mero acaso se ela coincidir com o planejamento que eu fiz antes do leilão.”
Durante a Oficina de Política Energética, entidades entregaram documentos com sugestões ao setor a Eduardo Campos e Marina Silva. Entre elas, a Fase, a ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) e o Greenpeace. Entre outros, estiveram na oficina Mario Veiga (PSR), Élbia Melo (ABEEólica), Cláudio Sales (Acende Brasil), Reginaldo Medeiros (Abraceel), Luiz Fernando Leone (Apine), o sociólogo, Eduardo Viola, os economistas Eduardo Giannetti da Fonseca e Demétrio Carneiro, o filósofo Márcio Santilli e o engenheiro Miguel Manso. Esta foi a segundo oficina promovida pela aliança PSB/Rede/PPS/PPL. A primeira foi sobre Política Econômica.