
“Se o sistema político não for capaz de responder às demandas de renovação da sociedade, estaremos condenados a viver numa crise que nunca termina”, afirma Benjamin. Foto: Humberto Pradera
O cientista político César Benjamin afirmou que a atual crise brasileira se iniciou no segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff e piora, a cada dia, com o governo de Michel Temer. Para ele, o presidente adota uma agenda liberal-conservadora que, dificilmente, seria aprovado numa eleição direta.
Benjamin participou da conferência sobre “A realidade e a perspectiva social e política da sociedade brasileira”, junto com Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva, sob a mediação do presidente da Fundação João Mangabeira, Renato Casagrande.
Em sua apresentação, Benjamin disse que há três tipos de crise em andamento no país, de curto, médio e longo prazo. A primeira é a crise política e de governo, que está relacionada com 2018. A segunda é o esgotamento do ciclo de crescimento iniciado em 1980. A terceira crise tem origem na ideia de que o Brasil “nunca daria certo”, algo dito desde o período colonial.
O Brasil se desenvolveu rapidamente ao longo de 50 anos, mas a economia perdeu impulso após esse período, nos anos de 1980, conhecida como “década perdida”. Entretanto, ponderou Benjamin, do ponto de vista político, esta foi uma importante década porque permitiu uma profunda renovação da política, da sociedade civil e das instituições. “Transitamos da ditadura militar para a Nova República, tivemos o ato mais simbólico com a promulgação da Constituição de 88 e foi nessa época que o PSB se reorganizou”, recordou o cientista político.
A terceira crise, de longo prazo, tem origem no Brasil colônia e perdura até os dias atuais, baseada na ideia de que o país “nunca daria certo”.
O atual secretário municipal de Educação do Rio de Janeiro explicou que a descoberta do Brasil e suas potencialidades permitiram a construção de um projeto nacional de país no século 20.
“Foi no século 20 que transitamos para uma economia industrial, urbanizamos nossa população, construímos um estado modernizado. O Brasil foi construindo as bases daquilo que seria o esboço de um projeto nacional”, disse. Contudo, a posição natural do Brasil no mundo é periférica em relação a outros países e é preciso fazer um esforço interno para mudar isso, avalia.
“Se nós perdermos essa capacidade de análise interna e da ideia de um projeto nacional, o mundo nos leva para essa posição natural. E aí está o fundamento da nossa crise contemporânea”, afirma.
Para Benjamin, a representação política no Brasil dedica sua capacidade de trabalho e de compreensão a gerir essas crises, mas não há condições de superação para 2018. Em sua opinião, a força política renovadora do Brasil no século 21 será aquela que conseguir trabalhar com essas três dimensões da crise.
“Se não construirmos essa força, se o sistema político não for capaz de responder minimamente às demandas de renovação da sociedade, estaremos condenados a viver submergidos numa crise que nunca termina, até que a própria sociedade, de alguma maneira, encontrará uma forma de ruptura que pode ser uma monstruosidade”, ponderou.
O secretário Benjamin afirmou que a principal tarefa de um partido é olhar para si, para sua capacidade e reconhecer que precisa aprimorá-la. Aliado a isso, virá a oportunidade. “Não há milagre, há a necessidade de construirmos, na sociedade brasileira, instituições políticas, como o PSB, sociais, culturais que possam voltar a nos ancorar na ideia de um projeto nacional pra que o Brasil possa voltar a ter a capacidade de fazer o esforço endógeno necessário para recusar a posição em que o mundo o coloca”, afirmou Benjamin.
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Assessoria de Comunicação/PSB Nacional