O maior desafio da classe política brasileira é entender e considerar o que as pessoas pensam e querem. A opinião é do presidente do Instituto de Pesquisa Locomotiva, Renato Meirelles, que participou nesta sexta-feira (11) da conferência sobre “A Realidade e a Perspectiva Social e Política da Sociedade Brasileira”, durante o seminário comemorativo dos 70 anos do PSB, em Brasília.
Sob a mediação do presidente da Fundação João Mangabeira (FJM), Renato Casagrande, o painel também contou com a participação do secretário municipal de Educação do Rio de Janeiro, César Benjamin.
Em sua apresentação, Meirelles mostrou a pesquisa “Políticas públicas pela lógica da demanda”, que revela a visão dos brasileiros sobre o país. “O nome tem a ver com o que talvez seja o maior desafio da classe política atual que é entender e considerar o que as pessoas pensam e querem”, justificou.
O comunicólogo destacou que quatro em cada cinco brasileiros se consideram classe média. Metade das famílias possui uma renda total menor que R$ 2,3 mil reais, 90% têm uma renda familiar menor do que R$ 6.750 reais e os 5% mais ricos têm uma renda familiar inicial de R$ 10 mil reais. Entretanto, avaliou Meirelles, as políticas públicas precisam ser feitas para 100% da população, priorizando os que mais necessitam.
“Só que quem discute política, na prática, são os 10% mais ricos. Então, o que existe hoje é um abismo entre quem pensa, formula e decide as políticas públicas no Brasil e a grande maioria da população brasileira que demanda essas ações”, criticou o presidente do Instituto.
Para Meirelles, as classes econômicas A, B e C do Brasil se transformaram e alguns estereótipos e paradigmas que serviam para classificar a população de acordo com o seu capital deixaram de fazer sentido. Segundo a pesquisa do Instituto Locomotiva, por exemplo, 80% dos jovens da população da classe C possuem smartphone com acesso à internet, o que há alguns anos era considerado artigo de luxo, e 73% das pessoas das classes A e B (que correspondem a 25% da população brasileira), considerados formadores de opinião, estudaram em escolas públicas. Ou seja, já não há uma segmentação tão expressiva.
“O bolso deixou de ser o único vetor de formação de opinião pública. Nessa realidade em que o capital cultural já não conversa com o capital econômico, a gente precisa mudar as regras de medidas baseadas no século 20 para entender os cidadãos do século 21”, afirmou.
O momento de insatisfação política por que passa o Brasil é chamado de crise de perspectiva, segundo a pesquisa. Já na época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014, as pessoas queriam uma real mudança. Mas, depois da decisão que culminou na saída da presidente, a população percebeu que os políticos não entenderam esse desejo.
Para 73% dos brasileiros, o país chegou ao fundo do poço e 91% estão insatisfeitos com os governantes do país. A desconfiança em relação à classe política não se alterou após o impeachment e a crise de perspectiva não mudou. Apenas 12% confiam nas lideranças políticas do Brasil e 21% acreditam que a corrupção no atual governo é menor do que no anterior. Mas 84% não sabem dizer um nome capaz de tirar o país da crise.
“Ou isso muda ou o Brasil implode. O descrédito da população é tão grande que apenas 49% acham que o país vai melhorar no próximo ano”, afirmou Meirelles.
Para superar a crise, é preciso aumentar a conexão entre as demandas do cidadão e os mecanismos de escuta do Estado, destaca a pesquisa. “A busca da eficiência deveria ser uma busca da civilização contra a barbárie e não contra a esquerda e a direita”, finalizou Meirelles.
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Assessoria de Comunicação/PSB Nacional