O deputado do Partido Socialista Obrero Espanhol (PSOE), Ignácio Sánchez Amor, traçou nesta quinta-feira (10) um mapa das dificuldades que a social-democracia enfrentou no mundo, no decorrer da história, e que ainda terá de superar no presente e no futuro. Ele foi um dos palestrantes da conferência magna que teve como tema Os Desafios da Esquerda Democrática no Brasil e do mundo, durante o seminário comemorativo dos 70 anos do PSB, em Brasília.
Para Sánzhez Amor, que também é porta-voz da Comissão de Assuntos Exteriores do Congresso de Deputados da Espanha, os sociais-democratas sempre superaram essas dificuldades. “Já ouvimos falar tantas vezes na morte da social-democracia, o que não é verdade, porque o socialista democrático consegue sempre superar as dificuldades que foram lhe impostas”, contestou.
Um desses “abalos” foi ocasionado pela onda do populismo em algumas partes do mundo, como a eleição de Trump, nos Estados Unidos e a ascensão de Putin, na Rússia, e de Erdogan, na Turquia. Segundo o parlamentar, o populismo de esquerda ou de direita causou evidente “erosão” nas instituições democráticas representativas, e deve ser combatido.
Ele classificou o populismo como uma “ideia simples e irracional de fazer política”, em que líderes de direita, representados por “um povo angelical, limpo, educado e bem sucedido”, pregam um nacionalismo político acompanhado de protecionismo econômico e isolamento internacional.
Segundo o socialista, dessa equação surge uma população de “descamisados” sob o comando de “castas dirigentes” que ultrapassam os canais institucionais, criando uma relação direta com o povo, afirmou.
Sánzhez Amor citou ao menos sete grandes dificuldades enfrentadas no mundo pelas sociedades sociais-democráticas no decorrer da história. Além do populismo, está também a globalização que, segundo o socialista, desfigurou ou diminuiu o estado social com a idéia do “darwinismo social” – teoria segundo a qual a luta pela sobrevivência dos mais aptos justificam políticas neoliberais.
Esse processo também criou “ injustiças fiscais”, que consistem no pagamento de dívidas com o dinheiro público ou no desvio das receitas arrecadadas com impostos para outras finalidades que não o bem-estar social da população.
Segundo Sánchez Amor, os socialistas devem estar preparados para um outro grande obstáculo que virá: a robotização da economia, que irá reduzir milhões de emprego em todo o mundo, afirmou.
Durante a conferência, o socialista citou alguns dos êxitos do neoliberalismo. Um deles foi influenciar muitas sociedades sociais-democráticas, sobretudo na política, com ideologias em torno da valorização do dinheiro.
“Esse foi um dos grandes êxitos do neoliberalismo, essa inoculação no mundo intelectual, no mundo ideológico social-democrata. Ficamos muito perto do dinheiro, na minha opinião”, criticou.
“A política tem que voltar a ser o leme das sociedades, há que se romper com algumas inércias que nos levam para muito perto das lógicas do dinheiro”, disse.
Para superar esses e outros obstáculos que ameaçam a social-democracia e a justiça social, Sánchez Amor defendeu um modelo de governança com estados fortes, porém, não “pesados como elefantes”, com forte regulação e supervisão de mercados.
“Se há uma prática bancária lesiva, tem que ser castigada, ao contrário do que está a se fazer, em que o estado assume as falências dos bancos, e os bancos ficam livres de pagar por seus erros, e num mercado que, em teoria, deveria pagar”, defendeu.
Sánchez Amor destacou ainda que o socialismo democrático deve se voltar ao combate das novas desigualdades e reconquistar as classes sociais mais fragilizadas. “Há que ter empatia com os problemas das pessoas, que elas sintam com a gente que o problema da sociedade é o nosso problema. Há também que desenvolver sistemas de re-distribuição e de pré-distribuiçao para que não haja tanta desigualdade na sociedade, afirmou.
O socialista defendeu também transparência nas contas públicas, o fim dos chamados “paraísos fiscais”, e a criação de novos modelos de acordos comerciais que sejam pensados para pessoas, não para grandes corporações.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional