Candidata a vice-governadora de Santa Catarina pelo PSB, Bia Vargas acredita que, para exercer uma função pública, é preciso “ter empatia pela história do outro e estar disponível para servir”, afirma Bia, que é filiada ao PSB há sete anos e secretária das mulheres socialistas em Santa Catarina.
Mãe, empreendedora e voluntária social, ela se candidatou pela primeira vez a um cargo eletivo em 2020, quando concorreu como candidata a vice-prefeita em Içara (SC). Agora, nessas eleições, ela integra a chapa de Décio Lima (PT) ao governo do Estado, pela Frente Democrática.
Foi na adolescência observando as contradições sociais da cidade onde morava que enxergou na política o caminho para mudar a vida das pessoas. “Percebi que as oportunidades não eram as mesmas para todos”, disse.
Na opinião da socialista, a capacidade de um governante de transformar a realidade de quem mais precisa está em viver os problemas reais da população. “Não existe faculdade, não existe diploma pra ter essas informações. Os problemas não são sanados muitas vezes porque não temos pessoas que sentem essas dores nos espaços de poder”, analisa.
Para Bia, há um grande paradoxo no fato de Santa Catarina ser um Estado rico e possuir um grande potencial de desenvolvimento, mas, ao mesmo tempo, ter meio milhão de pessoas que passam fome. “Precisamos cuidar do nosso maior ativo, que são as pessoas.”
Leia a íntegra da entrevista:
As mulheres são a maioria dos eleitores, mas estão longe de ocupar espaços de poder, seja nos partidos, seja nos cargos eletivos. Como você acredita que é possível mudar essa realidade tão desigual?
Já estamos num caminho que está abrindo para a possibilidade de as mulheres serem candidatas, com a garantia de fundo eleitoral, mas temos ainda muito o que melhorar. É necessário que haja uma estrutura para garantir a mulher na pré-campanha. Por estarmos em menor número, como parlamentares, que são quem têm um pouco de estrutura, nós começamos de forma desigual na corrida eleitoral. A estrutura é o maior dos obstáculos hoje. Existe a violência política e um ambiente hostil para as mulheres, mas elas já estão aptas a se desenvolverem. O que nos deixa realmente impossibilitadas de concorrer de igual pra igual é a estrutura. Acredito que a estrutura vindo diretamente para a candidata e principalmente uma antecipação disso na pré-campanha é uma forma de fomentar e produzir uma quantidade maior de lideranças femininas pra que a gente acelere essa equiparação. Porque, de forma orgânica, a gente vai demorar muito ainda pra alcançar o objetivo.
Em sua opinião, o que é imprescindível para exercer uma função pública?
Para exercer uma função pública é preciso gostar de pessoas, com toda a certeza. É ter empatia pela história do outro e estar disponível para servir. Que a existência seja para servir a um propósito maior que, na verdade, é a vida como um todo. Eu acho que a vida em sociedade é o propósito de realmente quem quer assumir um cargo, uma função pública. É se doar por inteiro em função de um todo, de toda a sociedade.
Há sinais evidentes de que a política vem se afastando dos cidadãos, e de que estes têm perdido a confiança nos políticos. Mas não existe outro caminho para gerir os interesses públicos e garantir avanços sociais que não seja pela política. Como você analisa esse tema?
Realmente, os últimos anos foram marcados por essa desconstrução, no distanciamento do agente político da população. Mas eu acredito que a gente está conseguindo fazer esse caminho de volta desde 2020. Eu fui candidata em 2020 e naquele momento eu percebi que realmente existia essa distância. As pessoas repeliam o político e a política. Não queriam saber e não queriam nem votar. E foi um ano em que a gente realmente teve um número muito grande de abstenção. Mas foi o momento também que eu percebi que as pessoas estavam muito carentes e necessitadas de conversa. Não sei se foi efeito da pandemia ou não. Mas percebi uma necessidade de trocar e de ser ouvido. As pessoas queriam ser ouvidas, falar o que pensavam. A gente fez muito esse ‘olho no olho’. E foi um processo que a gente ainda está vivendo e eu acredito que nesta eleição vai ter uma virada. Que as pessoas estão retomando esse gosto e principalmente a necessidade da identificação com a pessoa que vai as representar nesse espaço de poder. As pessoas querem se identificar. Então essa distância está ficando para trás, acredito.
Eleita vice-governadora, como acredita que pode fazer a diferença em um futuro governo?
A minha formação política vem do bairro, vem do trabalho voluntário, vem da associação de moradores, ela vem do servir. Então eu acho que num governo, numa eventual vitória, acredito que a minha contribuição vai ser esse olhar certeiro na necessidade do que a população menos favorecida, da periferia. Qual é realmente a necessidade, quais são as dores dessas pessoas. A minha representação nessa campanha é justamente a maioria do eleitorado. Sou uma mulher negra, mãe, microempreendedora e periférica. Então, eu compreendo dentro desse perfil a maioria da população. Nós mulheres somos a maioria do eleitorado. Sou mãe solo também, sinto essas dores cotidianas. Então, com toda a certeza eu vou ter esse olhar atento e profundo, com conhecimento de causa. Não existe faculdade, não existe diploma pra ter essas informações. É vivendo que a gente vai aprendendo. É sentindo essas dores na pele que a gente sabe a melhor forma de resolver, de sarar. Então a minha contribuição com toda certeza vai ser esse olhar conhecedor das dores que afligem a maioria da população. Essas dores não são curadas muitas vezes por que não temos pessoas que sentem essas dores nos espaços de poder.
Na sua opinião, quais as principais mudanças que Santa Catarina precisa?
Santa Catarina está precisando ser cuidada. Santa Catrina é um estado muito rico, muito desenvolvido, é a sexta maior economia do país. Mas tem sido abandonada pelo governo federal nesses três últimos anos e meio. E também pelo governo do Estado. O governo não fez nenhuma obra para o Estado. Não tem nenhum grande investimento. Nós entregamos muito dinheiro para a União e estamos tendo um dos menores retornos já vistos. Desses cortes que o governo federal realizou no orçamento, de cada quatro reais, um real sai de Santa Catarina, é cortado de Santa Catarina. Então Santa Catarina é um Estado que está abandonado. É um Estado gigante que tem muitas possibilidades. O poder público não tem tido um olhar caridoso. Santa Catarina tem uma riqueza absurda e um potencial de desenvolvimento muito grande, mas, ao mesmo tempo, tem meio milhão de pessoas passando fome. Então nós precisamos cuidar do nosso maior ativo, as pessoas.
Santa Catarina é um Estado considerado conservador e no qual o atual presidente teve uma votação significativa. Nesse sentido, de que forma as forças progressistas podem furar essa bolha?
Acredito que a forma das forças progressistas furarem essa bolha é apontar para a realidade. Embora Santa Catarina seja um Estado muito rico, com muito desenvolvimento, é um Estado que convive com meio milhão de pessoas passando fome. Não é um número que se pode ignorar. Não é algo que a gente pode deixar pra lá. Temos cidades no Vale do Contestado, por exemplo, onde mais de 5 mil famílias não têm onde morar. Uma cidade de 30 mil habitantes. Então são números gritantes e assustadores. Eu acho que mostrar essa realidade é uma forma de tocar realmente num ponto crucial e fazer as pessoas entenderem que a tentativa de uma mudança não deu certo. Não acho que podemos considerar Santa Catarina um Estado bolsonarista porque Santa Catarina já elegeu Lula com 70% ou mais. É uma porcentagem alta tanto quanto elegeu o Bolsonaro. Então eu acho que não cabe esse título de bolsonarista para Santa Catarina, não mais.
Que mensagem você está levando nessa campanha para as pessoas?
Nessa campanha a mensagem que eu tenho levado para as pessoas é que é possível a gente sonhar, é possível a gente acreditar. É fundamental chegar aos espaços de poder nessas eleições, estas são as eleições das nossas vidas. A garantia de manter a democracia viva está nas nossas mãos. E nós estamos escrevendo a história e participando de um momento muito importante. Então eu acho fundamental que ninguém se abstenha de participar, porque vai ser um momento que vamos relembrar por muitos anos e vai ser decisivo para a manutenção do básico do básico. Eu acho que a gente tem que usar todo ativo que pudermos nessas eleições para garantir o que demorou muito pra ser conquistado, que é a democracia. É isso que está valendo nessas eleições. A nossa participação enquanto uma mulher negra é de uma grande ousadia aqui no Estado, mas que vai trazer luz para esses personagens que nunca tiveram atenção de um governo. Então é fundamental que a gente acredite que é sim possível, que viveremos novos tempos de muito sucesso, de progresso e de esperança.
Qual seu lema de vida?
Meu lema de vida é, de alguma forma, sempre que possível, ou de qualquer jeito é tentar garantir o bem-estar de quem está perto e principalmente dar condições de oportunidade para todos. Uma que me fez perceber como caminho de mudança foi justamente esse conflito em que em algum momento eu entrei na adolescência, quando percebi que as oportunidades não eram as mesmas para todos. E ali eu entendi que alguma coisa tinha de errado e que através da política a gente conseguiria fazer algo mais amplo. Então eu acho que meu lema de vida é proporcionar oportunidade para todos.
Assessoria de Comunicação/PSB nacional