Presidente Nacional e pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos reafirmou ontem que caberá ao diretório estadual do partido decidir pelo lançamento de candidatura própria ou pelo apoio a alguma das candidaturas postas ao governo do Estado de São Paulo, incluída a do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Segundo ele, ainda que a direção nacional do PSB defenda o nome do deputado Márcio França para a disputa, a decisão conjunta da seção paulista (cujos diretórios municipais realizarão congresso no próximo fim de semana, já preparando o Congresso estadual da legenda) será acatada. Ele prevê um debate interno qualificado. “Vão ter aqueles que vão defender a tese da candidatura própria, como a direção nacional defendeu publicamente; vão ter os que defendem a aliança com algumas das alternativas que estão colocadas, entre elas, a aliança com o Alckmin. Mas o fechamento dessa posição vai ser no Congresso (estadual do partido), dia 21.”, disse o presidenciável. “Não dá para, nesse momento, ter uma posição. A posição do PSB será uma posição respeitando o fórum democrático do partido”, sentenciou.
Em visita ao Rio Grande do Sul, Eduardo minimizou eventuais divergências com a Rede Sustentabilidade, liderada por sua candidata a vice, a ex-senadora Marina Silva, e os demais partidos da aliança – PPS, PPL, PRP e PHS. Ele contabiliza consenso em torno dos palanques de 15 dos 27 Estados brasileiros. “É um feito extraordinário. Nossos adversários não conseguiram isso a não ser em meia dúzia de situações e nós já conseguimos em 15 Estados”, frisou, citando São Paulo como um dos casos em que a convergência ainda não foi possível, especialmente por que todos os partidos da aliança já tinham suas candidaturas lançadas, inclusive para o Senado Federal.
Eduardo Campos passou o dia de ontem no Rio Grande do Sul, onde cumpriu intensa agenda. O presidenciável visitou um centro público de tratamento de dependentes químicos e participou de um almoço com lideranças no Centro de Tradições Gaúchas, na cidade de Cachoeirinha. Ele também visitou Porto Alegre, onde fez uma palestra para cerca de 300 jovens de um curso pré-vestibular. Na capital, Eduardo participou de ato político na Casa do Gaúcho e visitou a Santa Casa. “Existe um problema no Rio Grande do Sul que o governo precisa discutir, que é a situação fiscal do Estado. O Estado se encontra literalmente esgotado do ponto de vista fiscal e o Brasil precisa encontrar uma saída para que os serviços públicos não entrem em colapso. Para que o baixo nível de investimento continuado não leve a infraestrutura construída ao longo das últimas décadas a uma situação de degradação, impactando na competitividade do Estado”, avaliou. “Vejo também outra questão objetiva: um conjunto de obras que são devidas, prometidas e que não foram feitas; outras iniciadas e que não foram entregues; e outras que sequer foram consideradas”.
ALTERNÂNCIADE PODER – Em conversa com jornalistas na capital, o presidenciável voltou a defender a troca no comando do governo como parte importante da solução dos problemas do Brasil, especialmente a crise de confiança que agora contagia também a população. Na sua avaliação, essa crise de confiança combinada com o desejo de mudança demonstrado pelo eleitor aposentará a tradicional polarização entre PT e PSDB, forjando uma disputa eleitoral diferente em 2014. “A polarização já cansou o Brasil. Nós estamos vendo a expressão disso em vários lugares, em vários Estados. O Brasil cansou e sabe que divididos nós não vamos dar conta da agenda que temos por aí. Nós precisamos unir o Brasil em torno dessa nova agenda e, para isso, é preciso superar a polarização imposta nesses 20 anos por duas forças que já tiveram a oportunidade de governar o Brasil e quando tiveram oportunidade fizeram algumas coisas e deixaram de fazer muitas coisas”, afirmou, “Hoje, o que eles precisam deixar juntos, é que o Brasil possa ser devolvido aos brasileiros. Que a gente possa nos unir a despeito da briga que eles têm, que nós possamos brigar com os problemas do povo. Os problemas do povo são baixo crescimento, inflação, violência, a saúde, que precisa melhorar a qualidade; a educação que precisa ser prioridade. É essa agenda que vai unir o Brasil”.
Eduardo defendeu a adoção de medidas para melhorar o ambiente de negócios brasileiro, mas criticou a falta de uma política perene, previsível, do governo federal. “Isso não ajuda a criar um bom ambiente de negócio e seguro. Essa ida e vinda, não só no que tange essa questão do ingresso de capital, mas também outras questões, é que terminam por criar um ambiente que não ajuda a consolidar a confiança, que é o que precisamos retomar no Brasil”, afirmou, quando questionado sobre a decisão anunciada pelo governo de zerar as alíquotas de IOF sobre financiamentos contraídos por empresas no exterior. Revogado recentemente, o benefício foi restabelecido nessa quarta-feira.
O presidenciável voltou a alertar para o que aponta como “derretimento” das conquistas brasileiras na política e na economia. Ele enxerga o agravamento do cenário nacional, em que o ônus tem sido imposto à população (com a volta da inflação, os brasileiros que ascenderam para a nova classe média recuaram, e recuaram endividados para os estratos menos favorecidos, destacou), mas também a Estados e municípios, prejudicados pela concentração da arrecadação nos cofres da União. “Eu tenho dito que o caminho perigoso não é o da polarização, pois essa será rompida, eu não tenho dúvida; mas é o quanto estamos derretendo das conquistas, comentou. “Nunca, num regime democrático, se concentrou tanto a renda pública no governo central, nunca. Quando o Lula deixou o governo, 14,5% da receita de tributos iam para os municípios, hoje só 11. Isso é grave. A ausência de diálogo, que é reclamada de estudantes a trabalhador, empresário, é grave para a democracia, como é grave o distanciamento das instituições do Brasil real”.