Por diversos anos a propaganda eficiente fez dessa data histórica um de seus maiores argumentos em defesa de uma suposta bondade e tolerância da coroa portuguesa em relação aos negros, supondo ser a Abolição da Escravatura mero fruto da bondade e do humanitarismo de uma princesa. Como se pudesse a história ser feita por desígnios individuais, e não pela ganância e ambição dos detentores do poder ou pela garra e aspirações de um povo batalhador que resolveu mudar sua história.
O processo que resultou na abolição da escravatura pouco tem a ver com fatores humanitários, ainda que estas se fizessem presentes, o que de fato empurrou a Coroa imperial a libertar os escravos foi, em primeiro lugar, a Revolução Industrial e as forças econômicas subjacentes, acampadas paralelamente a decisão de um povo de lutar para que hoje pudéssemos viver dias melhores, o preço foi pago pelos nossos antepassados e a estes o nosso agradecimento.
Dia 13 de maio precisa ser entendido não apenas como a assinatura da lei áurea assinada pela princesa Isabel, mas como uma conquista de todos os escravos e descendentes destes, que desde o início da colonização lutaram pela liberdade, que se organizaram através de quilombos, revoltas e resistências, em nome da irmandade dos pretos, da nossa Senhora do Rosário e de todo um povo que lutou durante toda história.
Vale lembrar dessa data ainda pela luta e organização de muitos negros que verdadeiramente nos representaram, pela figura de José do Patrocínio, André Rebolsas, dentre outros, que se organizaram e lutaram pela real abolição, esse é o verdadeiro sentido do 13 de maio, falamos de um grande movimento de mobilização, grande organização cívica de luta pela cidadania, esta é a razão de comemorarmos o 13 de maio, juntamente com o 20 de novembro que é o dia de Zumbi.
Não podemos esquecer do nosso falecido líder, Eduardo Campos, que sempre incentivou o povo afrodescendente, não apenas na criação de instâncias para discutir a questão do negro na sociedade brasileira, gestos como este é fácil e muitos outros também fazem, mas Eduardo Campos sim trabalhou enquanto líder e representante com cargo público com a presença de afrodescendentes no seu governo. Entendia ser importante ter negros em todas as secretarias, órgãos, ministérios, autarquias e direção partidária, lembrando ainda que nesse 13 de maio completa-se 9 meses sem o nosso grande líder Eduardo.
Vamos repensar o 13 de maio, não de forma pessimista, não com lágrimas, vamos lembrar sim da dor passada, mas com orgulho de sermos parte desse povo, todo brasileiro é parte desse povo, direta ou indiretamente, é fundamental ver o 13 de maio como um ícone de um movimento de luta efetiva pela cidadania, assim como na época dos abolicionistas tinha o uso da flor camélia como símbolo da liberdade e libertação, temos que pensar com altruísmo, os nosso sonho e organização de cidadania, a sociedade organizada faz o pais avançar.
O PSB por sua vez tem compromisso com o avanço e o desenvolvimento das instituições democráticas, como todo partido ou segmento vive em constante mudança e aperfeiçoamento, mas é um partido que promove a liberdade e defende a justiça social. Assim como a igualdade com perspectiva da liberdade e no sentido sempre da democracia, não tem como pensar na liberdade sem pensar na questão racial e na presença do negro para constituição dessa nação.
Devemos ver o 13 de maio por uma perspectiva crítica, entender que esta data não foi simplesmente a promulgação da lei áurea, é sim fruto de todo um movimento daquela época. Colhemos hoje um fruto plantado lá atrás, a luta não foi vencida, estamos fortalecendo um cenário para que nossos filhos e netos possam usufruir de uma sociedade mais igualitária, onde a plena igualdade possa ser uma realidade.
* Valneide Nascimento é secretária Nacional da Negritude Socialista Brasileira (NSB).