O vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, afirmou ontem que o Brasil é um país com capacidade de inovação, mas esbarra no atual momento econômico, com a crise da indústria e baixos índices de crescimento, além dos já conhecidos entraves burocráticos. Esse cenário faz com que o País ainda mantenha baixo nível de competitividade no mercado internacional. “Além de não termos, ainda, uma cultura de pioneirismo consolidada, as empresas privadas nacionais não investem, porque pesquisa custa caro e nem sempre traz resultado imediato e garantido, e as multinacionais, em sua maioria, optam por distribuir a tecnologia desenvolvida e produzida nas matrizes, sem investir regionalmente”, aponta.
Cientista político, jornalista e ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Amaral participou do painel de debates “Inovação: os novos eixos do crescimento”, no Fórum Brasil, diálogos para o futuro, promovido pela revista Carta Capital em parceria com o portal de sustentabilidade Envolverde. O painel de inovação contou com a presença dos empresários Antônio Carlos Valente, presidente do Grupo Telefônica; Carlos Arruda, coordenador do Núcelo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral; Laércio Cosentino, presidente da TOTVS e Rômulo Dias, presidente da Cielo.
Segundo Roberto Amaral, no atual modelo de desenvolvimento do País, as empresas e instituições estatais acabam assumindo o papel de desenvolver e incentivar novas tecnologias, a exemplo de Petrobras, Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Na sua avaliação, outro ponto crucial que reduz a velocidade da inovação no Brasil é a dificuldade de inserção dos profissionais de áreas como Engenharia e Tecnologia da Informação no mercado de trabalho. “Para se ter ideia, 80% dos engenheiros coreanos trabalham em empresas privadas. No Brasil, apenas 10%”, reforça. Na opinião de Amaral, o setor privado tem um papel importante de contribuir para a formação específica desses profissionais, que por sua vez, participam diretamente do processo de inovação.
A redução da participação da indústria no PIB nacional também dificulta a evolução do processo de inovação – nos últimos dez anos, o índice caiu de 18% para 13%. Em paralelo, mesmo com o cenário de pouco crescimento e entraves burocráticos, há projetos e ações de financiamento à pesquisa e desenvolvimento tecnológico, que são alguns dos principais catalisadores da inovação no Brasil. Ele destacou os casos da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, empresa pública de fomento à tecnologia e inovação), do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), bem como da Lei do Bem (11.196/2005), que concede incentivos fiscais para empresas que investem em tecnologia e inovação.
Além disso, o setor privado vem demonstrando um novo ânimo para investir no empreendedorismo, injetando recursos em startups – pequenas empresas que nascem focadas em produtos e serviços em tecnologia –, para acelerar o desenvolvimento de novos negócios. São movimentos que vem ajudando a reforçar o processo de inovação no Brasil. Para Amaral, porém, ainda não é suficiente. “O grande desafio é construir uma parceria entre Estado e empresas privadas, já que ciência e tecnologia não se fazem sem investimentos e são as bases do desenvolvimento do Brasil que queremos para o futuro, um país inovador e competitivo”, completa.