O Deputado Romário (PSB-RJ) discursou durante o pequeno expediente na última quinta-feira (6) na Câmara dos Deputados em Brasília. No pronunciamento o parlamentar falou sobre a participação nas olimpíadas de Londres como comentarista de uma rede de televisão, ressaltando os pontos positivos da cidade, como mobilidade urbana, e a preparação para receber os jogos, principalmente na questão de acessibilidade.
Citou ainda, a preocupação de Londres com o legado social deixado pelos jogos, a fim de usar como exemplo no Brasil. Parabenizou os atletas e cobrou mudanças na seleção masculina de futebol. Ressaltou os atletas paralímpicos, cobrando que o evento tenha mais divulgação no Brasil.
Ao final do discurso o Deputado cobrou uma maior atuação da Presidenta Dilma e do Ministro do Esporte Aldo Rebello, para que seja feito bom uso dos recursos pelo Comitê Olímpico Brasileiro, e que haja mais transparência nessas instituições para que nas Olimpíadas do Rio em 2016, o Brasil não passe vergonha.
Leia abaixo, o discurso na íntegra:
“Senhor presidente,
Senhoras e parlamentares,
Como muitos sabem, no mês passado eu me licenciei desta Casa por 20 dias, para atender a um convite da Rede Record e atuar como comentarista daquela emissora nos Jogos Olímpicos de Londres.
Eu acompanhei com emoção as conquistas dos nossos atletas, especialmente aquelas do vôlei, do boxe, do judô e da ginástica olímpica. Vi surgirem novos heróis do esporte, como o Esquiva, que conseguem superar com seu esforço, de maneira incrível, a falta de incentivo, e honram o seu lugar no pódio, mesmo quando não é o topo.
Com a mesma frustração da maioria dos torcedores, vi a seleção masculina de futebol tropeçar diante do México na final, e conquistar uma prata de sabor amargo. Eu já disse e repito: é preciso mudar muita coisa nesse time, a começar pelo técnico, e iniciar desde já um trabalho sério de planejamento, para que o Brasil possa pelo menos ter uma atuação digna na Copa de 2014, e fazer jus à sua condição de país-sede e pentacampeão mundial. Do jeito que está, dificilmente iremos longe, apesar de o time contar com bons jogadores e até mesmo uns 2 craques.
O Brasil ficou em vigésimo-segundo lugar no quadro de medalhas, e todos nós sabemos que o talento e a dedicação dos nossos esportistas nos permitem sonhar com lugares mais altos. Podemos ficar entre os dez primeiros nas Olimpíadas do Rio, mas para isso, é preciso apoio e também planejamento.
Em Londres eu tive ainda a oportunidade de rever amigos, como o jornalista Andrew Jannings, que vem denunciando os desvios da CBF sob o comando de Ricardo Teixeira, e outras grandes figuras.
Tive também, Senhor Presidente, senhoras e senhores parlamentares, a oportunidade de ver de perto o que foi feito de positivo pelos ingleses na preparação da cidade para os jogos, e que pode servir de exemplo para nós.
Achei muito interessante ver que a prefeitura de Londres, ciente de que os Jogos são um evento passageiro, evitou a construção de elefantes brancos, de orçamento milionário. O entendimento dos britânicos parece ser o de que dinheiro público não deve ser esbanjado. Assim, foram construídas arenas provisórias para receber algumas competições. Além disso, foram adaptados prédios já existentes, e outros foram construídos com o intuito de ser reaproveitados depois das Olimpíadas. Não foi erguida nenhuma arena para 70 mil pessoas, como no Brasil. Pelo contrário: o Estádio Olímpico de Londres teve sua capacidade reduzida de 80 mil para 25 mil espectadores, tornando-se mais viável dessa forma.
Ouvi de alguns gestores que a aposta do governo local era que o legado olímpico iria favorecer as regiões mais pobres da cidade, com a geração de empregos, a adequação dos equipamentos, a valorização da área como um todo. Ou seja, o evento estaria sendo usado não apenas para promover o esporte e incrementar o turismo, mas também para reduzir as desigualdades sociais.
Fiquei também impressionado com a mobilidade urbana. Esse é um tema que preocupa milhares de brasileiros, em todas as nossas grandes cidades – mas, lamentavelmente, pelo andar da carruagem, parece que não teremos esse benefício social. Em Londres eu vi uma rede de transporte público de qualidade, que funciona, pois ônibus, táxi, metrô, trem e bicicleta são interligados de maneira inteligente, para que a cidade não pare. Além disso, existe o trem para o transporte de passageiros entre as cidades, algo que no nosso imenso Brasil ainda não se tornou uma realidade. Vi táxis adaptados para cadeirantes, e vi também os bons resultados da campanha que a prefeitura lançou em 2012, para que as pessoas se deslocassem mais de bicicleta.
Senhor Presidente,
Eu sei que as realidades dos países são diferentes, e não se pode simplesmente transplantar modelos de um lugar para o outro. Mas não se pode negar que os Jogos Olímpicos de Londres deixam bons exemplos para nós, no que diz respeito à mobilidade, à acessibilidade e, principalmente, à preocupação mais ampla com o legado social deixado pelos jogos.
Quero destacar, além disso, que os britânicos, este ano, saltaram para o terceiro lugar no quadro de medalhas, ficando bem acima do Brasil. Em Atlanta, em 1996, o Reino Unido terminou em trigésimo-sexto, com apenas um ouro, e 11 posições abaixo da gente. Acho que eles não receberam ajuda apenas de papai do céu, mas também souberam trabalhar com planejamento, muito investimento, e sem desperdiçar verba pública.
Lembro que está acontecendo, lá em Londres, a décima-quarta edição dos jogos paralímpicos, um evento que devia ter mais divulgação no Brasil – inclusive porque o trabalho dos nossos atletas e do Comitê Paraolímpico é impressionante! O Comitê Olímpico Brasileiro recebeu, nos últimos 4 anos, quase 1 bilhão de reais do Ministérios do Esporte e das Loterias Federais, e repassou muito pouco ao Comitê Paraolímpico. Mas mesmo com poucos recursos, o trabalho que está sendo realizado impressiona pela seriedade e pelos resultados que têm sido alcançados.
O Brasil já conquistou medalhas na natação, no atletismo, na bocha, no judô, e segue avançando em esportes como o futebol e o vôlei sentado. São até o momento 25 medalhas,12 de ouro, que deixam o Brasil em 8º lugar no quadro de medalhas.
Para finalizar, Senhor Presidente, essas conquistas devem ser motivo de orgulho de todos nós, e devem servir de exemplo para o Comitê Olímpico Brasileiro, que já passou da hora de deixar de ser amador. Espero, aliás, que o COB saiba usar de maneira correta os recursos que receberá nos próximos 4 anos, e que com certeza passarão de 1 bilhão de reais, e não nos faça passar vergonha nas Olimpíadas do Rio.
Era o que tinha a dizer. Muito obrigado."