
Foto: Tiago Queiroz
No mesmo dia em que o Brasil ultrapassou a triste marca de 1 milhão de casos registrados e mais de 50 mil vidas perdidas pela Covid-19, o Ministério da Saúde divulga orientações para a retomada gradual das atividades.
A portaria, publicada nesta sexta-feira (19) no Diário Oficial da União, traz recomendações “para a retomada segura das atividades e o convívio social seguro”, e afirma que cabe às autoridades locais avaliar o cenário epidemiológico para flexibilizar ou não as restrições.
Os números relacionados ao coronavírus são assustadores no Brasil, que é o segundo país a ultrapassar a marca de 1 milhão de casos, atrás apenas dos EUA. A subnotificação dos casos complica ainda mais o cenário atual.
A maior pesquisa já realizada no país para detectar, por amostragem, a exposição ao vírus, foi feita pela Universidade Federal de Pelotas e comprova a dimensão dos casos subnotificados. O estudo indicava que 2,6% da população já havia sido infectada, o dado era seis vezes maior que a cifra oficial da época da realização. Se os números forem projetados para os dias de hoje, o Brasil teria então 6 milhões de infectados.
A falta de monitoramento confiável e a ausência de uma atuação efetiva do governo federal expõe a população brasileira a um cenário de medo de insegurança.
“Lamentavelmente essa crise de dimensões extraordinárias pegou o Brasil no pior momento político da sua história. Não há, desde a independência, um líder que possa ser tão despreparado para enfrentar uma crise como Jair Bolsonaro”, avalia o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, que afirmou ainda que a “negligência do chefe do executivo no combate ao coronavírus pode ampliar ainda mais os efeitos de uma crise social e econômica que já é dramática há anos”.
Assim como os números crescentes, a ausência de um ministro da saúde titular, há mais de um mês, é outra prova da negligência do governo federal na gestão da maior pandemia a atingir o país no último século.
General Pazuello, que antes era secretário-executivo da pasta e não possui formação em saúde, assumiu interinamente o Ministério em 15 de maio após a demissão do ex-ministro Nelson Teich, que ocupou o cargo por menos de um mês.
Durante esses 30 dias de gestão, o cenário ficou ainda mais dramático já que os números de casos praticamente triplicaram saltando de 218.823 para 888.271, segundo os dados do próprio Ministério.
A atuação do militar na pasta, pouco transparente, recebeu diversas críticas por negar o repasse de informações sobre os números de casos de coronavírus no país, levando os principais veículos de comunicação a se unirem em um movimento inédito e criar um consórcio para divulgar, diariamente, a evolução e o total de óbitos provocados pela covid-19, além dos números consolidados de casos testados e com resultado positivo para o novo coronavírus.
As mudanças feitas pelo Ministério no último mês reduziram a qualidade e quantidade de dados. Houve alteração no horário da publicação – dificultando a divulgação nos veículos de imprensa – a retirada do ar do portal que divulgava o número de casos e a eliminação dos links onde estavam disponibilizados para downloads dados em formato de tabelas, usados para análises de pesquisadores.
Recentemente, Bolsonaro declarou que a situação deve permanecer dessa maneira: “Vai ficar por muito tempo (no cargo). É um bom gestor”, disse.
Para agravar as condições dos mais pobres, o programa de auxílio emergencial implementado pelo governo carece de eficiência. Mais de 10 milhões de pessoas que teriam direito ao benefício ainda não conseguiram recebê-lo.
Como dizia o sociólogo Betinho, idealizador da Ação pela Cidadania, nos anos 1980, a fome não espera e, neste momento, obriga milhões de pessoas a saírem às ruas em busca de sustento, arriscando a própria vida diante do coronavírus.