Na 25ª edição do ciclo de debates “Revolução Brasileira no Século 21” com o tema “Reforma Agrária e o MST”, realizada em uma live na noite de quinta-feira (4), o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirmou que é preciso mudar os paradigmas do desenvolvimento para que o Brasil vença o atraso, consiga realizar uma reforma agrária e se desenvolva diminuindo a exclusão e a desigualdade, dando dignidade e emancipação para a população.
O encontro também contou com a participação, como convidado, do dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, do coordenador do site Socialismo Criativo e integrante da Comissão de Sistematização da Autorreforma, Domingos Leonelli, e da coordenadora da Região Sudeste da JSB Nacional, Juliene Silva. O membro do Diretório Nacional, James Lewis, mediou o debate.
“Você quer produzir e criar um mercado interno para atender milhões de pessoas, inclusive muitos poderão até enriquecer com isso e terão o que consumir, ou você quer apenas produzir para fazer exportação, para alimentar o mundo desenvolvido e continuar o país no âmbito do atraso? E é preciso mudar não só no campo, mas o capitalismo chegou a um grau de desenvolvimento que a sua continuidade significará a destruição do planeta”, questionou Siqueira.
O socialista apontou que o modelo capitalista também chegou à exaustão com acumulação de riquezas, um grande desenvolvimento tecnológico, altas taxas de desemprego devido à automação do trabalho, inclusive no campo, e a destruição da natureza.
“O Brasil e o planeta precisam fazer uma opção pela sua continuidade ou pela sua destruição. Se a marcha da insensatez não for contida, acho que todos nós pagaremos muito caro e, sobretudo, as futuras gerações com devastações e desastres ambientais fenomenais”, afirmou Siqueira, destacando que “apesar do atraso” que o país vive não se pode deixar de ter esperança de lutar pelas coisas simples e significativas no parâmetro de um desenvolvimento.
Siqueira ainda ressaltou que, na sua opinião, o MST é o principal movimento de ativismo político e social brasileiro que, há décadas, tem demonstrado sua capacidade de mobilização e formação política da população do campo, excluída e sem-terra.
“Mais do que isso, vem avançando muito mais do que foram no passado as ligas camponesas, já que conseguiu bastante pressão para se fazer uma Reforma Agrária que ainda está muito longe do que o Brasil já deveria ter feito, mas são passos fundamentais que têm demonstrado, inclusive, não só a capacidade de ocupação, mas também de produção desse movimento, que vem tornando-se até mais importante do que muitos partidos num sistema político ‘necrosado’, que cuja necrose resultou no governo de Jair Bolsonaro, que é uma verdadeira tragédia para o país”, disse.
Reforma agrária “popular” e alimentos saudáveis
O dirigente nacional do MST, João Pedro Stédile, destacou que “está mais do que na hora” de o Brasil ter uma reforma agrária. Entretanto, ela não pode ser da forma “clássica”, mas sim “popular”, pois, segundo ele, a burguesia industrial brasileira não é nacionalista e não quer desenvolver o mercado interno integrando os camponeses, quilombolas e assalariados.
“Por isso, eu diria que um novo governo de esquerda terá que pautar um novo modelo de reforma agrária que, na minha opinião, será popular porque terá que se basear em outros paradigmas: não só pensar em dividir latifúndios, mas principalmente produzir alimentos saudáveis para todo o povo, e defendendo a natureza”, afirmou ressaltando a fome e a insegurança alimentar que assolam o Brasil atualmente.
Segundo Stédile, a reforma agrária do futuro precisa ser mais ampla e que o problema maior para superar é o modelo de produção agrícola “insustentável do ponto de vista econômico, sustentável e social”.
“Nosso problema maior não é com o tamanho das fazendas. A nova reforma agrária não é mais apenas para os sem-terra e pobres. Ela tem que ser uma reforma que mude a natureza da função social da agricultura, que preserve o meio ambiente, produza alimentos saudáveis e dê emprego e renda para a nossa gente”, afirmou.
Em sua fala, o dirigente do MST lembrou ainda que o movimento tem laços fortes com alguns socialistas históricos que participaram da luta pelos mais necessitados e pela reforma agrária como Antônio Cândido, Francisco Julião e Miguel Arraes.
Segundo Domingos Leonelli, a questão agrária no Brasil se conecta com o novo modo de produção do regime capitalista com as novas tecnologias, a inovação e a economia criativa. “Eu sei que o MST está muito atento a esse aspecto, com departamentos voltados à economia criativa e preocupados com a tecnologia. Acho que há uma perfeita compreensão do Stédile e do MST de que a reforma agrária tem que viver sua era tecnológica também. Ela compõe essa revolução tecnológica mundial e precisa adaptá-la às necessidades do nosso povo, criando indústrias e tecnologia para o povo também”.
Para Juliene Silva, coordenadora da Região Sudeste da JSB Nacional, há uma ligação entre o racismo e a questão da terra que vem desde a abolição da escravidão e a Lei de Terras no Brasil. “É um processo racial que existe ainda hoje, não só por ter sido esse um dos motivos que tenha feito os negros irem para as favelas e regiões marginalizadas, mas tambem é latente a questão da insegurança alimentar na população negra com o Brasil voltando esse ano para o Mapa da Fome”.
Assista o debate completo na íntegra abaixo:
Assessoria de Comunicação/PSB nacional