Os deputados socialistas Alessandro Molon e Marcelo Freixo, líderes da Oposição e da Minoria na Câmara dos Deputados, respectivamente, solicitaram ao Tribunal de Contas da União (TCU) uma auditoria na compra da vacina Sputnik V por parte do governo Bolsonaro, após reportagem do The Intercept Brasil mostrar que a União pagará US$ 2 mais caro que os governos estaduais pela aquisição da vacina russa.
De acordo com a reportagem, enquanto os governos estaduais negociaram o valor de US$ 9,95 por unidade, o acordo feito pelo Ministério da Saúde prevê o pagamento de US$ 11,95 por cada uma das 10 milhões de doses do imunizante, totalizando R$ 693,6 milhões. O preço é R$ 120 milhões mais caro em comparação com o acordado pelos Estados.
O encarecimento se deu porque o governo de Jair Bolsonaro escolheu a União Química para ser intermediária do negócio ao invés de tratar a questão diretamente com o laboratório russo responsável pela vacina, como fizeram os Estados. De acordo com a representação, o consórcio de Estados do Nordeste, o Fórum de Governadores da Amazônia, os governos do Mato Grosso e da Bahia negociaram direto com a empresa russa Limited Liability Company Human Vaccines, sem intermediários.
“É inadmissível que num momento em que milhares de pessoas estão morrendo pela proliferação do novo coronavírus, o Governo Federal disponha de R$120 milhões a mais que os Governos Estaduais, na compra superfaturada de vacina, quando deixou de comprar a da Pfizer, por exemplo, sob o argumento de que o preço era caro – ressalte-se que o preço era muito inferior à da dose comprada da Sputnik V”, apontam os deputados.
De acordo com o documento, a empresa União Química conta com o lobby do ex-Ministro da Saúde e Deputado Federal Ricardo Barros, que também é líder do Governo Jair Bolsonaro, denunciado pelo Deputado Federal Luiz Miranda e seu irmão, o servidor público Luiz Ricardo Miranda.
A matéria do The Intercept Brasil aponta que o contrato fechado pelo Ministério da Saúde com a União Química foi assinado pelo então diretor de logística, Roberto Dias, no dia 12 de março de 2021. Dias foi acusado na CPI da Covid de envolvimento em esquema de propina para aquisição de vacinas.
Ele foi preso na quarta-feira (7) sob a acusação de dar falso testemunho durante seu depoimento à CPI. O ex-diretor do Departamento de Logística foi convocado para prestar esclarecimentos sobre o pedido de propina na compra da vacina Covaxin.
A representação é assinada ainda pelos deputados Danilo Cabral (PE), líder do PSB na Câmara, Bohn Gass (PT/RS), líder da bancada do PT, Wolney Queiroz (PE), líder da bancada do PDT, Talíria Petrone (RJ), líder da bancada do PSOL, Arlindo Chignalia Júnior (PT-SP), líder da Minoria do Congresso Nacional, Renildo Calheiros (PE), líder da bancada do PCdoB e a deputado federal Joenia Wapichana (RR), representante da bancada da Rede na Câmara.