A Secretaria Nacional de Mulheres (SNM) do PSB e a Fundação João Mangabeira (FJM) realizaram na noite de terça-feira (14), mais uma edição do programa Cá entre Nós Mulheres, com palestra da filósofa francesa Gisèle Szczyglak. Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o evento contou com a participação de deputadas, lideranças e representantes dos segmentos organizados do PSB na sede da FJM, em Brasília.
Estiveram presentes o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, a secretária nacional de Mulheres, Dora Pires, as deputadas federais Lídice da Mata (BA) e Tabata Amaral (SP), a deputada distrital Dayse Amarílio, a prefeita de Rio Branco do Sul (PR), Karime Fayad e a gerente executiva da FJM, Márcia Rollemberg.
Também participaram o vice-presidente da FJM, Alexandre Navarro, a professora Yara Gouvêa (Relações Internacionais PSB) e as secretárias nacionais dos segmentos da pessoa com deficiência e LGBT, Luciana Trindade e Tathiane Araújo, respectivamente.
Em sua saudação, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, disse que as mulheres conquistaram muito, mas “o muito ainda é pouco”. Ele defendeu o incentivo à participação das mulheres na política e a priorização de políticas públicas voltadas para público feminino. “Elas precisam ser lembradas e ter políticas públicas para que sejam valorizadas. É um desafio atrair mulheres das classes populares para essa luta, que também é delas. Ainda estamos distantes de cumprir com o nosso objetivo, todos nós”, afirmou. “Não há paridade ainda. Inclusive no nosso partido, mas estamos a caminho disso”, afirmou Siqueira, mencionando a adoção da cota de 30% de mulheres nos cargos do Diretório Nacional, uma conquista alcançada no último Congresso Nacional.
Ph.D. em filosofia política e especialista em minorias e diversidade, Gisèle falou sobre o tema de seu mais recente livro lançado no Brasil, “Subversivas – A arte sutil de nunca fazer o que esperam de nós”. Segundo ela, mulheres e homens precisam tornarem-se “subversivas e subversivos” para desconstruírem uma sociedade milenarmente programada sob a visão masculina, que resultou na dominação dos homens em todas as esferas, público e privada, além da vida política, social e cultural.
Para Gisèle, as mulheres devem passar a ocupar cada vez mais a esfera “extra-biológica”, que são as instituições, a política e a cultura. Nesse campo, o domínio ainda é majoritariamente dos homens. “As mulheres devem tornar-se seres extra-biológicos. Quem decidiu quais seriam os critérios do extra-biológico? Os homens. Na construção extra-biológica, os homens tomaram todo o poder. Nós, mulheres, acabamos entrando ou habitando casas extra-biológicas, das quais jamais fomos as arquitetas, no entanto”, afirmou.
De acordo com ela, para ser um cidadão, é necessário pertencer a essa esfera extra-biológica, cujo acesso foi negado às mulheres por muito tempo. “Quando não se tinha acesso a essa esfera, ficava-se na invisibilidade: em casa, na ‘domus’, que vem do grego “domesticação”. E quem ficava na ‘domus’? As mulheres, as crianças, os idosos, as pessoas doentes e os escravos. E quem pertencia à esfera pública e ficava fora de casa? Os cidadãos, e quem eram os cidadãos? Os homens brancos”, analisou.
Segundo a filósofa francesa, historicamente os homens fizeram a humanidade acreditar que a sociedade é representada pela figura masculina, o que ela chama de “rapto civilizacional”. Mas, um processo que se constrói, pode ser desconstruído, argumentou. “Ninguém tem no seu código genético ‘cuidar dos outros’. Tampouco o gene de ferro de passar roupa. Não está no gene de ninguém organizar as férias de todo mundo e cuidar da geladeira para que ela esteja sempre cheia”, ironizou. “Devemos ser subversivas, não podemos mais aceitar esse sistema, sermos cúmplices desse processo e ficarmos reproduzindo o patriarcado. A subversão é você dar um passo para o lado, sair disso. É ir para a política, sem precisar se justificar. É assumir um cargo de líder e ficar sem medo de divorciar”, declarou.
Na avaliação de Gisèle, uma saída para desconstruir esse cenário é a adoção de cotas para cargos em empresas, instituições públicas e privadas, algo que vem acontecendo paulatinamente na França. Ela citou como exemplo algumas leis em vigor no país que caminham para a paridade de gênero em órgãos públicos e no setor privado. Entre elas, a exigência de 40% de mulheres em conselhos de gestão de empresas , além da presença feminina em 40% dos cargos da administração pública. Outra legislação obriga as empresas a publicarem relatórios anuais com índices de paridade, sob pena de não terem acesso ao mercado público, caso descumpram a regra.
“A subversão passa por não mais aceitar isso. É participando da sociedade, é mudando esse modus operandi da vida política”, disse. “É preciso que as mulheres se tornem protagonistas. É preciso que as mulheres construam o mundo e que se permitam serem livres. Isso é se libertar da necessidade de ser libertada, e é preciso que as mulheres cultivem a sororidade, que elas ajudem as outras mulheres até mesmo quando elas não estão de acordo com as outras, porque os homens apoiam os homens, até quando eles não estão de acordo entre si”, disse.
Para a secretária nacional de Mulheres do PSB, Dora Pires, ‘subversão’ é acreditar que as mulheres podem e merecem ter mais liberdade, autonomia e reconhecimento. “É, por exemplo, se dedicar à política em um país truculento como o nosso Brasil, estruturado a partir do machismo e do patriarcado, do racismo, da transfobia”, afirmou.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional