Autor: João Campos, deputado federal pelo PSB-PE
Começando o segundo semestre legislativo na Câmara dos Deputados, é importante ter em mente o objetivo que nos guia, o ideal socialista defendido com afinco por Doutor Arraes e meu pai, o ex-governador Eduardo Campos: fazer mais por quem sempre teve menos. Tendo isso em vista, sei qual é a minha missão: transformar a vida das pessoas
ressignificando a Política. É assim, trabalhando incansavelmente para cumprir essa missão, que agradeço aos 460.387 eleitores que depositaram a sua confiança em mim, resultando na maior votação para deputado federal em Pernambuco.
E o cenário é desafiador, como nos mostra o ambiente de crise agravada pelo Governo Federal e, em desalentador destaque, o seu presidente. Com sua superficialidade para tratar de temas complexos e com o tempo gasto em espuma, como se diz no jargão político, Bolsonaro é como um sopro. Vem de repente, mas não tem densidade, não tem forma e não se sustenta.
Como é possível ouvir de um presidente uma agressão a uma pessoa desaparecida na Ditadura e que sequer está aqui para se defender? Depois, achando pouco, ainda dizer que a Comissão da Verdade só faz balela e colocar militares para comandar a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério de Direitos Humanos? E quanto ao
preconceito com o Nordeste, a segunda região mais populosa do país? A desumanidade dessas declarações irracionais e inaceitáveis esbarra na própria diversidade do nosso país, vista em cada pedaço de terra, e não apenas em nosso solo nordestino. É importante lembrar que o Nordeste não é problema. Somos parte da solução. Só para
citar um ponto, o potencial em energias renováveis de vários estados da região está aí para reforçar essa tese.
Enquanto o governo federal insiste em perder tempo com aquilo que não soma ao país, temos cumprido uma agenda intensa de trabalho. Para cumprir a honrosa missão de representar o povo, já apresentamos mais de 60 proposições, com a aprovação de projetos como o que pune o agressor da mulher com a apreensão de sua arma de fogo. Fizemos seleção pública para compor a equipe do nosso gabinete, garantimos assento na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) (a mais importante da Câmara), somos vice-coordenador na Comissão Externa que monitora as ações do MEC e coordenador deSmart Cities e Desenvolvimento Urbano na Frente Mista de Economia e Cidadania Digital, além de vice-líder do PSB na Câmara.
Sobre a agenda das reformas, precisamos construir pontes para avançar na pauta progressista e evitar maiores danos à população. Foi com esse pensamento que votamos contra a Reforma da Previdência sugerida pelo governo. Nunca me neguei a discutir uma proposta justa, que corrigisse distorções. Porém, não voto na Reforma da Previdência em que mais de 70% da conta é paga por quem está no RGPS (ou seja, os que ganham menos). Foi nosso trabalho enquanto oposição propositiva que garantiu a retirada de pontos que mexiam no BPC dos idosos e nos direitos do trabalhador rural, além da própria capitalização. Mas, como disse, isso não foi o suficiente. A conta ainda
está sendo paga pelas camadas mais pobres do Brasil.
Agora, para o segundo semestre, temos o desafio da Reforma Tributária, que nos levará meses de luta. Essa reforma é urgente e necessária. Entretanto, precisamos garantir que seja feita de forma justa. Tem que haver a simplificação, a carga dos impostos deve ser progressiva e devemos ter um olhar atento às questões regionais, que não se penalize o
Nordeste brasileiro. Paralelamente, já apontamos o caminho ao apresentar projetos que criam o sentimento de justiça fiscal e dão importante contribuição para a arrecadação pública: a volta do tributo sobre lucros e dividendos (dentre os países da OCDE, apenas a Estônia não faz essa cobrança) e o imposto sobre grandes fortunas.
Não há desânimo frente ao desafio. Pelo contrário, gosto de dizer que esse trabalho está só começando. Mais do que nunca, é hora de unir as esquerdas no momento em que o país mais clama por ações efetivas do governo. Reitero o que disse em meu discurso, citando Dom Hélder Câmara, aquele que seria o Nobel da Paz brasileiro: “Quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes”.