Paulo Rabello de Castro*
Com uma frase, Eduardo Campos conseguiu cativar os brasileiros. Agora é tempo de lembrá-la e repeti-la. Ele disse: “Não vamos desistir do Brasil!”. E todos passaram a prestar mais atenção em sua mensagem política, o sonho de um país conduzido por uma gestão pública eficiente, por governantes motivados pela melhoria dos serviços prestados ao povo, por políticos que não se limitam a preencher o imaginário do povo com promessas vãs, quando não puras mentiras.
No início do mês, a cidade do Recife recepcionou políticos expressivos das mais diversas correntes a convite da comissão executiva do Partido Socialista Brasileiro. O evento era suprapartidário: homenagear Eduardo no aniversário de seus 50 anos, em 10 de agosto. Fazia uma manhã de pleno sol no marco zero da formosa Recife, às margens do generoso Capiberibe. A homenagem, com a presença da família, Renata Campos com seus filhos e a mãe do homenageado, Ana Arraes, e do irmão, Antonio, foi presidida com garbo e simpatia pelo presidente do PSB, Carlos Siqueira. Ali estava, de todos os partidos, um pedaço do Brasil de quem podemos nos orgulhar, mesmo nestes sombrios tempos de lavagem de roupa suja. Algumas verdades simples e urgentes foram repassadas pelos oradores que tiveram o privilégio da palavra.
O Brasil precisa, para começar, de mais veracidade na política, que é uma espécie de verdade comunicada ao cidadão. Eduardo tinha esse dom: comunicava o que tinha a dizer com gosto e cheiro de verdade. Por isso, a popularidade de Eduardo foi sempre ancorada na figura do político correto, atribuição que lhe era verdadeira, não obstante rara no cenário político nacional.
A inesperada morte de Eduardo Campos, que fez um ano neste mês, nos servirá para sempre como uma espécie de expiação pelo pecado coletivo de nossa desatenção ao que dizem e fazem nossos escassos líderes nacionais. Eduardo se candidatava a ser não um mero ocupante de palácio em Brasília, mas uma estrela fulgurante na constelação de lideranças brasileiras. É desses verdadeiros exemplos que precisamos. E estes começam em casa, pelo que construímos à nossa volta, entre a família, amigos e colaboradores. Não dispôs Eduardo – jamais saberemos por quê – do tempo necessário para deixar que o Brasil usufruísse mais de suas habilidades e capacidades. Pernambuco, no caso, teve mais sorte. Eduardo se propôs a realizar um choque de modernidade na gestão pública do estado e o cumpriu integralmente. Os números, antes e depois dele, ostentam a diferença do que pode ser realizado em menos de uma década, como o fizeram, em nossa história contemporânea, outros grandes gestores, como o notável presidente JK, em Minas e no Brasil, ou um Carlos Lacerda, com formidável equipe, na antiga Guanabara; assim como o tinha feito, anos antes, Getúlio Vargas, nos dificílimos anos 1930 e 40. E, entre baianos, o grande Ruy, apenas para ficar no maior deles.
Mas, afinal, quantas vezes nosso cambaleante sistema político facilitou a ascensão de potenciais líderes? Quão raro tivemos meios de afastar a inépcia e a malandragem do palco da política brasileira? A aparição de uma nova liderança no escuro céu da política nacional, do quilate de Eduardo Campos, não tem sido mais do que mero acaso de probabilidade estatística, ao passo que vivemos presos num labirinto de mediocridades instaladas e encasteladas no poder. Daí nosso pecado de “desatenção coletiva”. Desatenção ao sistema político que, por arcaico, explora as pirâmides da dependência político-eleitoral, fruto do excesso de centralismo federativo, oriundo de estúpida concentração das receitas fiscais. Eduardo Campos foi um desses grandes cometas que, passando atrevido, ousou desafiar o bloqueio contra o surgimento de novas lideranças. Seu legado na educação – com destaque para as escolas campeãs em Pernambuco –, o resgate da indústria regional, a atenção a uma saúde eficiente e ao transporte digno são alguns poucos exemplos da marca de uma nova raça de administradores públicos modernos que ele semeou em sua passagem de intensa luz.
O infausto acidente que cortou bruscamente nossa visão do astro não nos serve de desculpa para interromper a marcha dos seus seguidores. Eduardo foi um cometa de sonhos. Sonhar ainda é preciso, e mais intensamente, na tentativa de compensar a imensa falta que sua ausência nos faz no cenário de penúria política em que nos encontramos. Além de repetir o refrão, que a todos nos inspira, de nunca desistir do Brasil, é preciso nesta crise da economia brasileira, agravada por aberrante irresponsabilidade administrativa, gritar bem alto que “o Brasil merece mais!”. Mais e melhor.
O país sonhado por Eduardo Campos não conviveria, por exemplo, com o manicômio tributário em que estamos chafurdados. Ainda na véspera da partida, Eduardo se reunira com tributaristas no Rio de Janeiro para planejar, em seu futuro governo, um ataque frontal à insensatez de mantermos nada menos que seis tributos incidindo em cascata sobre qualquer produto saído de nossas fábricas. Para isso servem as grandes lideranças: para dizer “Sim!” ao progresso e à modernidade, enquanto as burocracias mofadas teimam em dizer não. E lembrar a todos que o povo merece mais, muito mais do que nos tem sido servido.
* Coordenador do Movimento Brasil Eficiente e autor de O Mito do Governo Grátis
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