
Foto: Aaron Phillipe
Ao contrário de países como a Argentina, que enfrentaram seu passado autoritário instituindo comissões de verdade e punindo os responsáveis por crimes contra os direitos humanos cometidos durante a ditadura no país, o Brasil ainda não concluiu um processo de justiça de transição, deixando uma ferida aberta em sua história. Para o ex-deputado federal e atual presidente do PSB no Rio de Janeiro, Alessandro Molon, essa lacuna é uma das principais razões por trás das sérias ameaças à democracia que o Brasil enfrentou recentemente com o bolsonarismo e a tentativa de golpe do 8 de Janeiro.
“Ao sair da ditadura, não fizemos justiça de transição, como a Argentina conseguiu fazer. No dia 31 de março próximo, completamos mais um aniversário do golpe militar de 1964 e o país ainda não sabe como lidar com isso”, afirmou durante o painel de líderes sobre o tema “Fortalecimento da solidariedade internacional para o progresso e a paz”, na Conferência da Aliança Progressistas das Américas, que ocorreu no Rio de Janeiro.
Entre os dias 22 e 23 de março, dezenas de representantes de partidos socialistas e social-democratas de 27 países se reuniram na capital fluminense para um encontro da Aliança Progressista, organização com sede em Bruxelas que congrega cerca de 150 legendas da esquerda democrática na Europa, Ásia, Américas, África e Oceania . Os debates giraram em torno dos temas democracia, justiça social, progresso, paz, e políticas progressistas para o século XXI.
Na avaliação de Molon, a recente decisão do presidente Lula de impedir que os ministérios de seu governo promovam atos para marcar a efeméride dos 60 anos do golpe militar demonstra que o assunto “é mal resolvido no Brasil”. “Essa, é claro, é uma das causas dos problemas que passamos recentemente e do risco que corremos para frente”, comentou.
Segundo o socialista, para além da ausência de um acerto de contas com o passado, o compromisso de uma parcela da população com a democracia “acaba” à medida que as promessas de governos falham em entregar resultados concretos na redução das desigualdades e na garantia de um futuro promissor. “A maioria das pessoas não está preocupada com a política. Está preocupada com seus problemas concretos e imediatos e quer saber quem pode resolvê-los. Então se a democracia não entrega soluções, outras possibilidades começam a se mostrar muito sedutoras e atraentes”, avaliou.
Além de alcançar resultados concretos, Molon destacou que permitir a participação da sociedade nos mandatos eletivos é uma maneira eficaz de fortalecer o compromisso dos cidadãos com a democracia. “Um segredo para o fortalecimento da democracia que todos nós defendemos, é incrementá-la com instrumentos de democracia participativa, fortalecendo os mandatos, para que o cidadão se sinta convidado a participar e a ficar mais perto das instituições”, apontou, destacando uma prática pioneira que ele mesmo adotou durante seu mandato na Câmara dos Deputados. Ele abriu espaço para que os eleitores participassem na decisão sobre a alocação de parte das emendas parlamentares às quais tinha direito.
Molon disse ainda que a ausência de um projeto claro e unificador e de uma comunicação eficaz são outros desafios a serem superados pelos progressistas para combater a extrema-direita. “Ainda que sabemos o que fazer, temos dificuldade de comunicar isso de uma forma simples. Dizem que para todo problema complexo, existe uma solução simples e errada”, afirmou.
“Quando nos perguntam como vamos enfrentar a violência, nós temos uma explicação sociológica complexa, de distribuição de renda, de prevenção, de alternativa para a juventude. A direita tem uma solução simples e errada. Eles dizem ‘vamos matar os bandidos’. Muito fácil, muito claro. Nós sabemos que isso não vai resolver o problema. Mas parece que resolve. Então, do ponto de vista comunicativo, é muito eficaz. Nós temos também essa dificuldade”, exemplificou.
Molon enfatizou ainda que um desafio adicional para a esquerda democrática é elaborar um programa claro e consistente que ofereça soluções, especialmente para abordar a redução das desigualdades. Isso seria alcançado com a promoção do desenvolvimento sustentável e do fortalecimento da democracia.
“Falando sobre desenvolvimento sustentável, acho que isso é também um segredo para reforçar a colaboração das forças progressistas em nível internacional. Não adianta resolver nacionalmente o desenvolvimento sustentável, porque a crise climática ou será resolvida mundialmente ou não será resolvida. Me parece que esse é um ponto de encontro entre as nossas forças, entre os nossos países: reforçar a cooperação dessa força, enfrentando as crises climáticas, com a participação dos nossos partidos”, sugeriu.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional