Autor: Geraldo Julio (PSB)
Prefeito do Recife
Cidade cosmopolita desde seus primórdios, Recife, a capital do Nordeste e da criatividade, também se orgulha de ter sido um dos primeiros pólos da indústria cinematográfica brasileira. Ainda na década de 1920, a cidade foi testemunha do ciclo do Recife, com uma vigorosa produção regionalista de filmes mudos. Cinquenta anos depois, a cidade é novamente destaque na Sétima Arte pelo ciclo do Super-8, responsável por projetar nomes como Fernando Spencer, Jomard Muniz e Kátia Mesel, na década de 1970.
Na década de 1990, o Recife se consolida como referência no audiovisual com a estrela de Baile Perfumado, obra de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, que pavimentaria uma sólida estrada por onde transitam talentos que levam o nome da cidade a festivais nacionais e internacionais.
Faz tempo que o Recife sabe: cinema é mais do que arte. É um elo determinante da cadeia da economia criativa. Nada mais natural que no Recife, cujo maior capital são as pessoas, o Cinema se tornasse um importante vetor no segmento. Segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), vítima, é importante que se diga, de um Governo Federal excludente, preconceituoso e autoritário que está usando a agência para fazer politicagem ideológica, o audiovisual brasileiro movimenta R$ 45 bilhões e é um dos setores que mais cresce no país, com taxa de média de 8,8% ao ano.
Mas o cinema é mais do que arte ou economia. É uma fábrica de sonhos e um importante lugar de fala de uma nação que é ávida por ser representada em tela. Ainda mais quando falamos de regiões fora do eixo Sul-Sudeste, indutores de produtos culturais de massa. Assim, o cinema com sotaque recifense contemporâneo ganha as imagens e poemas contundentes de Cláudio Assis, o lirismo de Camilo Cavalcante, a crônica urbana de Renata Pinheiro e tantos outros talentos como Marcelo Gomes, Hilton Lacerda e Kleber Mendonça Filho.
A Kleber faço questão de render uma homenagem especial por seu compromisso, resistência e pela força de sua produção, tão urgente e necessária em tempos de exceção artística e social, que parece ter como alvo cada vez mais claro o Nordeste.
Não nos deixarão sem voz. Muito menos sem imagem. Para que nosso cinema siga falando cada vez mais alto em todo o mundo, a Prefeitura do Recife tem se desdobrado em estratégias, ações e articulações. Só de outubro até agora, lançamos o edital 2019/2020 do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC) e dobramos o apoio assegurado todos os anos ao importante evento Janela de Cinema, cuja 12ª edição chegou a ser ameaçada pela falta de recursos.
Para assegurar a realização do Festival Internacional Janela de Cinema, programação que abre espaço para a formação de público e projeção de realizadores do audiovisual do Recife, multiplicamos esforços para suprir a lacuna deixada por patrocinadores, especialmente do poder público federal. Em resposta a um cenário nacional de retrocessos nas políticas culturais, nosso apoio, que variou ao longo dos anos entre R$ 20 mil e R$ 50 mil, saltou desta vez para R$ 100 mil.
De nossa parte, daremos sempre vivas ao cinema pernambucano, às pessoas que o fazem na frente e atrás das câmeras: dos diretores e artistas aos costureiros e cozinheiros. A todos deixo meu sincero agradecimento por revelar com o talento do olhar a beleza, a força e a luta do povo do Recife.
*Artigo originalmente publicado no Diário de Pernambuco em 11/11/2019