* Reportagem publicada na Revista Voto – edição nº 124
A cartilha de eficiência e integração instituída por Eduardo Campos em Pernambuco é aplicada à risca por dois herdeiros políticos: o atual governador, Paulo Câmara, e o prefeito de Recife, Geraldo Júlio.
O legado de Eduardo Campos continua vivo em Pernambuco. Falecido em um acidente aéreo durante a campanha presidencial de 2014, o ex-governador implementou um novo paradigma de gestão durante sete anos em que ocupou o Palácio das Princesas ― período iniciado em 2007. Hoje, as suas ideias e maneira de administrar são perpetuadas por dois de seus herdeiros diretos: Paulo Câmara ― ex-secretário de Administração, Turismo e Fazenda, eleito como sucessor de Campos no ano passado ― e o ex-secretário de Planejamento e de Desenvolvimento Econômico Geraldo Júlio, prefeito de Recife desde 2012.
Na cartilha criada por Campos, o primeiro item determina a construção conjunta da gestão. Esse conceito inclui todos os atores da sociedade trabalhando em sinergia para apontar e sanar as demandas do estado. Aqui, a principal voz a ser ouvida é a da população. E isso foi conseguido com as plenárias públicas organizadas pelo programa Todos por Pernambuco. A ação acontece sempre no primeiro ano de governo e traz subsídios necessários para a elaboração do Plano Plurianual (PPA). “Ouvimos mais de 20 mil pessoas 12 regiões. Depois, adequamos os projetos com base nas premissas levantadas”, explica Paulo Câmara. O mapa estratégico atual ― 2015 – 2018 ― foi alicerçado em 13 pilares erigidos justamente nessas reuniões.
Como de praxe, os anseios da sociedade concentram-se em três êxitos preponderantes hoje contemplados no Pacto pela Saúde, Pacto pela Educação e Pacto pela Segurança. O ensino, por exemplo, é um claro indicador da ascensão pernambucana. Em 2007, o estado ocupava o 21° lugar do Ideb em ensino médio e tinha 26ª pior marca do País em evasão escolar. A aposta de Campos para reverter esse quadro foram as escolas em tempo integral ― uma receita que vem demonstrando alto índice de acerto por onde é adota.
Atualmente, são mais de 300 instituições estaduais funcionando em dois turnos ― a maior rede integral do Brasil. Pernambuco também lidera no critério de horas/aula, com média de 5,6h por dia. Enquanto isso, o padrão brasileiro fica em 4,7h. Na gestão de Campos, os investimentos em educação pularam de R$ 1,6 bilhão em 2006 para R$ 4 bilhões em 2013. O Estado não só aportou mais recursos, como fez de maneira eficiente. Em 2013, o ensino médio Pernambucano já era o 4° melhor colocado do Ideb. A evasão, por sua vez, caiu para 3,5% ― menos taxa do País. “Não é barato manter dois turnos, mas o resultado mostra que é o caminho”, reforça Paulo Câmara.
Mais com menos
O âmbito da segurança também apresentou evolução significativa ― alcançada através do programa Pacto pela Vida. Criada em 2007, a iniciativa é coordenada pela Secretaria do Planejamento, com a integração de outras 12 Secretarias, Ministério Público, Poder Legislativo e Prefeituras. O projeto prevê 138 ações ― como formação de policiais e aumento do efetivo em áreas conflitadas, além de investimentos em esporte, educação, lazer e profissionalização de jovens nos bairros mais pobres.
Entre 2005 e 2012, o orçamento da segurança de Pernambuco cresceu 55%. Novamente, Campos aplicou recursos com eficácia. “A Bahia aumentou os aportes em 66% nesse período e teve o segundo maior crescimento de homicídios do País. Já Pernambuco apresentou a terceira maior educação”, compara Gustavo Morelli, diretor da Macroplan, As consultorias, aliás, tiveram papel preponderante no desenvolvimento de Pernambuco. A parceria com o MBC [Movimento Brasil Competitivo] ― 100% custeada pela iniciativa privada ― deu origem ao Plano 2035, a estratégia de longo prazo para a governança estadual, lançada em 2013. Pernambuco quer inclusive transformar o planejamento em lei. Em outubro, o governo enviou à Assembleia Legislativa uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que torna obrigatória a execução da Agenda 2035 por quem administrar o estado.
A força da proximidade
Em Recife, isso já ocorre naturalmente. Geraldo Júlio assumiu a capital pernambucana em 2012 e replicou as metodologias que ele próprio havia ajudado a implementar durante seus cinco anos no governo Campos. Um exemplo é o programa Recife Participa, adaptação local do Todos por Pernambuco. O embasamento trazido pela participação da sociedade resultou na definição do incremento de aportes em áreas-chave, como educação e saúde. “Em dois anos, nosso investimento em ensino foi superior aos 12 anos anteriores, e maior do que os últimos oito anos na saúde”, enumera Júlio. Outro efeito direto dessa proximidade entre a gestão e a população do município resultou em um dos movimentos naus nobres surgidos na política atual: o programa Transforme Recife.
A iniciativa cadastra ONGS e voluntários interessados em auxiliar entidades carentes da cidade. Hoje, essa rede social do voluntariado já possui mais de 350 organizações e 50 mil pessoas inscritas. E os recifenses podem aferir diariamente os impactos da ação, através do Voluntariômetro. Instalado em uma das avenidas mais movimentadas da cidade, o equipamento tem sete metros de altura e contabiliza as horas dedicadas ao trabalho voluntário. Em outubro, o Voluntariômetro ultrapassou a marca de 200 mil horas. Não à toa, a ideia pioneira consolidou Recife como a “Capital do Voluntariado” no Brasil. “Além da capacidade de entrega, Campos tinha essa empatia política enorme com a sociedade. O somatório de ambas é um diferencial, pois a política tradicional se distancia da sociedade”, analisa Morelli. Os seguidores de Campos parecem mesmo ter aprendido a lição com o mestre.
*Por Emanuel Neves e Ricardo Lacerda