O vice-Presidente do PSB, Roberto Amaral, defendeu, durante a abertura do 53º Congresso Nacional da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado em Goiânia no último final de semana, o avanço e a garantia das investigações da Comissão da Verdade, criada pelo Governo Federal para apurar perseguições, torturas, mortes e crimes da ditadura militar. Roberto Amaral, que ocupava a vice-presidência da UNE em 1962, foi uma das oito lideranças de partidos políticos convidadas para o debate de abertura do Congresso, sobre o tema “Diálogo por um projeto democrático, popular e nacional de desenvolvimento para o Brasil”.
A mesa reuniu, além do socialista, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, o diretor nacional do PT, Luiz Dulci, o presidente do PMDB, Valdir Raupp, o presidente do PSol, Ivan Valente, o secretário nacional adjunto do PDT, André Roberto Menegotto, o representante da executiva nacional do PPL, Irapuã Santos, e o representante do comitê central do PCR, Heron Barroso Silva de Menezes.
“Foi um encontro clássico e impressionante de lideranças políticas do Brasil numa mesma mesa de debate”, definiu o então presidente da UNE, Daniel Iliescu, que após as eleições da entidade, no domingo (02), passou o cargo à pernambucana Vic Barros, aluna de Letras na Universidade de São Paulo (USP) que foi eleita com 2.607 votos (69%), de um total 3.764 delegados credenciados. “Com convergências e divergências, essas lideranças todas promoveram uma saudável construção de ideias, demonstrando que o fórum teve, como grande identidade, a vontade de todos por mudanças na estrutura do país”.
Para o presidente da Juventude Socialista Brasileira (JSB), Sérgio Cardoso, o 53º Congresso da UNE foi um importante espaço de debates para os estudantes brasileiros. “A JSB chegou neste congresso com o Movimento Um Passo à Frente, propondo avançarmos e fazermos mais na UNE”, afirmou. Segundo ele, a JSB esteve presente com mais de 300 estudantes universitários que debateram a qualidade do ensino e melhorias para educação. “Apresentamos com orgulho para o Brasil que o Estado governado pelo presidente de nosso partido, governador de Pernambuco Eduardo Campos, foi o primeiro Estado brasileiro a conceder os 100% dos royalties do petróleo para Educação”.
A JSB reconduziu, por meio dos votos dos estudantes do Movimento Um Passo à Frente, o socialista Everton Chacal do Rio de Janeiro, para mais um mandato de 2 anos na direção da UNE.
Ex-ministro de Ciência e Tecnologia (2003-2004), Roberto Amaral falou ainda aos estudantes no Congresso Nacional da UNE sobre a importância dessas forças políticas demonstrarem sua concepção de desenvolvimento nacional. “A direita também se diz nacionalista, mas com o nacionalismo deles não comungamos”, exemplificou. Sobre a necessidade de avanços no trabalho da Comissão da Verdade, um dos momentos em que foi mais aplaudido, ele questionou: “Não é possível que, tantos anos depois de termos estado juntos, não consigamos saber o que aconteceu com nossos desaparecidos da ditadura”.
Projeto de Desenvolvimento –Sobre o tema do debate, em si, o vice-Presidente Nacional do PSB avaliou que a principal carência do processo brasileiro é a inexistência de um projeto nacional, considerada como tal a reunião de objetivos estratégicos em torno dos quais a sociedade brasileira se identifique. “Não sei mesmo se já tivemos um projeto nacional, embora já tenhamos tido causas nacionais”, argumentou.
No momento atual, entretanto, afirma Roberto Amaral, o desafio é justamente a construção de um projeto Nacional – no sentido de que envolva a nacionalidade, Democrático – no sentido de que aprofunde as conquistas da democracia burguesa, e Nacionalista – no sentido de que tenha como referência a soberania política e econômica do país. “E que, além de tudo, seja desenvolvimentista, isto é, persiga o crescimento continuado da economia e a democratize, mediante a simultânea distribuição de renda”, complementou.
Tal projeto, ressaltou o socialista, requer evidentemente a existência de um governo político e moralmente com ele comprometido. “Mas, se isto é o ponto de partida, está longe de ser o ponto de chegada, pois, entre a vontade e a realidade está a correlação de forças”, lembrou. “Para fazer-me entender: estou convencido de que Lula gostaria de ter avançado mais”.
Por isso, Amaral acredita que o projeto de desenvolvimento de um país para ser democrático precisa dialogar com a sociedade, “embora não possa ser o projeto de toda a sociedade, pois esta não é um conjunto, uma unidade”.
Em resumo, ele propôs aos estudantes que “Democrático será tomar o partido dos mais fracos; Popular será inverter a seta dos interesses capitalistas, elegendo a precedência dos interesses populares (educação universal, pública, gratuita e de qualidade; assistência médico-hospitalar universal; direito ao emprego e à moradia) e, finalmente, a precedência do trabalho sobre o capital; e Nacional será a proeminência dos interesses nacionais, que começa pelo fortalecimento da atual política externa brasileira e pelo enfrentamento da desnacionalização da economia, que não pode ser o preço de nossa inserção na globalização”.
Finalizando a palestra, Roberto Amaral pregou que Desenvolvimento deve ser entendido com o crescimento como valor político, no qual a busca da riqueza deixa de ter como fim a acumulação para transformar-se em distribuição de renda. A riqueza deve ser instrumento de emancipação do povo, ou seja, o crescimento em função da igualdade social.