Em entrevista publicada no jornal O Dia nesta segunda-feira (13), o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, considerou o Sistema Único de Saúde (SUS) como a principal política pública e social do país nos últimos 35 anos, e afirmou ser “lamentável” que o reconhecimento ao sistema venha a acontecer a partir de uma pandemia. O presidente do PSB também avaliou na entrevista a postura dos governadores frente à atual crise e o cenário de alianças para as eleições municipais.
Leia a íntegra:
Presidente do PSB defende união do centro e esquerda
Carlos Siqueira fala de alianças para próximas eleições.
Por Sidney Rezende
O Dia
O atual presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Carlos Siqueira, foi coordenador da campanha presidencial do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, em 2014. Habilidoso, com bom trânsito entre todos, ele tem tentado costurar alianças não só para o pleito municipal deste ano, como está se movimentando para tentar a construção de uma frente de centro-esquerda visando a disputa de 2022. A pandemia do coronavírus mudou o rumo da conjuntura, mas não as preocupações de longo prazo. Siqueira considera tempestade perfeita se ter na presidência alguém como Jair Bolsonaro. Em entrevista exclusiva à coluna ele disse: “Não há desde a independência um líder que possa ser tão polêmico e tão despreparado para enfrentar uma crise como Jair Bolsonaro”. O presidente do PSB comentou também sobre os destinos políticos do Rio de Janeiro.
Como o senhor analisa a situação política do Rio e a postura dos governadores dos estados nas ações de prevenção ao coronavírus?
O Rio de Janeiro é a cidade mais querida, mas tem um dos piores prefeitos que já teve. O governador, assim como os demais, tem tentado. A força da federação tem salvado a população, a junção dos governadores que têm adotado posições corretas, isolamento e assistência, seguindo a OMS. Não sei se vai levar a cabo a decisão do prefeito de abrir o comércio, espero que reveja. Espero que o Rio supere esta pandemia como outras capitais. Talvez a força da federação e a junção dos governadores que tem ocorrido possam superar a ausência de uma liderança, que apesar de estar na presidência (Jair Bolsonaro) ainda não se deu conta do tamanho da cadeira que está sentado, ainda.
O senhor é presidente do PSB, uma das siglas mais importantes do país, como o senhor analisa o arco de alianças, especialmente no Rio?
Eu penso que o momento que nós vivemos é muito difícil, de retrocesso econômico, social e político, com uma liderança tão trocada. Seria importante que as forças políticas de esquerda e até o centro estivessem unidas para vencer o reacionarismo e o atraso. Infelizmente quando o presidente Lula saiu da cadeia, tivemos um discurso exclusivista, dizendo que o PT teria candidato em 2022 e também em todas as capitais em 2020. Isto dificultou muito para a esquerda, e temos articulação com a esquerda, inclusive com PT através da presidenta e deputada Gleisi, na tentativa no que for possível unificar. Mas temos uma articulação muito bem resolvida que são com PSB, PDT, REDE e PV. Temos nos reunido com frequência e com grandes possibilidades de união nas capitais e cidades com segundo turno. Teremos uma provável aliança com o PDT no Rio, com a deputada Martha Rocha. E, em São Paulo, Márcio França (PSB) também terá aliança com o PDT.Além disso, estaremos juntos no Recife, com o deputado João Campos (PSB), e em vários outros lugares.Como o PT está dificultando aliança da esquerda, tivemos de encontrar esta alternativa. Esta aliança está caminhando, embora não temos excluído o PT, que pode haver acordos, embora a articulação que citei é que está produzindo alianças (PSB-PDT-PV-REDE).
Aproveitando sua análise, sobre o 2022, o senhor não acha que dificulta o PT, que sempre negocia com os partidos, mas na hora da eleição opta por seu candidato na frente?
Sim. O erro de 2018 de não ter investido numa candidatura fora do campo político para salvar o sistema político. Foi o que tentamos fazer com a filiação de Joaquim Barbosa ao PSB, naquele momento, era claríssimo para mim, que as lideranças conhecidas não teriam êxito e, por isso, levei meses para filiar ele, e seria a único que poderia ter impedido a candidatura do Bolsonaro. Infelizmente, não fui compreendido nem mesmo no meu partido por algumas lideranças, e ele resolveu desistir. E deu resultado que ocorreu. Nós devemos nos preparar, pois a situação do sistema político é muito desgastada, muito precária, temos de estar preparados em uma frente ampla para não repetir o erro de 2018, sem o PT ter necessariamente a candidatura. Continuamos tentando, e deveríamos começar já em 2020, nos grandes centros, sem imposições, como trabalhamos na articulações do PDT-PV-REDE-PSB. Vamos ver os resultados que poderemos produzir. Se o Brasil está em risco, não são o fins em si mesmo, e, sim, os instrumentos para promover as transformações no país.
O presidente Bolsonaro é considerado pela imprensa internacional o pior chefe de estado no enfrentamento da pandemia. Qual o perigo que o Brasil corre?
Lamentavelmente essa crise de dimensões extraordinárias – e mundial – pegou o Brasil no pior momento político da sua história. Não há, desde a independência, um líder que possa ser tão polêmico e tão despreparado para enfrentar uma crise como Jair Bolsonaro. Este seria um grande momento para um estadista unir o país e a nação em torno de uma solução para uma crise que, ao mesmo tempo, é sanitária, mas também econômica, ao se somar ao que já existia anteriormente, e sobretudo social. Agrava-se com o grau de desemprego de alguns anos. Enfrentar uma crise quando se tem um presidente que, ao invés de unir o país, passa criar polêmicas e não reconhecer a gravidade desta crise, contrariando seu próprio governo, o seu Ministério da Saúde e vários setores do governo, complica…
Esta situação pode mostrar a importância do SUS e sua valorização?
Você está tocando num tema importantíssimo. O sistema de saúde do Brasil é, nos últimos 35 anos, a principal política pública e social do país. Essa, sim, uma proposta socializante, vitória da esquerda brasileira. Na época, os sanitaristas de todo Brasil, com Jamil Haddad, que tive o orgulho de compor sua equipe que veio a ser ministro, e do nosso partido no governo Itamar, apoiavam fortemente o SUS. Mas as forças conservadoras sempre tentaram torpedear os recursos para implantação efetiva e dar eficácia ao sistema. Penso que é lamentável necessitarmos de uma pandemia para que todos possam reconhecer a importância vital do SUS para população. Principalmente para as pessoas mais necessitadas. Eu já tenho uma certa idade e cansei de ver as pessoas morrerem à míngua no interior do nordeste.