A percepção dos paulistanos sobre os impactos do novo coronavírus na cidade e as medidas adotadas pelo poder público para combater a doença foram mostradas na pesquisa Viver em São Paulo – Especial Pandemia, divulgada nesta terça-feira (5) pela rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência.
De acordo com a pesquisa, 69% concordam que, sem o Sistema Único de Saúde (SUS), as consequências da Covid-19 seriam muito piores. Além disso, 62% relataram que passaram a valorizar mais o SUS depois da disseminação da doença.
Para 40% dos entrevistados, um volume maior de investimentos no SUS é o principal fator para diminuição dos impactos da pandemia. O isolamento total da população (37%), a renda básica emergencial para todos (32%) e o aumento de testes para identificar o contágio da doença (30%) vem logo na sequência .
O levantamento foi feito online na segunda quinzena de abril com 800 paulistanos dos quatro cantos da cidade, de todas as classes sociais e mais da metade (62%) não possuía plano de saúde privado.
Os entrevistados apontaram ainda que a saúde da família (50%) é a principal preocupação. A própria saúde (17%), o desemprego (11%) e a diminuição da renda (10%) estão em segundo plano.
“Os resultados mostram a preocupação com questões coletivas”, afirma o coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão. Ele lembra que a discussão que predominava antes da pandemia era em outra direção. Meses atrás o foco estava na política de austeridade muito forte nos gastos públicos. O desafio a partir de agora, observa, é recalibrar esses investimentos, diante da importância que o SUS ganhou junto à população.
Sendo que 64% perderam parcial ou totalmente a renda e 61% tiveram redução da jornada de trabalho. O isolamento social tem feito com que 77% dos paulistanos estejam evitando sair de casa, enquanto 54% passaram a trabalhar em casa de forma parcial ou total e só 5% dos entrevistados dispensaram os empregados domésticos da jornada diária e continuaram pagando o salário.
Sobre isso, Abrahão observa que que neste ponto há incongruências. Isso porque na mesma pesquisa constatou-se que 42% das pessoas observaram maior solidariedade em tempos de pandemia. “Uma coisa é ser solidário e assinar um documento ou fazer uma ajuda filantrópica, ações que são importantes. Mas o que pesa mesmo é quando os compromissos são mantidos, apesar da nova situação”.
Além da responsabilidade do poder público em relação a direitos básicos como a saúde, a pesquisa mostra também a cobrança da população quanto à responsabilidade social das empresas, destaca Abrahão. Nesse sentido, a enquete revela, por exemplo, que 63% dos entrevistados disseram que o governo deveria punir empresas que demitem durante a pandemia.
O coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo avalia também que a pandemia gerou reflexões essenciais sobre a responsabilidade dos governantes e as desigualdades sociais existentes no Brasil. Ao todo, 81% dos participantes acreditam que os moradores das periferias irão sofrer mais com a pandemia.
“Fica, claramente, uma discussão que a sociedade tem tido, de alguma forma, sobre qual é o papel do Estado em um país em que três a cada quatro pessoas da população dependem do SUS. Então, se estamos dizendo que tem que se investir mais, valorizar o SUS, temos uma discussão sobre o papel do Estado nisso”, afirma.
Para Abrahão, os males da pandemia no Brasil apenas agravam problemas que, há muito, afetam o país, como a falta de acesso ao saneamento básico e a má distribuição de renda.
“É incompreensível que a desigualdade cobre vidas das pessoas. Não podíamos deixar chegar a esse grau a desigualdade. O que está acontecendo na cidade de São Paulo e no Brasil é que a desigualdade está cobrando com vidas. Portanto, não é só uma desigualdade material. Causa indignação. Não podemos nos conformar com isso, temos como resolver. O Brasil é um país rico. A cidade de São Paulo é a mais rica da América Latina. Nós temos como fazer isso, temos que ter algum tipo de pacto. Temos que ter coragem dos governos, na verdade, para poder inverter prioridades e fazer com que os tributos das pessoas mais ricas sejam direcionados para a solução dos problemas que temos”, emenda.
A pesquisa ainda mostrou que 54% dos entrevistados consideram não adequadas as atitudes do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia. Além da responsabilidade do poder público em relação a direitos básicos como a saúde, a pesquisa mostra também a cobrança da população quanto à responsabilidade social das empresas. Nesse sentido, a enquete revela, por exemplo, que 63% dos entrevistados disseram que o governo deveria punir empresas que demitem durante a pandemia.
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