O presidente Nacional do PSB e pré-candidato do partido à Presidência da República, Eduardo Campos, afirmou neste sábado (26) em Manaus que só há uma maneira de se defender e desenvolver a Amazônia: com atenção e investimento em ciência e tecnologia, em conhecimento.
“Nós não queremos transformar o Brasil num país homogêneo, mas lutamos para construir um Brasil feliz em sua diversidade”, garantiu Eduardo às mais de 400 pessoas, entre lideranças políticas e militantes, vindas dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins para o 4º Seminário Regional Programático da aliança PSB-REDE-PPS-PPL, realizado pela Fundação João Mangabeira (FJM). “A Região Norte brasileira tem um grande desafio, que é ser compreendida pelo restante do país como parte da solução para seus próprios problemas”, afirmou o socialista.
O evento, realizado na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, é parte de uma série organizada pela Fundação João Mangabeira (FJM), do PSB, em todas as cinco regiões do país para debater e aprofundar as Diretrizes do Programa de Governo da aliança. O 5º e último Seminário Regional Programático, que deve colher as demandas e sugestões da região Centro-Oeste, está marcado para o dia 17 de maio, em Brasília.
Depois de andar nas ruas de Manaus e falar com o povo da região, andando até mesmo de barco acompanhado de sua pré-candidata a Vice, a ex-senadora Marina Campos, Eduardo Campos usou o exemplo de uma mulher de 55 anos que o abordou na rua.
“Ela relatou que trabalha num box do mercado das 3h da madrugada às 21 horas, de domingo a domingo, e quando chega em casa e liga a TV acha um desrespeito com esse esforço e seus direitos de cidadã o mar de corrupção que é denunciado todos os dias”, contou Eduardo. “Essa brasileira e todos que nos abordaram nas ruas nos últimos meses mostram que, aqui no Norte, no Nordeste, nas regiões Sul e Sudeste, no Centro-Oeste, em todo o país, o povo brasileiro está afirmando todos os dias que o Brasil está no caminho errado. E que nós só vamos encontrar o caminho certo sabendo ouvir esse povo, ouvir o que pensam e o que querem para o futuro do país”.
Mas esse futuro, aponta Eduardo Campos, não se remete a daqui até outubro, até as eleições, mas à próxima década. Tal debate, criticou, deveria já ter sido feito em 2010, nas últimas eleições presidenciais, mas “o que foi feito então foi um debate medíocre, do poder pelo poder, que ignorou quem queria fazer algo diferente, impediu que viessem à tona as verdadeiras inquietações da sociedade”.
Debate qualificado – O líder socialista denunciou que, no momento atual, de pré-campanha, a mesma tática dos que estão no poder se repete, com a tentativa de anular o debate do Brasil que o povo quer, de não participar de nenhum debate, não discutir o país. “Ou, ainda, de se tentar desqualificar os projetos que propõem algo diferente do que o governo faz”, complementou. “Nós, da aliança PSB-REDE-PPS-PPL, estamos na direção contrária, promovendo um debate qualificado em todas as regiões do país para construir um mapa que tenha a verdadeira cara do povo brasileiro hoje. E que não seja tão distante dos estados menos desenvolvidos”.
Eduardo disse que também está em campo a velha estratégia usada pelos conservadores, de disseminar o medo entre as pessoas, como se as mudanças propostas fossem retirar conquistas da sociedade. “Nós combatemos isso com todo o ânimo e coragem, vamos vencer com a consciência de que o país exige, neste momento, uma tarefa autoral de cada cidadão em direção à construção do novo que se quer”, assegurou.
O presidente Nacional do PSB também agradeceu o esforço de muitos dos presentes que viajaram mais de 20 horas de barco para poderem chegar ao Seminário. “Foi viajando hoje num barco desses que me dei conta de que, em meio a tanta água doce, a região Norte ainda luta por água, energia, comunicação. Ficou ainda mais nítido para mim que precisamos construir o nosso Programa de Governo a partir do olhar de quem enfrenta no cotidiano esses desafios”, revelou. “Vi pescadores vendendo o produto de dias de trabalho e esforço a preço de quase nada, sem estrutura nenhuma para estoque e comercialização próprios, vi o debate sobre a continuidade da Zona Franca ser tratado como enfadonho fora do Amazonas quando, na verdade, é obrigação do país repensar seriamente esse tipo de fomento ao desenvolvimento”.
Relembrando o que Marina Silva afirmou quando formalizou a aliança com o PSB, em outubro último – que era a hora do Brasil enterrar a Velha República -, Eduardo Campos revelou que o que está vendo percorrendo o pais nos Seminário Regionais Programáticos é que a Nova República também envelheceu. “É por isso que sem um novo patamar na política não há como começar as mudanças que o povo reclama”, declarou. “O Brasil real clama por uma política que assegure que irá acabar com o fisiologismo histórico, que não irá compactuar com isso. O que falta é cuidar das pessoas com políticas públicas que as libertem”.
Por fim, o socialista garantiu que é possível governar o país sem o presidencialismo de coalizão instalado nas últimas décadas. “A mídia nos questiona todos os dias se vamos conseguir isso. Eu afirmo que sim, que a partir de 1º de janeiro eu e Marina teremos a grande tarefa de unir as boas ideias e as boas pessoas, para que o povo brasileiro consiga olhar para Brasília e se reconhecer no que acontece no Governo da Nação”, concluiu.
MARINA – Antecedida pela interpretação do Hino Nacional por uma índia Tikuna, na língua de seu povo, a agora pré-candidata do PSB à Vice-Presidência da República, Marina Silva, focou a necessidade do país olhar para esse Brasil profundo que ainda vive na Amazõnia. “O nosso programa de governo também precisa abranger os povos indígenas, os seringueiros, os quilombolas, as mulheres quebradeiras de côco, os pescadores, enfim, essas minorias que representam a nossa grande diversidade e riqueza cultural”, defendeu.
Segundo Marina, o Brasil ainda não foi capaz de pensar um projeto político para a região amazônica que se transformasse em políticas públicas de fato. Porém, já tem um bom começo, afirmou, citando o Plano Amazônia Sustentável, elaborado quando ela era Ministra do Meio Ambiente e que envolveu o trabalho de 18 ministérios com o foco justamente na diversidade cultural e na imenso biodiversidade natural da região, no se potencial hídrico, mineral e de turismo, tudo em torno de suas riquezas naturais únicas.
O Plano Amazônia Sustentável, relembrou Marina, era baseado em quatro fatores primordiais – infraestrutura física (hidrovias, estradas, ferrovias, sistemas de comunicação, telefonia e internet); infraestrutura humana (incentivo ao ensino e pesquisa, para que o estado, que produz 9% do PIB do pais, consiga transformar seus recursos naturais em emprego e renda para a população local); ordenamento territorial (acabando com os muitos “andares” de registro e tipo de ocupação da terra que a ilegalidade atual permite); e ampliação dos investimentos públicos, especialmente os federais, na região. “Mas tudo isso com respeito às peculiaridades e diferenciais dessa região. A Amazônia não pode ser transformada num Sul ou num Sudeste. Para que continue sendo a Amazônia, precisa de suporte e sustentabilidade”, apontou.
Marina Silva lamentou que o projeto acabou sendo esquecido pelo Governo Lula, mas defendeu que ele seja retomado agora. “É um plano muito bom, sério e aprofundado para ser jogado na lata do lixo”, afirmou a ex-senadora e fundadora da REDE. “Um dos nossos grandes desafios na região será tirá-lo do papel, pois ele significa olhar para um desenvolvimento diferenciado para a região, que não pode ter um caminho homogêneo, repetir um padrão. O segredo da economia atualmente, em todo o mundo, é justamente a capacidade de ser diversificada – e isso, na Amazônia, é imperativo”.
Sustentabilidade – Nesse ponto, Marina tocou nas críticas que Eduardo Campos recebeu no início da aliança, dos que entenderem que, por ser ambientalista, ela seria contra o desenvolvimento. “Mas é só olhar para o mundo todo para constatar que a sustentabilidade é uma idéia cujo tempo já chegou. E se os políticos não fizerem nada nesse sentido, as empresa irão fazer, a sociedade irá fazer, a economia toda vai se movimentar para o desenvolvimento sustentável. Que nada mais é do que crescer preservando os recursos naturais e aproveitando justamente essa diversidade para gerar riqueza”.
Marina também declarou que está feliz por Eduardo Campos ter se integrado à “nova utopia” que é a sustentabilidade já durante seu segundo mandato no governo de Pernambuco. “Ele convidou o ecologista Sérgio Xavier, um dos fundadores do Partido Verde no Braisl, para seu Secretário de Meio Ambiente”, destacou ela. “E agora, ao construirmos juntos o programa de governo da nossa aliança, não há um ponto, uma palavra sequer com a qual eu não tenha concordado no documento. Porque é o programa de governo que nos une, ele é o nosso legado ao povo brasileiro. Tanto é que, mesmo que eu não fosse a sua Vice na chapa, mesmo assim eu estaria defendendo a sua candidatura em função desse documento”.
A ex-senadora concluiu o seu discurso no 4º Seminário Regional Programático convidando a todos a dar um salto de qualidade na participação política. “Nós já tentamos mudar o Brasil e construir o país que queremos apoiando indivíduos, depois apoiando partidos e vimos que não funcionou. Agora não é mais o ‘junte-se a mim’ nem o ‘junte-se ao nós' o que precisamos; a expressão certa é: ‘Junte-mo-nos todos para, juntos, mudar o nosso país”, conclamou ela. “Se conseguirmos a vitória em 2014, não será graças ao uso da máquina estatal nem do tempo de TV, mas ao nosso verdadeiro parceiro – o povo brasileiro. Nos ajudem a ser, de fato, essa mudança”!