Em entrevista exclusiva ao jornal Valor Econômico, concedida à jornalista Andrea Jubé e publicada nesta quinta-feira (9), o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirma que a proposta de reforma da Previdência do governo de Jair Bolsonaro “é um desmonte do sistema de seguridade social”. Confira abaixo a íntegra:
PSB lança campanha contra reforma
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, admitiu, em entrevista ao Valor, a necessidade de mudanças nas regras previdenciárias, mas rechaça a proposta formulada pelo governo porque desmonta a seguridade social. Ontem o PSB lançou a campanha “Essa reforma da Previdência não” nas redes sociais, na tentativa de estimular uma mobilização popular contra a proposta governista. Siqueira também confirmou a pré-candidatura do ex-governador Márcio França à Prefeitura de São Paulo, e afirmou que o PSL não repetirá o mesmo desempenho do ano passado nas eleições municipais.
“Achamos que periodicamente, assim como vem acontecendo desde o governo Fernando Henrique Cardoso, e passando pelos governos Lula e Dilma, há que se fazer um aperfeiçoamento da legislação previdenciária para que ela se mantenha sustentável”, reconheceu o presidente do PSB. “Mas essa reforma é na verdade um desmonte do sistema de seguridade social: saúde, previdência e assistência social”, completou.
Siqueira disse que é preciso fazer uma reforma “em função da idade”, já que aumentou a expectativa de vida dos brasileiros. Mas ressalvou que o problema do Brasil é fiscal, que seria resolvido com uma “ampla reforma tributária”.
“Em vez de o governo propor o ajuste da idade que é necessário, propõe a redistribuição da seguridade social, isso o Partido Socialista não pode aceitar”, esclarece.
Com a sexta maior bancada da Câmara, com 32 deputados, o PSB fechou questão contra a reforma. Ontem o partido começou a impulsionar nas redes sociais e nos grupos de troca de mensagens cinco vídeos curtos, de até dois minutos, expondo os motivos pelos quais o partido se opõe à reforma do governo de Jair Bolsonaro.
Um dos vídeos ataca, especificamente, a proposta de criação de um modelo de capitalização, que segundo o partido, privilegiará a elite. “Só pra você lembrar, um sistema parecido foi implantado no Chile durante a ditadura militar de Pinochet, ainda na década de 80. Hoje, o Chile sofre com o suicídio de idosos”, adverte o filme institucional.
Siqueira descarta o apoio do PSB até mesmo a um substitutivo que exclua pontos aos quais se opõem a maioria dos partidos, como as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e na aposentadoria rural. “Sou um pessimista sobre termos um relatório aceitável”. Ele ressalta que excluídos esses dois pontos, os demais que remanescem são igualmente graves, como a mudança de cálculo das pensões, que segundo ele serão achatadas. O PSB também se opõe à desconstitucionalização das regras previdenciárias.
O dirigente acredita, entretanto, que alguns pontos da reforma serão aprovados. “A desarticulação do governo é muito evidente, mas pode ser que se eles mudarem a articulação, alguma coisa passe”. Ele já vê mudanças na articulação porque Bolsonaro cedeu ao toma-lá-dá-cá em cargos pelo interior do país.
Sobre as eleições municipais, o dirigente confirma que tem estimulado a candidatura de Márcio França. “Ele teve um protagonismo muito interessante nas eleições passadas, e só não ganhou por conta da onda conservadora que tomou conta de São Paulo, e não é a primeira vez: nunca o país foi tão conservador e tão complicado”, justificou.
Questionado sobre um eventual embate entre França e a líder do governo no Congresso, deputada Joyce Hasselmann (PSL) para a Prefeitura de São Paulo, Siqueira pondera que a parlamentar – que teve mais de 1 milhão de votos na última eleição – não aparece na liderança das primeiras pesquisas. Ele acrescenta que ainda tem tempo para que comecem a surgir as “consequências do fracasso desse governo”.
Ele diz que dificilmente o PSL voltará a sair consagrado das urnas nas eleições municipais porque as políticas que estão sendo adotadas não levam a vitórias eleitorais. “A gente quando tem uma certa idade tem pouquíssimas vantagens, mas uma delas é a de ter assistido a esse filme em outras oportunidades”. Segundo Siqueira, as políticas neoliberais do ministro Paulo Guedes não dão certo num país com as graves desigualdades sociais como as do Brasil.
Em 2022, ele espera que o PSB lance a candidatura própria de Joaquim Barbosa, que começará a participar das atividades do partido no conselho de políticas internacionais. “Time que não joga não tem torcida, precisamos botar o nosso time na rua”, defendeu.